terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cornos (Joe Hill)

Depois de uma noite marcada pela companhia do álcool e por alguns actos irracionais, Ignatius Perrish acorda com uma dor de cabeça que se deve a bem mais que uma simples ressaca. E, quando olha para o seu reflexo no espelho, descobre que lhe nasceram cornos. Mas, e por mais estranho que isso possa parecer, não é esse o seu maior problema. Aqueles com quem se cruza parecem sentir um impulso irresistível de revelar o que realmente pensam e, quando lhes toca, Ig consegue descobrir os seus segredos. É assim que começa a descobrir a verdade sobre a morte da sua amada, crime do qual muitos pensam ser ele o culpado. E se não encontrou no bem alívio para a sua dor ou compensação para a sua perda, talvez seja nos seus novos poderes diabólicos que Ig encontrará a sua vingança.
Com um início bastante apelativo e uma história que se torna progressivamente mais complexa e intrigante, este é um livro que cativa, não necessariamente pela natureza de cada personagem, mas pela estranha forma como interagem, ligando humor e horror, numa teia de amores, ódios e vinganças. Ig não é propriamente alguém que desperte uma grande empatia, já que, apesar de ter os seus momentos marcantes, também tem alguns que são tudo menos correctos. E se Ig é uma personagem que, apesar da índole demoníaca dos seus novos apêndices, não é inteiramente malévolo, já Lee Tourneau, é puramente detestável, o que faz com que os confrontos entre ambos sejam sempre intensos e surpreendentes.
Existem algumas oscilações no ritmo dos acontecimentos, principalmente quando o autor decide percorrer o passado de alguém relevante para a história. E ainda que estes elementos se venham a revelar importantes numa fase final esclarecedora, onde a motivação de alguns actos e o verdadeiro teor de alguns segredos são finalmente apresentados, dá origem a um final de grande impacto, o facto é que estes recuos ao passado, principalmente o primeiro, que acontece quando pouco é sabido sobre Ig e as mudanças nele operadas, acabam por quebrar parte da envolvência da história principal.
Ainda uma referência aos pequenos detalhes que, aos poucos, são deixados como pistas acerca de quem (ou o quê) se tornou Ig a partir do momento em que o seu novo poder despertou. Pequenos aspectos como a mensagem na casa da Árvore do Pensamento (e respectiva assinatura) ou a interacção de Ig com o fogo são elementos que apontam com bastante clareza para uma natureza que, apesar de um pouco previsível, não deixa de intrigar pela forma como é abordada.
Interessante, envolvente e, nalguns momentos, arrepiante, Cornos é um livro que, apesar de algumas quebras de ritmo, cativa pela forma como momentos divertidos, situações emotivas e cenários tenebrosos se conjugam para criar uma intrigante história sobre a natureza do bem e do mal... que vivem dentro de cada um. Gostei.

1 comentário:

  1. Engraçado, sou fã do pai dele(assim como milhões de outros leitores lol) mas este livro não me cativa à primeira vista e mesmo depois de ler a tua opinião, continuo sem vontade de o ler....

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