quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Julieta (Anne Fortier)

Quando a tia morre durante o sono, Julie Jacobs é deixada não apenas com a dor, mas também com uma grande surpresa. Aparentemente, a tia deixou tudo à sua irmã gémea, Janice, e Julie não recebe senão uma carta, associada a uma chave misteriosa que, supostamente, será a forma de acesso a um tesouro escondido no seu passado. Mas, ao chegar a Siena, Julie, ou melhor, Julieta Tolomei, descobrirá que nada é o que parece, que, por vezes, o passado prevalece apesar dos séculos, e que a sua linhagem está directamente relacionada com uma outra Julieta mais famosa.
O mais interessante neste livro é a forma como a autora conjuga elementos tão diferentes numa mesma obra. A linha viciante, com mistérios a resolver, de um thriller ou livro de aventuras, alia-se à força cativante de uma tragédia intensa, passada em pleno século XIV, e também ela cheia de enigmas, maldições e acontecimentos marcantes. É, aliás, na história dos "verdadeiros" Romeu e Julieta que Anne Fortier constrói os momentos altos deste livro, juntando emoção, tensão e choque nas medidas certas, aliando momentos comoventes a uma voz narrativa cativante e interessante.
Mas também a história de Julie e do seu percurso de investigação tem os seus momentos intensos. A estranha relação que ela desenvolve com o misterioso Alessandro Santini, a evolução da sua ligação à irmã e as múltiplas ocasiões em que tudo aponta para uma solução que, na prática, acaba por estar muito longe da conclusão final, dão a este livro toda uma força compulsiva que, ainda que tenha os seus momentos altos nos grandes acontecimentos do passado, permanece ao longo de todo o enredo, mesmo nos momentos em que a intensidade trágica dá lugar a um cenário de ameaças e conspirações.
Intensa e envolvente, uma cativante recriação da história de Romeu e Julieta, que, apesar de se afastar bastante da trágica criação shakespeariana, tem sempre presente uma certa ligação emocional à obra do Bardo. E também isso confere valor a este livro.

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