terça-feira, 29 de março de 2011

O Homem do Buick Azul (António Garcia Barreto)

O caso é o de um homem desaparecido. A cliente é Salete Dupront. Mas a sua história está muito mal contada. E Eneias Trindade, detective privado, terá não só de descobrir o paradeiro do homem que foi contratado para descobrir, mas também de desvendar os mistérios por detrás da sua estranha cliente. E dos interesses que a movem.
Parte história de detectives e parte retrato de época, este é um livro onde o mistério funciona principalmente como uma base para reconstruir um cenário bastante preciso do passado. E é com precisão e uma certa atenção ao pormenor que o autor apresenta o Portugal dos anos 30, tanto da perspectiva muito pessoal do seu protagonista como do ponto de vista dos que com ele interagem. Isto é particularmente evidente em Rosarinho que, ainda que escassamente presente ao longo do enredo principal, reflecte, na sua necessidade de se afastar, a visão de um país soturno e atrasado em comparação com outras metrópoles mundiais.
Quanto à investigação propriamente dita, há a referir as múltiplas surpresas de percurso. Que a história de Salete esconde muito mais que o que esta revelou ao contratar os serviços do detective é evidente desde muito cedo. Mas a teia de interesses por detrás deste seu acto, bem como as relações que vão sendo desvendadas por entre pistas erradas e métodos pouco ortodoxos é bastante mais complexa do que o início do livro deixaria antever.
Ainda de referir o lado pessoal associado ao facto de esta história ser contada na primeira pessoa. Ao acompanhar a investigação pela voz de Eneias Trindade, não são só os seus pensamentos associados ao caso que são dados a conhecer, mas também alguns aspectos da sua vida pessoal, particularmente no que toca a amizades e relações amorosas. Isto torna o detective numa figura mais humana e, portanto, mais próxima.
Uma leitura cativante, portanto, e onde as surpresas se sucedem para culminar num final que deixa a inevitável sensação de uma certa "justiça poética". O mais interessante, ainda assim, acaba por ser o retrato claro e preciso de uma época já algo distante... mas tão próxima em vários aspectos.

1 comentário:

  1. Olá minha querida!
    Que bom poder passear por aqui de vez em quando!
    Seu cantinho e acolhedor!
    Obrigada!
    Marly

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