terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coração em Segunda Mão (Catherine Ryan Hyde)

Vida tem 19 anos e um coração frágil. Não lhe resta muito tempo de vida, a não ser que apareça um coração compatível. E, quando a esposa de Richard morre num acidente de viação, a tragédia de Richard parece ser a salvação de vida. Mas a operação não é o fim de uma história, mas apenas o início. E, enquanto Vida descobre que, fechada em casa com as suas fragilidades, o que conhece do mundo é muito pouco, Richard tem de lidar com o vazio e a sensação de perda. Ao mesmo tempo que novos sentimentos e memórias parecem brotar do coração de Vida. De um coração que não era seu.
São os sentimentos a grande força desta história, de um livro que, contado a duas vozes, parece ir ganhando intensidade à medida que os protagonistas vão sendo revelados na sua verdadeira natureza. Tudo começa com o diário de Vida, e a primeira impressão que passa é que, apesar dos seus dezanove anos, o tempo que passou sob a protecção quase excessiva da mãe não permitiu que crescesse. E a sua descoberta de que afinal vai viver, mesmo quando já se preparava para a morte inevitável, será o desencadear de toda uma busca por algo que não reconhece, mas que é, afinal, a aceitação do seu novo coração.
Se é verdade que uma história como esta apela à empatia do leitor, este sentimento não se dirige directamente aos protagonistas senão numa fase mais avançada do livro. Claro, Vida esteve à beira da morte e Richard acaba de perder uma pessoa amada. Mas o impacto destas circunstâncias nas suas personalidades não se revela tão cedo como seria de esperar. O que surge em primeiro lugar é a estranheza, a tensão de uma situação invulgar, e é também esta imperfeição de circunstâncias que confere realismo à história. Afinal, ninguém reage sempre como é suposto.
Mais que de amor, e para lá da perda, esta é também uma história de memória. De memória dos bons momentos que se partilham ao longo da vida, mas, acima de tudo, de recordações capazes de permanecer para lá da tragédia. Aqui, a autora utiliza a teoria da memória celular para invocar um passado especial, algo que permanece, ainda que a vida se tenha perdido. E, ao não apresentar o final demasiado perfeito que, por vezes, se insinua em alguns acontecimentos, há ainda uma outra força nesta história. Talvez seja pelo melhor que a história de cada personagem acaba como acaba... mas serve também para mostrar que não existem finais completamente cor-de-rosa.
Envolvente e de grande força emotiva, uma leitura cativante. Fica apenas a sensação de que haveria ainda muito mais a contar sobre a história de Vida e de Richard. Afinal, a vida de ambos parece ter agora acabado de começar... Mas é, também, essa a mensagem deste livro: se as segundas oportunidades existem, então vale sempre a pena recomeçar.

Novidade Porto Editora

No arranque do prefácio, que assina, o conhecido escritor portuense Mário Cláudio diz que “faltou ao Porto um ilustrador da estirpe de Gustave Doré, capaz de tecer com as luzes e sombras do Burgo a verdadeira, e arquetípica, identidade que lhe assiste”. Uma falta que é, de certa forma, colmatada com o olhar único de Germano Silva sobre uma cidade que se entranha no leitor a cada página deste Porto: História e Memórias.
Nas crónicas reunidas neste livro, o autor (e também jornalista) apresenta alguns dos lugares mais simbólicos da cidade – e em cada rua, largo, igreja ou monumento encontra forma de nos levar ao passado, dando a perceber o quotidiano dos portuenses à época. Sempre numa prosa que, nas palavras de Mário Cláudio, se apresenta “rigorosa na formulação porque amparada na análise dos factos, e servida pela prosa desvelada que deve ser a dos que escrevem na língua-mãe”.
Em Porto: História e Memórias, Germano Silva assume-se como o guia perfeito que nos conduz pelas ruas da Invicta, revelando os segredos e as origens de locais onde se sente a história da cidade e das suas gentes.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Malinche (Laura Esquivel)

Após a morte da avó, Malinalli é oferecida como escrava pela própria mãe. Mas este abandono não será a sua desgraça. Destinada a servir Cortès, Malinalli servirá de intérprete entre os conquistadores e os indígenas. Para ela, Cortès é o seu deus que regressa para devolver ao seu povo a tranquilidade. Mas cedo descobrirá que, apesar da estranha relação que se estabelece entre ambos, os interesses do seu senhor são bem menos divinos.
Apresentando uma visão bastante particular da conquista, é na contextualização da época que este livro tem o seu grande ponto forte. Tradições, rituais, deuses e crenças são explicados de forma bastante precisa, colocados em evidência pelas claras diferenças que existem entre os conquistadores e o povo de Malinalli. A fé de Malinalli é, na verdade, a grande base da sua ilusão, julgando através das semelhanças entre Cortès e o seu deus, que serve um libertador, quando não podia estar mais errada nos seus pensamentos. E também as mudanças causadas pelo seu percurso influenciam o crescimento da protagonista: do abandono ao perdão, da submissão à coragem, do vazio à felicidade.
Apesar de ser um livro onde, para lá do contexto histórico, a mensagem emocional pretende desempenhar um papel importante, a verdade é que não senti grande empatia para com as personagens. Talvez devido aos saltos temporais (principalmente nos primeiros capítulos) ou a uma predominância de caracterização histórica em detrimento dos elementos mais humanos, a verdade é que toda a relação entre Cortès e Malinalli (mesmo nos seus melhores momentos) e até mesmo os acontecimentos mais negros parecem ser apresentados com uma certa distância, como simples factos sem grandes emoções associadas.
Uma leitura interessante, particularmente pela descrição das tradições e crenças de dois povos em colisão, mas que deixa a sensação de que os protagonistas são secundários em relação à história global. Interessante o suficiente, mas não me cativou por completo.

Convite

domingo, 28 de novembro de 2010

O Jogador de Râguebi (Óscar Bustamante)

Enquanto os pais, decididos a recuperar a estabilidade do seu casamento, partem numa viagem pelo mundo, António é deixado num colégio interno católico em Inglaterra. Mas Glee Hill, contrariamente ao que o nome parece indicar, não é de todo um lugar feliz, principalmente para um estrangeiro. Sem poder contar com mais que a sua própria vontade, António terá de suportar os ataques e provocações dos colegas, o desprezo de alguns professores, a solidão de estar num lugar onde não pertence e o estranho interesse que um dos professores parece ter por si. Apenas no râguebi parece alcançar algum sucesso. Mas será suficiente para suportar as dificuldades de Glee Hill?
Personagens bastante jovens num cenário fundamentalmente escolar poderiam dar a impressão de que esta fosse uma leitura leve. Mas não é. O ambiente de Glee Hill é opressivo e sombrio, não pelo cenário, mas pelas situações criadas no seu interior. A mentalidade antiquada associada à maioria dos padres, aliada a algum secretismo no que toca às relações entre alunos e realçada pela estranha obsessão que o Father Leven parece demonstrar por António criam uma sensação global de tensão quase constante, tensão que aumenta consideravelmente quando associada aos conflitos que surgem entre os próprios alunos (e que parecem ter como alvo principal António e os seus poucos amigos).
Também a natureza dos próprios amigos de António, caracterizados de uma forma bastante completa através das atitudes que demonstram, parece contribuir para o realçar da sua solidão. Reed, com a sua compulsão para o debate, manipula os sentimentos de amigos e inimigos e, enquanto anuncia que tudo o que faz é para o bem do amigo, reflecte, nos seus actos, um interesse centrado numa vitória que só ele parece vislumbrar. Já Vinski parece ser bem menos egoísta, mas o passado marcou-o com a constante sensação de não estar onde pertence. E, rodeado por amigos que não o entendem por completo, alvo de uma defesa demasiado interessada por parte do seu professor e desprezado pela vasta maioria dos colegas, António simplesmente sobrevive a cada momento.
Uma história de crescimento perante dificuldades, bastante marcante nos seus momentos mais intensos, mas com um ambiente geral obscuro e perturbador. Um livro que faz pensar sobre o que há de pior na natureza humana... mesmo quando se reflecte nas pequenas coisas.

sábado, 27 de novembro de 2010

Branca como a Neve, Vermelha como o Sangue (Alessandro D'Avenia)

Leo não gosta do branco. Para ele, branco é a cor do silêncio, dos dias inertes em que nada acontece. Já a amizade é azul, o azul que vê nos olhos da sua amiga Sílvia. E o amor... o amor é Beatrice, e é vermelho como o sangue. Mas a solidão dos seus dias brancos vai alterar-se. E tudo começa com a chegada de um novo professor que, com as suas ideias invulgares, parece indicar o caminho do sonho. De um sonho que dói, mas que parece ser tudo o que importa.
Centrado essencialmente na força emotiva dos acontecimentos, este não foi, ainda assim, um livro que me cativasse desde a primeira página. A escrita é bastante simples, como reflexo da voz narrativa de Leo, um protagonista que começa por surgir como alguém inconsequente e algo irresponsável. Mas o crescimento de Leo é uma parte fundamental desta história e se, ao início, o seu comportamento não desperta grande simpatia, tudo isso muda quando a sua história e a de Beatrice se cruzam.
Porque Beatrice é o sonho, o alvo do sentimento que, para Leo, parece ser o único verdadeiramente importante dentro de si. E a história das fragilidades desta menina, uma história de dor demasiado precoce, de uma luta contra a morte que parece ser inevitavelmente inútil é a força que impulsiona Leo para se transformar na pessoa que deve ser. Porque o encontro entre a sua natureza impulsiva e a doçura quase impossível de Beatrice acabam por ser a razão do sonho e o impulso para o crescimento.
Mas, por entre as redes do amor e da morte, há também a amizade e Sílvia reflecte muito bem esse apoio às vezes tão necessário que é ter a certeza de um amigo à espera, nos bons e nos maus momentos. Ainda que, por vezes, os sentimentos não sejam o que parecem e até a mais sólida das ligações possa falhar.
Um livro leve, com uma escrita muito simples e que, talvez pela necessidade de reflectir o crescimento do próprio protagonista, demora o seu tempo a ganhar intensidade. Ainda assim, uma história que marca pela força dos sentimentos que contém e que, apesar da sua aparente simplicidade, não deixa de reflectir uma importante parte da natureza humana: a emoção.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Deixa-me Entrar (John Ajvide Lindqvist)

Oskar é um rapaz de doze anos. Tem uma imaginação fértil, gosta de livros de terror e é maltratado na escola pelos colegas. Até que, um dia, conhece Eli, uma rapariga estranha, mas que, com o seu estranho fascínio, parece ser a hipótese de criar uma verdadeira amizade. Mas anda um assassino à solta em Blackeberg e, de acontecimento em acontecimento, as coisas tornam-se progressivamente mais estranhas e Eli... Eli não é uma rapariga normal.
Misterioso e intrigante desde a primeira página, Deixa-me Entrar apresenta uma história complexa, onde situações macabras e simplesmente revoltantes são tratadas como parte da normalidade e onde nem as crianças são completamente inocentes. E, contudo, apesar do imenso potencial de choque que vai sendo revelado ao longo de toda esta história, a forma como o autor a apresenta, sem dramatismos, sem elaborações desnecessárias, parece tornar tudo estranhamente próximo. É como se tudo fosse aceitável e normal e acaba por ser essa mesma sensação a deixar no leitor o máximo de impacto. Não são as mortes macabras nem a tensão do medo inevitável. É a forma quase natural como a sociedade aceita o impossível, da mesma forma que tolera situações de miséria e de transgressão, como se simplesmente não as visse.
Há muito mais que a história de Eli neste livro. E se as revelações acerca desta criança são, por si só, base de uma linha narrativa intensa e surpreendente, não menos o são os acontecimentos que envolvem a história de Lacke e Virginia, a recusa obsessiva de Tommy em aceitar a relação da mãe, ou até a história do assassino que, por meios aparentemente impossíveis, consegue evadir-se à morte. Cada um destes elementos, ligados para criar um retrato global de um cenário onde quase tudo parece ser permitido, é, por si só, uma parte relevante e interessante de um livro que é, todo ele, uma visão impressionante de um mundo particularmente insensível.
Intenso, perturbador, complexo e, ainda assim, de uma fluidez impressionante, um livro que marca pela quase inocência de alguns momentos, pela passividade com que muito de crueldade é aceite sem grandes reacções e, principalmente, pela forma como a realidade se liga ao impossível numa história toda ela muito impressionante. Muito bom.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Mestre de Música (Vasco Graça Moura)

Alexandre acaba de vir ao mundo quando a sua mãe recebe a notícia da morte de Jacinto, o suposto pai da criança. Este infeliz acontecimento serve, então, como justificativa para abandonar o recém-nascido, já que Mariana não parece estar disposta a aceitar a responsabilidade de criar a criança. E assim começa uma história de interesses e mal-entendidos, onde Alexandre é a base dos acontecimentos.
Simples e directa, esta é uma história onde, apesar de várias personagens se cruzarem numa série de linhas de interesses em conflitos, a narrativa acaba por se resumir num livro relativamente pequeno. O autor diz-nos o essencial, que são os acontecimentos, sem grandes descrições ou situações de emoção. E é por isso que, apesar das múltiplas confusões e equívocos que definem, afinal, esta história, a experiência de leitura acaba por ser bastante breve.
Não há muito que dizer sobre as personagens, já que a caracterização acaba por ser feita pelas relações que se vão estabelecendo. A situação de Mariana, com os seus vários laços amorosos (que são, na verdade, a base de muitas das dúvidas sobre a paternidade do bebé) é, no fundo, o elo que liga todas as personagens, desde o falecido Jacinto à perturbada Leonor, passando, como não podia deixar de ser, pelo mestre de música que dá título ao livro.
Mas, se a escrita directa e sem grandes elaborações propicia a uma leitura mais leve e agradável, há, por outro lado, e principalmente na fase final, a sensação de que mais poderia ser dito. A narrativa encerra com um momento de grande intensidade, mas que deixa a impressão de terminar demasiado depressa.
Com uma história bastante interessante e uma escrita muitíssimo agradável, um livro cativante, mas que parece acabar demasiado cedo. Ainda assim, gostei.

Convite

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As Pegadas do Morto (Peter James)

Muitos perderam alguém nos atentados de 11 de Setembro de 2001. Ronnie Wilson, contudo, aproveitou o caos para resolver os problemas de toda uma vida e simplesmente... desaparecer. Começar de novo. Mas, seis anos mais tarde, dois corpos são descobertos e, enquanto todas as pistas parecem apontar para um assassino que já não existe, há uma mulher ambiciosa apanhada numa fuga desesperada. E cabe a Roy Grace resolver estes mistérios.
Com uma história bastante complexa, onde várias linhas de enredo se vão progressivamente cruzando para revelar pontos comuns, este é um livro que, inicialmente, pode parecer um pouco confuso. O autor oscila entre diversos locais e personagens, e até entre 2001 e 2007, de modo a caracterizar, de forma gradual e mantendo o suspense, personagens, situações e elos de ligação. E se isto faz com que demore um pouco mais a criar aquele interesse envolvente no que sucederá a cada personagem, quando os principais intervenientes nesta história se tornam familiares, o elo torna-se intenso e viciante.
Roy Grace, enquanto investigador, é um indivíduo bastante interessante. Não sendo daqueles protagonistas carismáticos que despertam um fascínio quase instantâneo, cativa, gradualmente, pela sua história e, principalmente, pelas barreiras e conflitos que, ao longo desta história, vão surgindo no seu caminho. E esse é um dos factores intrigantes deste livro, ainda que, no surpreendente final acabe por ser revelado o quão pouco foi dado a conhecer sobre a desaparecida Sandy (ex-mulher de Grace). Grace é mais que um detective empenhado. A sua história passada e as lealdades (e inimizades) que foi conquistando fazem parte daquilo que é e, portanto, da sua humanidade.
Interessante, ainda que inicialmente um pouco confuso, misterioso e surpreendente em vários momentos, um livro onde muito pouco é aquilo que parecia inicialmente e onde a resolução do mistério não é o único elemento relevante. Gostei.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nasci para Nascer (Pablo Neruda)

Toda uma vastidão de temas e reflexões, em formas tão díspares como o discurso, o poema, o ensaio e a narrativa de viagem, num conjunto de cadernos que apresentam um retrato claro e completo do autor por detrás das palavras e que complementam a imagem já transmitida por Confesso que Vivi. Um livro onde cada texto é, por si só, uma imagem do poeta, mas que cria uma imagem global impressionante não só do homem, mas do mundo em que viveu.
Os lugares mais marcantes que visitou, os escritores que mais admirava, a sua posição acerca da cultura e da política e até mesmo a sua visão do conflito político no Chile, visão que lhe viria a causar sérios problemas. Todos estes elementos são explorados ao longo dos textos que constituem este Nasci para Nascer e há, em cada um deles, mais que a simples beleza de uma escrita cativante. Há uma mensagem forte, uma presença que não pode ser apagada. A força de um homem que reflecte, em cada frase, o seu apego às raízes, o seu amor ao país a que chamou pátria, a sua devoção à poesia enquanto arte e enquanto forma de luta, e, acima de tudo, a firmeza inabalável dos seus princípios.
Desde os textos mais introspectivos aos discursos mais exaltados, este livro reflecte Neruda em toda a sua intensidade de homem que, para lá da poesia (e, talvez, através dela) via e defendia o povo a que pertenceu. E é essa mesma força que, mais que as palavras em si, transmite uma mensagem global de perseverança e de luta, na voz de um autor que, em todos os seus sucessos, nunca se elevou a si próprio enquanto indivíduo, mas à totalidade da sua gente.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Afirma Pereira (António Tabucchi)

O ano é 1938. Espanha encontra-se sob uma guerra civil. E, em Portugal, o Dr. Pereira está agora à frente da página cultural do Lisboa, um jornal independente. Pereira é um homem sem qualquer interesse político, mas, a partir do momento em que conhece Monteiro Rossi e Marta (a sua namorada), o jornalista acaba por ser, sem saber como, arrastado para os problemas do casal. Porque, sob a mordaça do regime, a ousadia de pensar de forma diferente pode ter graves consequências.
Com uma escrita belíssima e uma mensagem muito forte, este é um livro estranhamente viciante. O cenário geral é tudo menos leve e, à medida que a história evolui, é impossível evitar a sensação de que algo de mal está para acontecer. Ainda assim, há pequenos momentos de uma tal tranquilidade que a ideia da tragédia iminente acaba por se tornar fundamentalmente um meio de transmitir a mensagem da liberdade.
Do protagonista, há que dizer que não é exactamente um indivíduo do tipo corajoso. Se há alguém que desde cedo surge como admirável (apesar das suas falhas), não é Pereira, mas sim os dois dissidentes que invadiram a sua vida. E é das suas fortes convicções, que mudarão de forma impressionante a forma como Pereira vê o mundo, que vive a grande força deste livro.
Esta é, em suma, uma história de opressão, ainda que também de libertação. Porque, mesmo quando há forças poderosas em acção, há sempre também um princípio por que vale a pena lutar. E é essa, afinal, a grande lição da história do Dr. Pereira.

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domingo, 21 de novembro de 2010

O Jogo Favorito (Leonard Cohen)

Esta é a história de Lawrence Breavman. Para ele, a vida é feita de jogos. Brincadeiras infantis, jogos de adultos, desafios perigosos... Desde a infância até à idade adulta, Lawrence vive uma vida atribulada, entre memórias de um passado agitado e um presente passado entre amores que talvez não o sejam e a simples adoração que o invade perante o corpo de uma mulher.
Poder-se-ia dizer que este livro é uma história de crescimento, não fosse o estranho percurso de Lawrence deixar, por vezes, a dúvida: Terá ele alguma vez chegado a crescer? E é através de fragmentos da sua história, de um enredo que é tudo menos linear e onde passado e presente se cruzam num emaranhado, por vezes, confuso, que o autor vai contando, de momento em momento, as situações mais marcantes da vida do seu protagonista, ao mesmo tempo que, na estranheza das suas atitudes, define, aos poucos, uma natureza peculiar.
Há um estilo muito próprio na escrita de Leonard Cohen. Por vezes intensamente poética, por vezes precisa e sem rodeios, é como se a própria voz narrativa se adaptasse às oscilações de temperamento do protagonista. Lawrence sente, com toda a intensidade. Conhece o desejo, conhece o impulso da acção nas situações mais improváveis. Por vezes, parece até conhecer o amor, ainda que haja nesse aspecto uma dúvida constante. E se, inicialmente, a constante mudança entre infância, adolescência e idade adulta (não necessariamente por esta ordem) torna a leitura um pouco confusa, a partir do momento em que se assimila o estilo do autor, reconhecendo e situando cada personagem na linha temporal, seguir a estranha história de Lawrence torna-se surpreendentemente fácil. E, ainda que este não seja propriamente um protagonista que inspire empatia imediata, não deixa de ter os seus momentos marcantes.
Marcante principalmente pelo estilo cativante e harmonioso da escrita, O Jogo Favorito é uma história que, passadas as dificuldades do caos inicial, compensa amplamente o esforço de começar a conhecer o seu mundo. Uma história de sentimentos, ainda que não os melhores, e que reflecte, essencialmente, as fragilidades e contradições da natureza humana.

sábado, 20 de novembro de 2010

Novo romance histórico de Cristina Torrão

«E este foi o melhor rei e mais justiceiro e mais honrado que houve em Portugal desde o tempo do rei D. Afonso, o primeiro»
(D. Pedro, Conde de Barcelos)

D. Dinis, sexto monarca português, marcou profundamente a consolidação do reino através dos seus quarenta e seis anos de governação. Fundou a primeira universidade portuguesa, substituiu o latim pela língua portuguesa nos documentos oficiais, reformou quase todos os castelos, foi um diplomata de excepção, admirado, inclusivamente pelo Papa, incrementou a agricultura, a pesca e o comércio, amante da poesia e da música, ficou imortalizado pelos seus cantares.

Mas a tragédia também assolou a sua alma, primeiro foi o conflito armado com o irmão, no final da vida, a dilacerante guerra com o seu próprio filho herdeiro. A seu lado, estava uma rainha de excepção, Isabel de Aragão, com a qual nem sempre as relações foram fáceis…

Neste romance, o leitor é conduzido à intimidade de um Rei justo, sábio e poeta. Nunca a esfera íntima de D. Dinis foi descrita com tanto detalhe e faceta humana.

Disponível nas livrarias a partir de fins de Novembro.

Evernight (Claudia Gray)

Tudo começa quando, segura de que nunca se conseguirá enquadrar no colégio interno sinistro que é Evernight, Bianca decide fugir. Mas o plano não é assim tão bom e tudo o que consegue com a sua tentativa de fuga é conhecer Lucas, também ele um novo aluno e que parece detestar tanto como ela aquela escola sombria. E, entre os problemas que parecem ter com os colegas e a descoberta do forte sentimento que parece ter nascido entre ambos, Bianca e Lucas guardam segredos bem mais complexos que o simples drama das suas vidas em Evernight.
O que de mais marcante surge neste livro será, sem dúvida, a forma como a autora consegue surpreender. Ao início, tudo aponta para que este seja mais um simples romance de adolescentes onde algum elemento sobrenatural irá complicar a situação. E esse romance existe, de facto, mas existem elementos bastante mais intrigantes para lá do aspecto. Contrariamente ao que a situação inicial pode fazer pensar, as coisas não são propriamente lineares e os elementos sobrenaturais estão, em grande parte, onde menos se espera. E, através de uma escala de mentiras progressivamente mais preocupantes, a autora consegue desviar a simpatia do leitor de uma para outra personagem, para terminar de uma forma que deixa muito em aberto... e também muita curiosidade.
Claro que existem vários elementos comuns com muitos outros livros deste género, a começar pela escola onde os sobrenaturais se reúnem para completar a sua aprendizagem e passando pela habitual impossibilidade do amor entre duas personagens de mundos diferentes. Mas, de surpresa em surpresa (ainda que após um início um pouco mais parado), a autora vai acrescentando novas particularidades ao seu mundo e a história vai-se tornando mais envolvente à medida que as características tanto do sistema vampírico como dos seus inimigos vão sendo reveladas.
Envolvente, com uma escrita bastante acessível, mas de leitura agradável, um livro que surpreende à medida que vai acrescentando segredos e revelações numa teia de mentiras que, ainda que deixe várias questões por responder, dá início a uma história com bastante potencial.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Novidades Bertrand

A obra literária de Maria Teresa Horta tem frequentemente contribuído para alterar os modelos estéticos ou comportamentais instituídos e tem muitas vez sido, ao longo das últimas décadas, um sinalizador de mudanças essenciais, quer no âmbito literário, que inclusivamente de alcance social.

A Paixão Segundo Constança H. traz consigo toda a violência e todo o sofrimento daquele a quem coube em sorte viver num mundo em transformação, onde os valores tradicionais da família e os afectos a que nos tínhamos habituado a considerar mais estáveis resvalam, gradualmente, para um terreno movediço e irrespirável.

Considerado o primeiro romance moderno, D. Quixote de La Mancha foi eleito em 2002 o melhor livro de todos os tempos por um conjunto de cem escritores nomeados pelo Instituto Nobel. D. Quixote, um fidalgo de Castela assanhado pela leitura de romances de cavalaria, decide que é seu "ofício e exercício andar pelo mundo endireitando tortos, e desfazendo agravos" e parte à aventura na companhia de seu fiel e prosaico escudeiro, Sancho Pança. As hilariantes maluquices do Cavaleiro Andante liquidam, com a sua "moral do fracasso", as últimas ilusões da epopeia: aquilo a que Adorno chama "a ingenuidade épica". Depois de D. Quixote , nada mais será igual.

Convite

Calista, a Escultora Grega (John Henry Newman)

Sica. Século III. Uma nova perseguição aos cristãos está em vias de ter início. Calista, jovem escultora grega, vive, com o irmão, do trabalho de decoração e acabamento de estátuas dos mais variados deuses. Mas Agélio, cristão de fé vacilante, anseia por casar com a jovem grega e por a converter à sua religião, ainda que essa mesma conversão seja o primeiro passo para uma morte dolorosa.
John Henry Newman, cardeal católico do século XIX, contou, nesta narrativa, todo um percurso de descoberta e conversão por parte da mulher que viria a ser conhecida como Santa Calista. E se há algo em que o autor foi particularmente bem sucedida, foi na caracterização não só do cenário, mas também do pensamento da época. As descrições são claras e detalhadas, tanto nos aspectos mais belos da paisagem como nos mais tenebrosos da perseguição. E, ainda que esta caracterização se torne por vezes exaustiva, correspondendo a uma parte muito extensa de toda a narrativa, há uma certa envolvência poética na forma como os locais são apresentados.
O enredo, por outro lado, tem alguns elementos de estranheza. Tanto Calista como Agélio são personagens interessantes, mas, na imperiosa necessidade de explicar os motivos da conversão e uma possível representação do que seria, na época, a fé cristã, há, por vezes, comportamentos contraditórios da parte das personagens, aparentemente com o objectivo de encaixar nas questões teológicas abordadas ao longo do texto. E esta constante tentativa de inserir, até no mais simples dos pensamentos, uma mensagem religiosa, acaba por afastar uma boa parte da envolvência que poderia surgir entre o leitor e os protagonistas.
Uma leitura interessante, principalmente pelo poder das descrições e por alguns momentos de caracterização de personagens. Muito bem escrito, e cativante em vários momentos, não deixa de ter os seus pontos de interesse. Ainda assim, alguns excessos a nível de mensagem religiosa acabam por se tornar cansativos.

Sextante reedita Nove Mil Passos

Nove mil passos, romance de estreia de Pedro Almeida Vieira – agora com uma revisão profunda –, constitui um repositório dos tempos de fausto do Rei-Sol português, envoltos em beatices, intrigas, libertinagens, superstições, perseguições e desgovernos, tendo como pano de fundo a história da construção do Aqueduto das Águas Livres, relatada pelo espírito irónico e mordaz (e também interventivo) de Francisco d’Ollanda.

Convite

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Novidade Gailivro

UM GUERREIRO MÍTICO QUE TUDO ENFRENTARÁ PARA A POSSUIR…
Depois de sofrer anos de tortura às mãos da horda vampírica, LachlainMacRieve, líder do clã de lobisomens, está furioso. Ele descobriu que a companheira, que lhe estava predestinada e pela qual esperou um milénio, é uma vampira. Ou meia vampira.
Emmaline é pequena, etérea, meio valquíria, meio vampira, mas de certo modo acalma a fúria que arde dentro dele.

UMA VAMPIRA ENREDADA NA SUA MAIS SELVAGEM FANTASIA…
Emmaline Troy sempre foi protegida e, finalmente, partiu à descoberta da verdade sobre os pais, até que um poderoso lobisomem a reclama como companheira, forçando-a a regressar com ele ao seu castelo na Escócia. Lá, o medo face ao seu raptor e aos seus obscuros desejos cedem lentamente perante uma corte sedutora que a fará aperceber-se dos seus anseios mais secretos.

UM DESEJO QUE TUDO CONSOME…
Mas um mal antigo do seu passado reaparece… Será que o seu desejo consegue levar um guerreiro orgulhoso a render-se e a transformar uma criatura gentil e frágil na guerreira que ela nasceu para ser?

Bang! 8

Depois de algumas mudanças ao longo do percurso da revista, a Bang! (agora gratuita) regressa em força, com uma tiragem de 8500 exemplares, distribuição nas Fnac, um visual bem apelativo e, principalmente, conteúdos interessantes. Nos últimos dias, tive a oportunidade de ler a revista do início ao fim e, tanto em termos visuais como de conteúdo, o resultado desta nova mudança parece-me ter sido claramente positivo. Mas vamos por partes.
Depois de uma interessante introdução ao percurso não só da revista, mas também da própria colecção Bang! (apresentado no editorial), uma breve apresentação do trabalho de Alejandro Dini (autor da capa), e de uma breve apresentação das novidades da colecção, despertando a curiosidade dos leitores, surge a primeira peça de ficção. O conto é M., de Malária, de José Eduardo Agualusa, e trata-se fundamentalmente da história de um taxista que se torna médico e que, ao receber no consultório um paciente invulgar, acaba por tomar conhecimento da existência de indivíduos... intrigantes. Uma ideia interessante, com uma visão bastante diferente no que a vampiros diz respeito, mas onde faltou aquele factor emotivo capaz de criar laços com o leitor.
Segue-se o artigo A (minha) história de Duna, onde Jorge Candeias, tradutor da obra, conta, de forma descontraída e interessante a sua relação por vezes conflituosa com o livro. Sendo Duna um dos melhores livros que me passou pelas mãos este ano, achei particularmente interessante a forma como as grandes qualidades do livro são apresentadas, mesmo por alguém que, ao que parece, não gostou assim tanto do livro.
Um dos contos que mais expectativas despertou em mim (e que não desiludiu) foi Com a manhã chega a neblina, de George R.R. Martin. Trata-se, essencialmente, de um conto sobre o derrubar de um mito e sobre as mudanças que o conhecimento pode (ou não) trazer. Uma história toda ela muito interessante, mas que marca particularmente pela forma como questiona algumas atitudes de racionalização excessiva, na necessidade quase incontrolável de explicar todos os mistérios.
Segue-se um pequeno texto em que Afonso Cruz fala dos livros que o marcaram. Desperta, de facto, o interesse para Flatland, o livro referido ao longo de quase todo o texto, ainda que deixe a sensação de que poderia ter-se alongado um pouco mais sobre os restantes títulos. Também a secção Távola Redonda, onde vários autores falam das suas experiências de publicação surge como uma ideia muitíssimo interessante e esclarecedora, ainda que pudesse ter sido mais amplamente explorada, dando mais voz aos autores ou até reunindo mais pontos de vista.
A Boa Gente de Sodoma, de Matthew Rossi, pequena e peculiar reflexão sobre os mecanismos das viagens no tempo, é também um texto muito interessante e que levanta várias questões, ainda que, inicialmente, seja ligeiramente confuso.
Segue-se o artigo mais longo (e também o mais completo) da revista. Em Os mundos imaginários do fantástico português (1ª parte), António de Macedo traça um percurso claro e detalhado para o fantástico de língua portuguesa, deixando no ar o interesse para a parte em falta. E se este foi, para mim, o artigo mais interessante da revista, o conto que se segue foi também o que mais me cativou na parte da ficção. Os cascos e o casebre de Abdel Jameela, da autoria de Saladin Ahmed, conta a história de um físico caído em desgraça e de um invulgar eremita, e de como o encontro de ambos revela poderes ocultos, ajudas necessárias e uma recompensa para lá da imaginação. Envolvente, com uma escrita muitíssimo interessante e fascinante do início ao fim, um conto muito, muito bom.
Legolas:rói-te de inveja é um título bastante interessante para o texto em que R.A. Salvatore nos fala de Drizzt e de como este se tornou na mais conhecida das suas personagens. Trata-se de um texto bastante breve onde, além do despertar da curiosidade para a obra do autor, o que mais me chamou a atenção foi a relação que este tem com as suas personagens.
Mais um conto, desta vez de Inês Botelho. Felicidade fala sobre as possíveis associações entre regras de alimentação e medidas de uma felicidade quase obrigatória. Interessante e muito bem escrito, ainda que não me tenha cativado, revela uma interessante visão crítica da sociedade.
A este conto seguem-se mais dois artigos. O primeiro, Nova vaga, novas capas, de Pedro Piedade Marques, fala de uma fase em que as capas de ficção científica não denunciavam à partida o género em que se incluíam, num texto que propicia à reflexão sobre se será possível não julgar o livro (e o leitor) pela capa. O seguinte, Fantasia urbana ou romance paranormal?, de Safaa Dib, apresenta uma clara definição deste sub-géneros em ascensão, apoiada com exemplos de séries já bem conhecidas entre nós.
De As Cidades do Segundo Esquerdo, de Afonso Cruz, um breve conto sobre uma substância chamada Discórdia, fica-me a impressão de uma ideia muito interessante, mas que, na sua excessiva brevidade, não me conseguiu cativar por completo.
A aproximar-se o fim da revista, segue-se uma secção de críticas. A escolha dos títulos é interessante e relativamente variada, mas fica a sensação de que há pouco de opinião e demasiado de síntese dos livros, revelando-se, por vezes, demasiado do enredo. Há ainda um artigo de João Miguel Lameiras sobre a BD The Walking Dead, que, mais uma vez, desperta bastante curiosidade, mas revela demasiado sobre alguns aspectos do enredo.
E, para terminar, fica uma sugestão da Fnac, que não posso deixar de subscrever, sendo Anne Bishop a minha autora favorita (ainda assim, a pequena revelação do fim do texto talvez diga demasiado) e uma breve síntese das novidades literárias que surgirão no próximo trimestre, que promete muito de bom.
Balanço final: como não poderia deixar de ser, numa revista com conteúdos tão diversos, houve elementos que me cativaram por completo, e outros que nem tanto. Terminada a leitura, contudo, não há dúvidas de que o resultado final é muito positivo e que esta nova encarnação da revista Bang! tem muito para ser um sucesso. Resta esperar que assim seja e que o próximo número seja ainda melhor.

Novidade Porto Editora

Uma Longa Viagem com Manuel Alegre é uma obra fundamental para compreender o poeta e prosador que, ao longo de toda a vida, fez da contestação o seu próprio programa político-literário.
Uma obra que nos deixa entender quem é o candidato à Presidência da República que, aos 74 anos, assume uma disputa eleitoral à margem da organização política tradicional; que explica porque se sente mais próximo dos movimentos cívicos e menos dos partidos; as dúvidas que teve aquando da filiação no PS em 1974; a conversa onde colocou a Mário Soares as condições para se tornar militante socialista; e a sua célebre intervenção que mudou a história do PS e do seu secretário-geral.
Mas também a obra de um poeta cujos poemas ficaram na memória dos portugueses de várias gerações, e de um romancista que passou para as suas histórias as memórias de uma vida intensamente vivida, aparece analisada nesta conversa sem bloqueios de qualquer espécie.
Depois das «longas viagens» com José Saramago e António Lobo Antunes, João Céu e Silva dá-nos agora um livro com declarações tão reveladoras como as que tornaram polémicos os seus dois trabalhos anteriores e que nos permite conhecer a vida e a obra daquele que poderá ser o próximo Presidente da República.

Novidade Clube do Autor

Nós de Amor é uma selecção de pequenas ficções escritas por Helena Sacadura Cabral sob diversos estados de alma. Trata-se da sua obra mais pessoal e mai intensa. É a escritora que se revela, escrevendo histórias envolventes, marcadas por personagens com quem facilmente nos identificamos, aprofundando sentimentos, evocando memórias de outras vivências.

Ler Nós de Amor é mergulhar na intimidade de Helena Sacadura Cabral, é descerrar um pouco a enigmática cortina sobre a mulher e a escritora. Reconhecida pelas suas observações directas e francas sobre o que de mais importante acontece na sociedade portuguesa, Helena Sacadura Cabral revela em Nós de Amor o seu lado mais intimista, delicado e sensível.

Poemas, contos, pensamentos. Alegria, tristeza, nostalgia. Nós de Amor é isto, é um livro sobre sentimentos íntimos, de sonhos, de desejos, de pedaços de um quotidiano que todos, a dado momento da vida, experimentamos.

Helena Sacadura Cabral é licenciada em Economia, tendo obtido o prémio para o melhor aluno do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF). Desempenhou vários lugares de chefia na Administração Pública, tendo sido a primeira mulher a ser admitida nos quadros técnicos do Banco de Portugal.
Colunista de diversos jornais e revistas, foi também colaboradora da RTP. Actualmente, mantém uma rubrica na SIC. Autora de mais de uma dezena de livros, concilia ainda a participação cívica com a actualização regular dos seus quatro blogues.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Lua Azul (Alyson Noël)

Os problemas parecem ter ficado para trás. Ever e Damen estão juntos e aparentemente felizes e as grandes preocupações de Ever parecem resumir-se a explicar à tia Sabine a razão porque não precisa de se alimentar e a contornar o seu problema com o facto de Damen ter um passado bastante mais vasto que o seu. Mas tudo muda com a chegada de Roman à escola e, subitamente, Damen parece não só ter mudado por completo como arrepender-se severamente de a ter conhecido. Surgem então as perguntas inevitáveis? Quem é Roman? O que aconteceu com Damen? E que pode Ever fazer para o trazer de volta à sua antiga forma de ser?
Depois de um primeiro volume em que, apesar de alguns aspectos interessantes, a leitura não me cativou por completo, Lua Azul surge com algumas melhorias em comparação com Eternidade. E se as revelações que vão surgindo acerca de um Damen bastante menos perfeito do que seria de prever inicialmente dão um novo interesse à história, o grande aspecto positivo está na caracterização da Summerland e do funcionamento dos sistemas e poderes mágicos tanto dos imortais como dos habitantes de Summerland e até mesmo daqueles que passaram a ponte. Neste livro, a autora desenvolve bastante mais a forma como surgiram os imortais e os elementos místicos e alquímicos associados a esse processo servem de base para algumas situações intrigantes.
Também o aumento de acção é uma melhoria considerável, já que, no primeiro livro, o tempo dedicado a Ever e aos seus dilemas existenciais de adolescente era, em parte, razão para que os acontecimentos mais intensos tivessem sido explorados de forma algo apressada numa fase final. Neste livro, o ritmo é mais constante e há mais para descobrir para lá dos problemas e conflitos interiores da protagonista.
Como pontos negativos, estão, como não podia deixar de ser, algumas semelhanças com o enredo de Crepúsculo (nomeadamente no interesse que Damen e Roman parecem ter por Ever, ainda que motivados por causas bastante diferentes das do triângulo Edward-Bella-Jacob), mas principalmente a personalidade da própria protagonista. Também aqui há algumas melhorias e Ever parece ser agora um pouco mais consciente, mas a sua indecisão e a constante tendência para tomar as decisões erradas, mesmo quando é bastante evidente que aquela opção é tudo menos certa, tende a ser um pouco cansativa.
Em suma... Com algumas melhorias relativamente ao primeiro volume, Lua Azul será um livro capaz de cativar aqueles que leram e gostaram de Eternidade. Com um ritmo bastante envolvente e uma escrita acessível, foi, de forma geral, uma leitura leve e agradável. Ainda que as fragilidades já referidas o tornem, por vezes, menos cativante do que poderia ser.

Novidade Bertrand

Está farto de ouvir falar em vampiros? Meena Harper também.
Mas os seus patrões obrigam-na a escrever sobre eles na mesma, apesar de Meena não acreditar na sua existência.
Não é que Meena seja alheia ao sobrenatural. O que se passa é que ela sabe como vamos morrer. (Claro que não acreditamos nela. Nunca ninguém acredita.) Nem o dom da premonição de Meena pode contudo prepará-la para o que sucede quando ela conhece Lucien Antonescu (e depois comete o erro de se apaixonar por ele), um príncipe dos dias de hoje com um lado negro. Trata-se de um lado negro pelo qual muitas pessoas, como por exemplo uma antiga sociedade de caçadores de vampiros, preferiam vê-lo morto.
O problema é que Lucien já está morto. Talvez seja por isso que é o primeiro tipo que Meena conhece com quem se imagina a ter um futuro. É que, apesar de Meena ser capaz de ver o futuro das outras pessoas, nunca conseguiu ver o próprio.
E apesar de Lucien parecer ser tudo o que Meena sonhou encontrar num namorado, poderá acabar por ser um pesadelo.
Esta poderá ser uma boa altura para Meena começar a prever o seu próprio futuro…
Se é que o tem.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Convite

Convite

Eviscerar Mistérios (Mosath)

De sombra e de mistério, de trevas, de enigmas, mas também de sensualidade, são feitos os textos que compõem este livro, que, pequeno em dimensões, contém no seu interior toda uma vastidão de imagens, momentos e emoções para descobrir.
Intenso na força expressiva, elaborado na linguagem, vasto na diversidade de temas e de sensações, este é um livro onde cada texto tem uma intensidade diferente. Sendo o ambiente sinistro o elemento mais constante, há mais para descobrir em cada nova frase, desde os sussurros de uma negra sedução aos gritos de uma rebelião incontrolável. E se as imagens evocadas são sombrias, por vezes estranhas, construídas num estilo muito próprio, a sensação final é a de uma negra envolvência, de um mistério levemente tocado, mas sempre por desvendar. Como o vislumbre de um segredo maior.
A maioria dos textos são relativamente breves, mas esse é um aspecto que acaba por lhes conferir maior intensidade, já que, em poucas linhas, o autor consegue criar uma visão (de cenários, de situações ou até de simples emoções) bastante completa. Ainda assim, tenho de dar destaque aos textos mais longos, onde uma envolvência mais complexa e desenvolvida acaba por criar uma leitura mais rica e cativante.
Intenso e tenebroso, complexo nas palavras e, por vezes, sinistro no conteúdo, dificilmente será uma leitura fácil. Mas para quem, como eu, aprecia os ambientes mais sombrios e enigmáticos, então acredito que esta leitura de sombra e de mistério valerá a pena.

Novidades Bizâncio para Novembro

Título: Como Observar as Pessoas
Autor: Janine Driver
Colecção: Pequenos Livros, 53
ISBN: 978-972-53-0466-2 Código de Barras: 9 789 725 304 662
Págs.: 320
Preço: Euros 14,15/ 15,00
Auto-ajuda
«Brilhante! As inovadoras ideias deste livro ajudá-lo-ão a melhorar as suas competências de comunicação praticamente da noite para o dia.»
— JOHN CHRISTENSEN, co-autor do bestseller Fish! e presidente da ChartHouse Learning, Home of the Fish! Philosophy
Gostava de ser «à-prova-de-bala» no trabalho e de se sentir seguro nos seus relacionamentos? Gostava de sentir-se satisfeito na sua pele? Então, é fundamental ter a noção do que o seu corpo anda a dizer ao mundo. Com graça e «olho clínico», Janine Driver – que trabalhou com o conceituado psicólogo Paul Eckerman, consultor da série da Fox Lie to Me — ensina-lhe os truques que lhe permitirão estar em vantagem na sua vida diária. O seu «Plano em 7 Dias» e as suas «Soluções em 7 Segundos» ensinar-lhe-ão dezenas de «dicas» de linguagem corporal capazes de resolver a seu favor qualquer situação interpessoal. Este livro revelar-lhe-á também métodos que outros especialistas se recusam a partilhar com o grande público, desmantelando grandes mitos da linguagem corporal. Numa época em que todas as vantagens contam — e as primeiras impressões contam mais do que nunca — este é o livro que realmente o ajudará a transmitir a sua mensagem.

Título: Baby Blues 27: Emboscados na Sala de Estar!
Autor: Rick Kirkman e Jerry Scott
Colecção: Banda Desenhada, 51
ISBN: 978-972-53-0468-6 Código de Barras: 9 789 725 304 686
Preço: Euros 11,90 / 12,61
Págs.: 132
Banda Desenhada
Com 3 crianças em casa, Zoe, Hammie e Wren, não há muitos cantos onde Wanda e Darryl se possam esconder. Ou participam nas brincadeiras dos manos, ou… participam.

Convite

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Nuvem Púrpura (M.P. Shiel)

Após a misteriosa morte de um dos homens que deveriam participar na expedição ao Árctico, Adam Jeffson é convidado a ocupar o seu lugar. Há um prémio destinado ao primeiro homem que alcançar o pólo e a sua noiva espera que seja Adam. Mas há também quem diga que essa expedição é maldita e que Deus exercerá a sua vingança sobre quem o desafiar. E quando Adam regressa, com o seu objectivo, o mundo foi coberto por uma tormentosa nuvem púrpura... e ninguém ficou vivo para contar o que aconteceu.
Se há algo que chama a atenção ao longo de todo este livro é a alteração da mente humana em reacção a uma solidão inevitável. Se, na sua vida normal, o carácter influenciável de Adam fazia com que ele não fosse propriamente um indivíduo decente, a forma como o seu comportamento é alterado pela descoberta de que é o único homem à face da terra é impressionante. Desde a surpresa, à angústia, à oscilação entre momentos de euforia, de paz, de obsessiva compulsão por fazer alguma coisa e, em oposição, de pura loucura destrutiva, a alteração da natureza de Adam, progressivamente menos humana, à medida que oscila entre uma deificação de si próprio e uma tendência para a monstruosidade, é descrita de forma detalhada e, por vezes, perturbadora.
Há grandes oscilações de ritmo ao longo deste livro. Começando com uma primeira parte de leitura quase compulsiva, onde os pormenores da expedição e particularmente os momentos de conflito dão vontade de ler mais e mais, a história sofre um súbito abrandamento a partir do momento em que Adam se encontra, sozinho, a divagar pelo planeta. Nesta fase, são mais vastos os momentos descritivos, o que exige uma maior atenção da parte do leitor, tanto devido às variações de cenário como à própria evolução mental do protagonista que, momento a momento, vai sendo traçada. Até que, numa fase mais avançada, ligada a um acontecimento inesperado, a história volta a ganhar intensidade e, ainda que o ritmo não chegue à força compulsiva inicial, há vários momentos marcantes que conduzem a um final bastante interessante.
Ainda uma nota para a oposição entre Adam e Leda, ela com a sua crença na bondade intrínseca da humanidade, ele com o seu pessimismo e a recusa em submeter-se ao que Leda define como a vontade do seu deus. É esta oposição, em grande parte, a definir os momentos mais marcantes da estranha relação entre os dois e é, também, causa de uma intrigante reflexão sobre o comportamento humano.
Interessante e com alguns momentos marcantes, um livro bastante denso e exigente, mas que, com os seus momentos marcantes e a sua interessante visão da natureza humana, não deixa de surpreender. Gostei.

Novidade Civilização

Das florestas da Transilvânia aos modernos liceus, da literatura ao cinema e à televisão, os vampiros povoam há séculos a nossa imaginação. Por fascínio ou medo, é impossível ficar indiferente a personagens tão carismáticas e misteriosas como o Conde Drácula, Nosferatu, Buffy (Caçadora de Vampiros) ou Edward Cullen (da série Crepúsculo). O novo livro ilustrado com a chancela DK-Civilização, Vampiros, oferece-nos uma proposta de cortar a respiração: entrar no mundo tenebroso e secreto dos vampiros.
Dedicado aos lendários sugadores do sangue alheio, que os tempos transformaram em heróis românticos, Vampiros é um livro com potencial para seduzir todas as gerações, quer seja pela extensa informação disponível, quer pelo design inovador, as imagens inéditas ou o traço maravilhosamente perverso. Destaca-se ainda a magnífica capa holográfica desta obra muito especial.

Convite

domingo, 14 de novembro de 2010

O Desertor (Daniel Silva)

Grigori Bulganov, o russo que salvou a vida de Gabriel Allon, parece ter reconstruído a sua vida em Inglaterra. Mas, subitamente, desaparece. Agora, as autoridades julgam que terá voltado a desertar e que, indirectamente, a culpa é de Gabriel por ter avaliado mal as suas intenções. Mas há mais que isso neste desaparecimento e, ao tentar desvendar os verdadeiros motivos do desaparecimento de Bulganov, Gabriel acabará por se colocar no caminho de um dos seus maiores inimigos. E os ataques não terão como alvo senão os pontos mais dolorosos...
Depois de uma primeira experiência de leitura deste autor que, sendo cativante o suficiente, não me marcou por completo, este livro não poderia deixar de ser uma imensa surpresa. Se a história é muito mais complexa que em O Confessor, é também muito mais viciante, quer pelo ritmo a que acontecimentos e surpresas se sucedem, quer por um maior cuidado na caracterização das personagens e na criação de laços entre esta e o leitor.
Gabriel Allon é um protagonista extraordinário e se o que dele é revelado em O Confessor serve apenas para o mostrar como figura enigmática e de passado tortuoso, este livro revela-o em toda a sua carismática liderança, mas também no auge da sua humanidade. Há mais em jogo que a defesa dos interesses do seu país. É pessoal a forma como tudo o que tem de mais próximo é, mais uma vez, ameaçado e é este facto que dá a conhecer o melhor e o pior de Gabriel. Assassino a sangue-frio e líder inabalável, em oposição, mas em co-existência com o homem marcado pelo passado e que se vê ante a possibilidade de, mais uma vez, perder tudo. Forte... mas humano. E, por isso, capaz de inspirar simpatia.
Ainda que seja uma sequela directa a As Regras de Moscovo, julgo que este livro poderá ser lido independentemente, já que, ao longo do enredo, o autor vai recapitulando os principais acontecimentos necessários à completa compreensão do que está a suceder. Ainda assim, existem referências a vários acontecimentos anteriores que, ao serem resumidos, deixam uma certa curiosidade em ver o cenário completo. Há, pois, uma certa tensão entre personagens que talvez possa ser melhor apreciada após uma leitura prévia de As Regras de Moscovo. Afinal, uma das grandes características de Gabriel é o seu passado tormentoso e este livro deixa também a curiosidade em conhecer essa história de forma mais aprofundada.
Intenso e envolvente, com um ritmo de acontecimentos cheio de surpresa, uma série de personagens cativantes (com particular destaque, como não podia deixar de ser, para Gabriel e a sua equipa) e alguns momentos de marcada emotividade, um livro cheio de mistérios e segredos, mas também de uma força especial. Muito bom.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Convite

Otto Rahn e a Demanda pelo Graal (Nigel Graddon)

A vida, os enigmas, as dificuldades e as principais pistas e teorias que seguiu ao longo da sua busca. São estes elementos que definem o retrato completo e intrigante da figura do homem que terá inspirado a criação do conhecido Indiana Jones. E, nesta extensa biografia, o autor não se limita aos factos conhecidos sobre a vida de Otto Rahn, mas complementa essas certezas com os principais mistérios que se formaram à sua volta, bem como as diferentes teorias levantadas em resposta a essas muitas circunstâncias nebulosas.
Mais que a história do homem, este livro é também a história da sua investigação e até, em certa medida, das suas crenças. As ligações de Rahn ao catarismo, a especulação relativa a qual terá sido verdadeiramente o seu papel na hierarquia nazi e, como não podia deixar de ser, as fontes e teorias que lhe terão servido de base na sua investigação em busca do Graal são apresentadas neste livro de forma completa e detalhada, desde os aspectos mais simples às teorias e filosofias de maior densidade em termos de simbolismo e associações ao ocultismo.
Trata-se de uma leitura bastante exigente, como não poderia deixar de ser, tendo em conta a vastidão de elementos que se cruzam numa vida tão atribulada - que nos factos, quer nas possibilidades por confirmar. Ainda assim, terminadas as mais de quinhentas páginas deste volume, a visão global que fica da figura de Otto Rahn (e do seu meio envolvente) é clara e bastante completa, e o conhecimento complementar sobre diversas áreas do ocultismo e vários aspectos relacionados com o símbolismo de alguns lugares, objectos e até mesmo expressões é claramente satisfatório.
Completo e esclarecedor, uma biografia interessante, e onde factos e possibilidades se conjugam para responder às muitas possibilidades de quem terá sido, afinal, Otto Rahn e de que papel terá desempenhado.

Novidade Esfera dos Livros

A mulher deveria ser perfeita. Uma dona de casa exemplar, sempre atenta ao marido e aos filhos, esmerada nas artes da cozinha e do bordado, com comportamento aprumado e decente. Nos anos 50, e sobre o olhar atento, conservador e católico de Salazar, o amor e o sexo eram temas tabus. Prevalecia a moral e os bons costumes.
A jornalista Isabel Freire, autora de Fantasias Eróticas, afasta a cortina espessa e pesada que rodeou o amor e a sexualidade nos anos 50 e traz-nos um livro original onde desvenda o mundo dos sentimentos no tempo de Salazar. Um mundo recheado de valores puritanos, de vexame, opressão, tirania e recalcamento sobretudo para o sexo feminino. Durante esta década, os direitos das mulheres portuguesas foram abafados e diminuídos. Forçadas à submissão de género, à dependência económica e afectiva, bem como ao apagamento sexual.
Através de uma pesquisa cuidada e de uma série de entrevistas a especialistas e a pessoas que viveram esta época, Isabel Freire conta-nos como se namorava nos anos 50, do flirt ao beijo na boca, explica-nos que a «mão na mão» dava direito a uma multa no valor de 2$50, já a «mão naquilo» valia 15$ de coima, fala-nos da vida boémia dos bordéis de Lisboa, dos partos em casa e dos abortos clandestinos, das expectativas e ansiedade dos noivos na noite de núpcias, das famílias felizes e da peste que era o divórcio.

Isabel Freire é licenciada em Filosofia, pela Universidade Nova de Lisboa, fez a Formação Geral do CENJOR, tendo estagiado no jornal Público. A convite da companhia Focus, escreve Damas d’ Ama, um texto dramático, inspirado num trabalho de campo junto da comunidade luso-africana dos bairros 6 de Maio, Estrela d’ África, Cova da Moura e Moinho das Rolas. Em 2006, editou e redigiu um guia de viagem insólita no Ribatejo, em parceria com o fotógrafo francês Joseph Marando. Trabalha como jornalista freelancer desde 2005, com reportagens assinadas na Visão, Única e Grande Reportagem.

Comecemos pelas ferramentas do ofício. Conheça tudo o que precisa de saber sobre carne, legumes, peixe, massas, molhos, etc. Arregace as mangas e comece a experimentar as receitas simples e que resultam. Aprenda a fazer arroz cozido, refogado e ovos mexidos... Ultrapassada a primeira aventura culinária, está apto para dar asas ao seu «espírito aventureiro» na cozinha e servir pratos como Massa de tinta de choco com camarão e chilli ou Bife com puré de batata e manteiga de queijo Roquefort. Parabéns! Já ultrapassou os dois primeiros níveis deste Curso de Cozinha de Henrique Sá Pessoa. Tirou as suas dúvidas, aprendeu truques essenciais e impressionou familiares e amigos. Mas para obter o diploma ainda tem de completar mais duas etapas. A fasquia fica mais elevada, os ingredientes vão puxar pela sua imaginação. O chef sugere Lombo de tamboril com crosta de especiarias ou Mousse de lima com framboesas. Não se preocupe, está pronto para assumir o comando por completo da sua cozinha e fazer receitas que mais ninguém faz. O diploma está à vista. Arrisque um Escalope de foie gras com puré de abóbora e chocolate preto, ou um Risoto de cepes com filete de pregado assado e creme de castanhas.

Henrique Sá Pessoa é chef do restaurante Alma, considerado Restaurante do Ano 2009 pela Revista de Vinhos. Trabalhou em vários restaurantes, como o Restaurante Panorama do Hotel Sheraton e no Hotel da Lapa, ambos em Lisboa, no Sheraton on the Park, em Sydney, e no Sheraton Park Lane, em Londres. Ganhou o concurso Chef Cozinheiro do Ano 2005, a 1.ª edição da Taça Horexpo em 2008. Foi considerado a figura do ano 2007 pela revista Intermagazine, e foi galardoado com o prémio Arte da Cozinha 2007, atribuído pela Academia de Gastronomia Portuguesa. Apresentou com sucesso o programa de culinária Entre Pratos, na RTP2, e prepara-se para estrear um novo programa – Ingrediente Secreto – no mesmo canal.

«Tendo entrado às dezassete horas e dez numa capela do Quartier Latin em busca de um amigo, saí de lá às dezassete horas e quinze na companhia de uma amizade que não era terrena.»

André Frossard tinha 20 anos, era um céptico ateu de extrema-esquerda, de origens judaicas, quando encontrou bruscamente, de forma fortuita, mas instantânea, a verdade cristã, «numa silenciosa e serena explosão de luz». Sem qualquer tipo de evolução intelectual, de inquietação, sem percorrer um longo caminho para chegar até ela, sem procurar nada.
Deus Existe, Eu Encontrei-O é um testemunho pessoal e emocionante da forma como André Frossard encontrou a sua fé. Um acontecimento que operou em si uma alteração na sua forma de ver, de sentir, de pensar e uma transformação do seu carácter. Num tom intimista, o autor, membro da prestigiada Academia Francesa, traz-nos um relato raro e único que se tornou, em todo o mundo, num clássico da espiritualidade.

«Ora, acontece que eu sei, de modo extraordinário, a verdade sobre a mais disputada das causas e o antigo dos processos: Deus existe.»

André Frossard, filho de Louis-Oscar Frossard, jornalista e homem político da III República que, aos 31 anos, se tornou no primeiro secretário-geral do partido comunista francês. Trabalhou no Le Figaro, e por ocasião da II Guerra Mundial esteve na Marinha de França e depois participou na resistência à ocupação alemã no território francês. Foi preso pela Gestapo e esteve durante um ano preso na «Barraca dos Judeus» da prisão de Fort Montluc. Quando a guerra terminou, recebeu de Charles de Gaulle a Légion d'honneur, a mais elevada condecoração militar da França. Foi redactor-chefe e jornalista em diversos periódicos como Le Temps présent, L'Aurore e Paris-Match, entre outros. Publicou cerca de vinte e três livros, a maioria de carácter filosófico ou religioso. André Frossard foi eleito para a Academia Francesa em 1987. Faleceu em Paris, em 1995, aos 80 anos de idade.

De D. Teresa de Leão e Castela que, embora filha de rei e mãe de rei, foi casada com um conde e um condado governou, passando por D. Isabel de Aragão, a Rainha Santa, D. Inês de Castro, falecida antes da entronização do seu amado D. Pedro I, a D. Filipa de Lencastre, mãe da Ínclita Geração, até D. Leonor, mulher do rei D. João II, a historiadora Ana Rodrigues Oliveira traça o retrato das 17 rainhas medievais de Portugal.
Numa época em que as fontes escasseiam, os silêncios e as omissões são frequentes e em que as mulheres, mesmo sendo rainhas, eram vistas através, e em função, dos seus maridos, os reis, Ana Rodrigues Oliveira, baseada numa pesquisa exaustiva e numa investigação rigorosa, consegue trazer-nos as biografias destas mulheres, desvendando o seu papel, a sua acção, o seu sentir e a sua voz no fluir dos acontecimentos da sua família, da sua corte, dos seus reinos de nascimento e de casamento.
Nesta obra original e única, ficamos a conhecer estas mulheres que deixaram marcas no imaginário dos Portugueses, e através delas viajamos ao longo de quatro séculos de um período fascinante da História de Portugal.

Ana Maria Rodrigues Oliveira é professora de História, com especialização na área de História Cultural e das Mentalidades. Doutorou-se em 2004 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem desenvolvido estudos nas áreas da mulher e da criança e participado em vários congressos e seminários. É co-autora de manuais escolares para o ensino da História e membro do Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Na manhã daquele domingo, 22 de Janeiro de 1961, os passageiros do paquete Santa Maria apercebem-se de que algo está errado quando encontram marcas de sangue no chão. Um homem armado impede-lhes o acesso ao convés superior. Os empregados fazem correr a notícia: «Uns rebeldes tomaram conta do navio.» A liderá-los está o capitão Henrique Galvão, o inimigo número um de Salazar.
Fervoroso salazarista, Galvão começa a desiludir-se e a afastar-se dos ideais defendidos pelo Estado Novo. A ruptura é assumida quando afronta o regime na Assembleia Nacional, onde denuncia a escravatura e vários negócios promíscuos que envolvem a Administração de Angola. Está aberta a porta para o confronto entre os dois homens. Segue-se uma tentativa falhada de atentar contra a vida do presidente do Conselho, em 1951, a prisão, uma espectacular fuga do Hospital de Santa Maria e o exílio. Salazar terá desabafado na altura: «Vamos arrepender-nos mil vezes. É muito mais perigoso que [Humberto] Delgado.»
O ditador não estava enganado. Galvão prepara a «Operação Dulcineia», que ocupa as primeiras páginas da imprensa internacional e expõe o regime português como nunca antes tinha acontecido. Segue-se o sequestro de um avião da TAP de onde são lançados cem mil panfletos a apelar à revolução, e o depoimento contra Portugal na sede das Nações Unidas.
Com base em documentos, na maioria inéditos, de oito arquivos nacionais e do arquivo particular do capitão, e em testemunhos dos seus principais cúmplices, o jornalista Pedro Castro desvenda a vida de Henrique Galvão, num livro único, com uma narrativa empolgante onde não falta acção e intriga.

Pedro Jorge Castro nasceu em Leiria em 1975. Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa, completou também o curso de formação geral em jornalismo do CENJOR. É jornalista há 13 anos e desempenha desde 2007 o cargo de redactor principal da revista Sábado. O Inimigo nº 1 de Salazar é o seu segundo livro, depois de em 2009 ter publicado Salazar e os Milionários.

Álvaro Cunhal era um pai dedicado. Os montes de neve retirados dos passeios durante os frios Invernos de Moscovo serviam para fazer a sua filha Ana, deslizar com um pequeno trenó. A alegria e o companheirismo ficavam registados em fotografias que ele próprio revelava em casa.
Estes e outros pormenores de um lado desconhecido do líder histórico do PCP são desvendados na primeira biografia de Álvaro Cunhal. Adelino Cunha traça um retrato completo do homem e do político. Da infância em Seia à entrada no PCP, do seu envolvimento na Guerra Civil de Espanha, às três detenções e à histórica fuga do Forte de Peniche, contada aqui pelos protagonistas que o acompanharam.
Numa pesquisa de mais de três anos, que levou o autor até Madrid, para falar com o histórico líder comunista espanhol Santiago Carrillo, e a Moscovo, onde reconstituiu o quotidiano de Álvaro Cunhal e recolheu documentos inéditos dos arquivos russos, o jornalista Adelino Cunha ouviu testemunhos únicos de pessoas próximas do líder, como Cândida Ventura, Sofia Ferreira, Margarida Tengarrinha, Carlos Costa, Joaquim Gomes, Aurélio Santos, a sua ex-companheira Isaura Moreira e a filha Ana Cunhal, que revelaram facetas e factos até agora pouco conhecidos da vida de Álvaro Cunhal.
Uma biografia fundamental sobre uma figura central da História contemporânea portuguesa.

Adelino Cunha é licenciado em História pela Universidade Lusíada e editor de Política/Nacional do Jornal de Notícias. Foi director e editor executivo da revista Focus e grande repórter de O Independente. Colaborou com vários outros meios de comunicação social, nomeadamente com o Correio da Manhã, a revista Gentleman e o extinto diário A Capital. É ainda investigador associado do Centro de História e Relações Internacionais, autor do livro de investigação histórica A Ascensão ao Poder de Cavaco Silva, e autor de vários artigos de História para a colecção Os Anos de Salazar.