sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Dia Cinzento e outros contos (Mário Dionísio)

Histórias de vidas normais e de gestos quotidianos, num tempo talvez distante, mas com muito de actual. É isso que define os contos que constituem este livro, onde os sonhos e medos do dia a dia são o molde para cada vida e cada história. O que gerou este livro, as motivações do autor e o cenário que este encontrou em recepção à sua obra são lembrados numa Evocação em forma de prefácio, que é também uma interessante introdução às raízes e motivos por detrás deste livro.
O primeiro conto é Nevoeiro na Cidade, história de espera e de pensamento na mente de um homem em busca de uma decisão. Introspectivo, com o ritmo algo irregular correspondente aos pensamentos do protagonista, reflecte essencialmente um ambiente de apatia perante as circunstâncias. Já Véspera trata das preocupações de uma mulher doente na iminência de um procedimento arriscado. Aqui, domina a intensidade, numa visão precisa e marcante daquelas horas de dúvida e medo que surgem quando a saúde falha. Um conto bastante impressionante.
Segue-se Assobiando à Vontade, história de como um homem a assobiar no eléctrico influencia o humor dos restantes passageiros. Interessante a visão de como as conveniências mudam as pessoas, fazendo de cada mudança um choque - mesmo quando o novo elemento inspira alegria.
Os Sapatos da Irmã é a história de um rapaz e de como a vergonha dos seus medos e humilhações molda cada um dos seus actos. Reflexo de tempos mais cruéis, este é um conto sobre a idade da inocência, como ela é para quem não a conhece verdadeiramente. Intenso e marcante, muito bom. Morena-Vulcão, por sua vez, mostra como pode ser fascinante a descoberta de um novo elemento, na figura de uma rapariga pouco habituada a viajar que se deixa maravilhar por cada um dos passageiros do seu comboio. Curioso o reflexo dos hábitos sociais e do impacto destes sobre a ingenuidade da protagonista.
História de amores e namoros destinados a desaparecer com o passar do tempo, O Corte das Raízes surpreende pela forma como o autor alterna entre presente e memória, numa história de ritmo pausado, mas envolvente. Já em A Lata de Conserva, história de como um pequeno roubo perturba a rotina de uma mulher grávida, o que marca é o contraste entre a vida confortável, mas entediante, da mulher e a agitação causada pelo roubo visto de longe.
A Corrida mostra uma tentativa de regressar à normalidade depois de uma situação de doença, bem como a tomada de consciência de como o mundo mudou. Nostálgico e introspectivo, marca neste conto a poderosa visão do que é o mundo ante alguém para quem todas as portas se fecham. Interessante reflexão sobre persistência e resignação.
Das desventuras de uma família de bonecreiros e da necessidade de um novo rumo de acção trata Os Bonecreiros Vão de Terra em Terra. Pausado, mas cativante, uma imagem precisa das agruras da pobreza. Segue-se Uma Principiante, retrato dos sonhos e inseguranças de uma rapariga nos primeiros dias de trabalho. Cativante e de leitura agradável, fica, contudo, no final, a sensação de algo deixado por explicar.
Sardinhas e Vento apresenta um homem e os seus demónios, numa multidão em dia de feira. Cativante, com um início bastante centrado no protagonista, mas expandindo-se na contextualização do ambiente circundante. Levanta, ainda, algumas questões sobre o sistema de justiça e os interesses subjacentes.
Entre o trabalho e a sociedade, um homem com dificuldades em lidar com o mundo em seu redor. É este o foco de Uma Tarde de Agosto, onde choque de classes, interesses e futilidades sociais se cruzam para construir uma história onde a serenidade e a dureza se misturam. Segue-se Horas Suplementares, história de um caso amoroso feito de segredos e particularidades. Algo melancólico, este conto marca principalmente pelo tom de quase resignação.
O último conto é Entre Cafés e Pensamentos, e trata das amizades e de como estas se desvanecem com o tempo, a experiência e as dificuldades. Soturno e intenso, sombrio nas certezas da perda e por estas particularmente marcante, este é um conto que impressiona pela visão sombria do mundo aos olhos do protagonista.
Visão de pequenas rotinas e grandes tragédias pessoais, este conjunto de contos, alguns impressionantes e nenhum menos que interessante, cativa tanto pelas histórias individuais como pelo reflexo de tempos e costumes que a totalidade dos contos transmite. Uma leitura que, independentemente do anos que passaram desde a sua primeira publicação, continua interessante e actual.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Aquele Verão na Toscana (Domenica De Rosa)

Um castello na Toscana como cenário para um curso de escrita criativa: é esta a ideia que, todos os anos, Patricia O'Hara põe em prática, recebendo no ambiente idílico do seu castello uma série de hóspedes decidido a escrever o livro das suas vidas. Mas todos são diferentes e, mais que uma aprendizagem literária, os dias do curso serão para os vários escritores uma viagem de descoberta sobre as suas próprias vidas.
É curioso notar como, ainda antes de revelar por completo quem são as suas personagens, a escrita directa e algo emotiva da autora torna este romance numa leitura envolvente. Na verdade, nem são as personagens o que mais cativa, mas a forma como as diferentes histórias se cruzam, num enredo cativante e cheio de surpresas.
Das personagens, o que se destaca são os traços de carácter muitíssimo vincados, quase caricaturais, criando constrastes pela forma como diferentes temperamentos e formas de vida se cruzam e chocam quando reunidos num mesmo espaço. Jeremy Bullen, o tutor, mostra-se essencialmente detestável, com a sua atitude arrogante e a obsessão em seduzir uma das alunas. Por outro lado, Aldo, o cozinheiro, marca pela sua personalidade expansiva e extrovertida. Cat vive centrada em si própria e tudo o que faz é em função da sua alegada perfeição. Já Anna é tímida e insegura, mas encontra satisfação no seu mundo pessoal. Dorothy conta memórias de uma infância de abusos como se fosse o enredo de uma obra de ficção, enquanto Patricia esconde até de si mesma o peso das suas memórias. E este contraste é também evidente nas restantes personagens. O resultado é que, se nenhum deles é assim tão impressionante por si só, as relações e cruzamentos entre as suas histórias fazem da leitura algo de cativante e agradável.
Não é difícil prever a conclusão de algumas das relações que nascem ou ressurgem ao longo da narrativa. Afinal, o ambiente perfeito propicia ao romance e uma certa medida de felicidade é algo de expectável neste género de livro. Ainda assim, há diversas surpresas a surgir ao longo do percurso e o final positivo não deixa de ser, de certa forma, reconfortante.
Feito de personagens algo complicadas (ainda que não particularmente propícias à empatia), este é um livro que cativa principalmente pelo enredo envolvente e pelas relações de contraste. Não é uma história completamente inesperada, mas não deixa de ser uma leitura agradável.

Novidades Saída de Emergência para Agosto

O agente Wyman Ford é enviado numa expedição secreta ao Camboja para localizar a origem de umas deslumbrantes jóias que não aparentam ser deste mundo.
Um meteoro brilhante ilumina os céus da costa de Maine… e duas jovens partem em direcção a uma ilha distante para encontrar a zona de impacto. Um cientista descobre uma fonte inexplicável de raios gama no Sistema Solar Exterior. É encontrado decapitado e todas as informações são dadas como desaparecidas.
Imagens de alta resolução da NASA revelam algo escondido nas profundezas de uma cratera em Marte. Algo que acabou de ser activado.
Sessenta horas em contagem decrescente para o fim do mundo.

Drizzt do'Urden está de volta.
Venha descobrir a lenda do elfo mais misterioso e temido da fantasia.
E acompanhe-o na épica jornada por um mundo onde só lâminas afiadas impõem respeito.
Drizzt instalou-se nas cidades isoladas e fustigadas pelo vento das Planícies Geladas. É lá que encontra o jovem bárbaro de nome Wulfgar, capturado num raide e salvo pelo anão Bruenor em troca de cinco anos de serviço. Com a ajuda de Drizzt, Wulfgar cresce para se tornar num guerreiro poderoso e num homem com o coração generoso de um anão, os instintos apurados de um bárbaro e a alma corajosa de um herói. Mas tantas virtudes podem não ser suficientes para derrotarem o poder demoníaco de Crenshinibon, o lendário Fragmento de Cristal. E só Drizzt, esse estranho surgido das trevas, temido por todos e respeitado por uns poucos que o conhecem, poderá alterar o destino de todo o norte gelado.

A explosiva e controversa denúncia da máfia no futebol profissional.
Prepare-se para mudar o que pensa e sente sobre o desporto rei.
Movido por uma paixão antiga por futebol e pela necessidade de saber o que realmente se passa no desporto mais popular do mundo, Declan Hill embarca numa investigação que o põe face a face com a multimilionária indústria das apostas ilegais.
Ele entrevista mais de duas centenas de pessoas, incluindo homens que afirmam ter manipulado o resultado de alguns dos jogos mais importantes. Céptico de início, Hill atravessa quatro continentes para confirmar estas histórias.
Descobre campeonatos nacionais em que a máfia manipula mais de 80% dos jogos. Mas, mais chocante ainda, prova que os arranjadores de jogos conseguiram infiltrar-se no futebol mundial e nem a Liga dos Campeões Europeus nem o Campeonato do Mundo estão a salvo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Manual de Sobrevivência para Donas de Casa Desesperadas (Maria João Vieira)

Poupar parece ser a palavra de ordem nos tempos de crise que se vivem. Como? - é a pergunta que se impõe. E, ao longo das pouco mais de 120 páginas que compõem este livro, o que se apresenta é um conjunto de truques e ideias para começar a poupar no ponto onde é possível exercer algum controlo: em casa.
Sem esquemas rebuscados ou disciplinas de contenção ultra severas, este é um livro que surpreende, principalmente, pelo tom descontraído com que a autora apresenta as suas estratégias para combater uma crise que, para muitos, se afigura assustadora. Sem menorizar os problemas - mas também sem deixar que estes se tornem uma fonte de bloqueio - a autora percorre, de forma leve e até divertida os diferentes elementos da vida doméstica que podem ser alterados de forma a reduzir na despesa, e até a conseguir algum rendimento.
Da aplicação prática das dicas apresentadas neste livro, dependerá, é claro, a situação muito específica de cada um. Ainda assim, parece-me que o essencial a retirar deste livro, mais até que os métodos específicos, é o espírito positivo para enfrentar as situações complicadas, aplicando as diferentes ideias e possibilidades, mas mantendo o optimismo possível.
Com algumas ideias curiosas e uma leveza refrescante, este Manual de Sobrevivência constrói, a partir das pequenas coisas, uma série de ideias económicas, mas que não exigem o sacrifício total dos pequenos prazeres. E tudo isto de forma simples e divertida. Gostei.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Casa Ancestral de L. (José Gonçalves Gomes)

De amor em tempos de guerra, de uma criança destinada a nascer em tempos conturbados e de Catarina de L., mulher forte e determinada ante as contrariedades do seu tempo. Esta é a história de uma mulher que ama e que, apesar de todas as contrariedades, conhece a sua vontade e as formas de a conduzir através do imenso obstáculo que é o mundo que a rodeia.
Primeiro pela magia das palavras, da escrita algo elaborada mas estranhamente envolvente, e depois pela construção de um enredo que, visto pelos olhos da protagonista, se torna mais cativante quanto maiores se erguem as dificuldades, este é um livro que fascina desde as primeiras páginas e que, com o avançar da narrativa, conquista sempre um pouco mais a empatia do leitor. Isto deve-se, em grande parte, a Catarina, à firmeza da sua voz, mesmo quando marcada por momentos de uma grande emoção, e à grande luta que é todo o seu percurso, de perda e construção de vida, de amor e libertação, de uma prisão que é mais das suas próprias sombras que das paredes que a rodeiam.
Conjugando elementos históricos com uma história pessoal de grande profundidade, é algo de impressionante a forma como o autor apresenta um contexto cuidado, bem construído, sem que a exposição dos factos quebre o ritmo narrativo, mantendo constantes a envolvência e a emotividade. Contrária, por muitas vezes, à vontade da família, a posição de Catarina é delicada e as circunstâncias colocam-na, por vezes, numa situação insustentável. É nestes momentos que a sua voz se torna mais marcante, nesta necessidade simultânea de ceder à emoção e de se forçar a agir, e o equilíbrio entre estes dois extremos - mesmo perante a desilusão, mesmo perante a perda - é algo que se expressa maravilhosamente neste livro.
História de luta pessoal, da posição de uma mulher perante o mundo e do seu paralelismo com o lugar onde se encontra - também sitiada, também na necessidade de lutar - este é um livro que fascina tanto pela beleza da escrita como pela envolvência da narrativa, como ainda pela força da sua protagonista. Em todos os aspectos, uma excelente descoberta.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A 19.ª Esposa (David Ebershoff)

A morte de um homem numa seita polígama com origem nos Santos dos Últimos Dias leva Jordan Scott a revisitar Mesadale e a comunidade de onde foi expulso sem apelo nem agravo. O objectivo é provar a inocência da mãe, a 19.ª esposa do homem assassinado. Mas a história de Jordan - e, mais que a sua história pessoal, a dos Pioneiros - cruza-se com a influência de uma mulher do passado. Conhecida como a 19.ª esposa de Brigham Young, Ann Eliza abalou os fundamentos da Igreja dos Santos dos Últimos Dias. E é a sua história de luta que se cruza com a da investigação de Jordan numa narrativa que percorre diferentes épocas.
É algo de impressionante a forma como o autor consegue reflectir os efeitos do fundamentalismo - e até mesmo as marcas de uma fé cega - na vida e na história das suas personagens. Numa narrativa de estrutura invulgar, em que o autor constrói cartas, ensaios e memórias correspondentes aos diferentes tempos das suas histórias, nota-se neste livro o cuidado de apresentar diferentes pontos de vista, desde as posições mais moderadas às atitudes extremas. E algumas destas chegam a ser revoltantes pelas consequências implícitas a cada acção. A expulsão de Jordan de Mesadale, por exemplo, devida a algo tão simples como um contacto de mãos, serve bem como base para caracterizar a atitude da comunidade e a influência do Profeta nas suas vidas.
Com tempos diferentes e histórias diferentes - ainda que com interessantes paralelismos entre ambas - há também uma marcada diferença de ritmo entre as histórias de Jordan e Ann Eliza. A desta acontece a um ritmo bastante mais pausado, acompanhando o seu crescimento e a descoberta dos seus verdadeiros valores. Já com Jordan as coisas acontecem bem mais depressa, como resultado da compulsão (não isenta de perigos) e da necessidade de resolver o mistério.
Ambas as linhas da narrativa são igualmente interessantes, e ambas têm muito de marcante, principalmente no que respeita aos vários comportamentos que se aproximam do fanatismo - e suas consequências. O resultado é uma leitura cativante, com momentos que propiciam à reflexão e também com uma série de circunstâncias capazes de criar empatia. Do estranhamente terno ao puramente revoltante, há também todo um espectro de emoções a percorrer nas situações enfrentadas pelos protagonistas desta(s) história(s).
Trata-se, pois, de um livro intenso, com muito para descobrir tanto a nível de contexto histórico como de força narrativa. Envolvente, com vários momentos marcantes e um final algo surpreendente, uma óptima leitura.

domingo, 24 de julho de 2011

Precious: A Força de uma Mulher (Sapphire)

Esta é a história de uma vida diferente. De uma rapariga com sonhos, como qualquer outra, mas com demasiadas dificuldades para uma existência tão curta. Aos dezasseis anos, Claireece Precious Jones é praticamente analfabeta, vítima de abuso da parte do pai e mãe de dois filhos deste. Mas a sua vida vai mudar ao entrar na escola alternativa Cada Um Ensina Um.
Perturbador seria uma boa palavra para definir este livro. Acontecimentos dramáticos e revoltantes são apresentados pela autora de uma forma tão directa - e quase em tom de rotina - que o impacto da situação acaba por se tornar imenso. É que cada palavra da história de Precious insinua que todos os acontecimentos - as violações, as agressões, a humilhação - fazem parte da sua normalidade, pois não conheceu nada mais. Esta aceitação tão evidente no tom com que Precious conta a sua história é algo que abala, principalmente pela medida em que condiciona a sua posição perante as possíveis mudanças.
Escrito na primeira pessoa, há neste livro uma necessidade de reflectir Precious como ela é, incluindo as suas limitações. Estranha-se, por isso, o vocabulário, as expressões (e os erros ortográficos) que, ao aproximarem-se da forma como as palavras soam (ao invés da forma correcta de escrever) reflectem também as dificuldades da protagonista a nível de leitura e escrita. Este é, apesar disso, um elemento que se vai desvanecendo ao longo da leitura, já que, a partir do momento em que a história se torna familiar, as questões de linguagem são apenas mais uma parte de um percurso todo ele difícil.
Esta é a história de Precious e, por isso, é apenas natural que seja esta a personagem mais importante do livro. Mas há também nas suas relações e nas personagens que cruzam o seu caminho uma série de figuras marcantes, destacando-se a professora Blue Rain que, por entre todas as dificuldades, será o muito necessário ponto de apoio da protagonista. E também as colegas de turma de Precious, cujas dificuldades pessoais têm também muito de marcante, ainda que surjam apenas na fase final.
História de sobrevivência e percurso de grandes dificuldades, este é um livro que marca a vários níveis: pela linguagem invulgar, pela história dolorosa, pela progressiva resistência da protagonista. E, por todos estes motivos, nunca será uma leitura fácil. É, ainda assim, o relato de uma grande caminhada com todas as circunstâncias como opositoras. E essa é uma luta que vale a pena acompanhar.

sábado, 23 de julho de 2011

Na Sombra do Pecado (J.R. Ward)

Zsadist. O passado fez dele um guerreiro feroz. Até mesmo na Irmandade a sua presença causa desconforto e há quem se pergunte se algo de humano sobreviveu aos séculos de abuso que o transformaram. Mas há alguém que, desde o princípio lhe desperta emoções inexplicáveis. E agora que Bella desapareceu, Zsadist não descansará até descobrir a sua localização - e exercer vingança sobre a criatura que a aprisionou.
Há algo de particularmente fascinante na forma como a autora consegue criar para os seus protagonistas um passado difícil e, ao mesmo tempo, construir-lhes um caminho para a redenção possível. E isto é particularmente evidente neste livro. Mais até que a descoberta da capacidade de amar, o passado de Zsadist é algo que permite toda uma nova visão da personagem algo sinistra que fora surgindo ao longo dos livros anteriores. Crueldade, abuso e humilhação são apresentados de uma forma directa e altamente emotiva, criando para com o protagonista uma empatia pouco menos que inevitável, mas também a dúvida sobre se alguém tão quebrado poderá alguma vez regressar da sombra dos seus demónios.
Tal como nos livros anteriores, a autora não se centra exclusivamente no casal protagonista, e se a relação entre ambos é, de facto, um ponto de grande relevância, há, ainda assim, mais para descobrir para além do romance e da sensualidade. Neste livro, novos elementos da sociedade vampírica são apresentados e as histórias e percursos de outros membros dessa sociedade vão sendo desenvolvidos. O resultado é um enredo onde a acção se interliga com a emoção (e esta não se resume ao aspecto romântico), e onde, mais que apenas a história de Bella e Zsadist, o caminho de toda a Irmandade é aprofundado, insinuando já algumas possibilidades para o que sucederá nos livros seguintes.
Feito de amor e de sensualidade, mas também de memória e redenção, perda e resignação, este é um livro onde afectos e relações (românticas, hierárquicas, fraternais...) surgem em toda a sua força, num cenário que, a cada novo desenvolvimento, se torna também um pouco mais interessante. Cativante, emotiva e surpreendente, uma boa leitura.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Ladrão de Sombras (Marc Levy)

Esta é a história de um rapaz com um poder especial. Quando a sua sombra se cruzava com a de alguém, ambas trocavam de lugar e ele podia ouvi-las e conhecer os seus segredos. Não era simples a sua história. Entre as desventuras da escola e um pai que partira para não voltar a dar notícias, ele vivia da amizade de Luc, da força dos seus sonhos... e da memória daquele Verão em que, pela primeira vez, conhecera Cléa e ouvira a voz da sua sombra. Mas a infância não dura eternamente... e ele cresceu.
Há uma certa ternura que transparece em muitas das histórias de Marc Levy e este livro não é excepção. Acompanhando o crescimento do protagonista e a sua eterna inocência, mudada pelos anos e pelo quebrar das ilusões, mas ainda assim, sempre presente, o autor constrói uma história terna e emotiva, contada de uma forma muito pessoal e num tom agradavelmente descontraído. A voz narrativa é a do próprio protagonista, sendo possível vislumbrar o seu crescimento na forma como a sua visão do mundo em redor se torna progressivamente mais realista. Mas a criança que falava com a sombra está sempre presente, nas falhas e nos sucessos, e há algo nas suas emoções - na esperança, na perda, naquele amor eternamente preservado - com que é impossível não simpatizar.
Curiosamente, a questão do roubo das sombras acaba por não ser o elemento principal da narrativa. Na verdade, o contacto com as sombras dos que rodeiam o protagonista funciona mais como um meio de descoberta para a vida e para os sonhos, surgindo na medida em que é necessário ao percurso pessoal do rapaz que se torna homem. Serve também como base para uma mensagem de liberdade: a necessidade de aceitar a vontade e os sonhos dos que nos são próximos, de deixar que tomem as suas próprias decisões, é uma das lições que o "ladrão" deste livro tem de aprender ao longo do seu percurso. Fica, pois, por um lado, a curiosidade em saber mais sobre um poder que acaba por não ser muito aprofundado, mas por outro, a impressão de que esse mesmo poder não é assim tão relevante.
Simples e terna, sem grandes elaborações, esta é, na sua essência, uma história comovente, onde o humor e a emoção se misturam para criar uma mensagem de grande emotividade. De amor, de sonho e de descoberta, o percurso da personagem que dá vida a este livro não exigiria nenhum poder especial para se aproximar do de qualquer outra pessoa. E, nesta leitura, o que realmente marca é essa tal realidade entrelaçada no toque de magia inicial.

Love Bites - terceira parte

Continuando a percorrer os contos desta antologia, segue-se I Need More You, de Justine Musk. A história é a de uma vampira, da sua invulgar relação com... algo diferente, e da forma como essa ligação condiciona os seus actos. A nível de emoções, o elo é mais uma questão de necessidade que propriamente de romance, apresentando-se uma visão muito clara e altamente emotiva da protagonista, numa história envolvente e que deixa bastante à imaginação do leitor.
Em Point of No Return, de Jennifer St. Giles, um guerreiro vampiro abandona o seu refúgio para proteger a vida de uma mulher que o cativou sem saber. Uma história envolvente, com uma escrita fluída e descrições cativantes. Ambos os protagonistas são figuras interessantes, havendo entre ambos muito de sensualidade. Contudo, o conto não se limita ao romance, deixando espaço a valores de honra e nobreza, num sistema bastante interessante e onde uma reviravolta inesperada irá criar a tensão que culminará num final marcante.
With Friends Like These, de Dawn Cook trata de dois colegas de quarto e de uma corrida nocturna que revelará muito sobre a natureza de um deles. Com um início pausado, mas tensão constante, trata-se de uma história intrigante e com alguns momentos surpreendentes, mas onde o elemento romance está completamente ausente.
Segue-se Blood Gothic, de Nancy Holder. A história é a de uma mulher que espera pelo seu amante vampiro. O texto é relativamente breve, e essencialmente centrado na expectativa e na ilusão da protagonista, no reflexo de uma obsessão que progressivamente se transforma em algo mais sombrio. Contado do ponto de vista da protagonista, uma interessante visão do efeito da ânsia e do desejo sobre os contornos da linha que separa realidade e alucinação.
Eternity Embraced, de Larissa Ione, apresenta uma caçadora de vampiros que, em busca do seu companheiro, cai numa armadilha preparada pelo inimigo. Perante uma situação desesperada, ambos têm agora de controlar os seus instintos mais básicos - ou escolher um caminho que contraria tudo aquilo em que acreditam. Um dos melhores textos da antologia, este conto mistura as medidas certas de tensão, acção, emoção e sensualidade, sendo particularmente bem explorada a dificuldade em que os protagonistas se encontram. Intenso e cativante. Muito bom.
Em The Ghost of Leadville, Jeanne C. Stein conta a história de uma vampira que, de regresso a um lugar do seu passado, recorda o dia em que se cruzou com o humano que lhe conquistou a atenção. Sensual e envolvente, é particularmente interessante ver como, ao longo da narrativa, o que começa como atracção física evolui para algo mais, conduzindo a uma conclusão intensa, emotiva e algo surpreendente.
Segue-se The Vampire, The Witch and the Yenko, de Tiffany Trent. Aqui, o caminho de uma bruxa contratada com um alvo a abater cruza-se com o de um vampiro numa situação delicada. Destaca-se neste conto a natureza das relações ente vampiros, mas também a história em si é interessante, ainda que o contexto pudesse ser um pouco mais desenvolvido. Trata-se, ainda assim, de uma ideia cativante, apresentada com uma escrita agradável (apesar de alguns momentos algo apressados).
Circle Unbroken, de Ann Aguirre, é a história de Ysabel, vampira, que se descobre perante um desafio ao cruzar-se com um jornalista em busca de respostas. Um pouco confuso na fase inicial, este conto marca pelo tom misterioso, ainda que, por vezes, tudo pareça acontecer demasiado depressa. Além disso, há um foco um pouco excessivo na atracção física, sendo que só na fase final surge o aspecto emocional do romance. Interessante, ainda assim.
Por último, Skein of Sunlight, de Devon Monk, parte de uma visita a uma loja de lãs, que se torna mais interessante no momento em que a protagonista conhece o dono do local. O início bastante simples, partindo de um dia quase rotineiro, cedo dá lugar a um tom mais misterioso, quer pelo protagonista, quer pelo contraste entre o cenário "inocente" e a natureza dos que o habitam. Ficam algumas coisas por explicar relativamente ao funcionamento do mundo vampírico, mas o essencial da história é interessante.
Considerados todos os contos desta antologia, fica, em jeito de balanço final, a impressão de um livro que, apesar do tema comum, apresenta uma grande diversidade de temas e de abordagens, havendo, por isso, histórias e estilos de escrita que se revelam mais cativantes comparativamente a outros no mesmo livro. De leitura agradável e com alguns contos particularmente marcantes, fica também a curiosidade em descobrir melhor o trabalho de algumas das autoras incluídas na antologia.

Lugares Inesquecíveis de Portugal: primeiro lançamento da editora ERANOS

Título - LUGARES INESQUECÍVEIS de Portugal
Subtítulo – Viagens com alma
Preço de capa – 27,50 €
Formato – 240x170mm
Páginas - 448

A essência de qualquer viagem é a descoberta.
Descobrir lugares, gentes e histórias, que não poderíamos conhecer, ficando onde estávamos.
Se viajarmos para um sítio já nosso conhecido, não podemos falar de viagem, mas sim de transporte.
É esta a diferença entre descoberta e repetição daquilo de que já usufruímos, mas queremos rever.
Claro que podemos voltar a um mesmo lugar e continuar a viajar. Mas para isso teremos de ter a mente aberta à descoberta, do mesmo modo que quando relemos um livro, encontramos sempre coisas novas.
Tal como a mesma água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte, nós também mudamos, crescemos, evoluímos (assim se espera que seja) e experienciamos tudo com novos olhares.
Viajar por Portugal é à partida uma experiência diversa, pois a paisagem muda completamente entre o Norte e o Sul, o interior e o litoral e com ela mudam também muitos hábitos e formas de estar. Se hoje ainda assim é, houve tempos em que os povos eram ainda mais distintos, os cultos religiosos muito diversos e as culturas típicas de cada região tinham ainda maior diversidade. Daqui resulta que cada lugar tenha nos seus variados monumentos (megalíticos, medievais, manuelinos, barrocos ou actuais) histórias e muitas outras estórias para nos contar.
LUGARES INESQUECÍVEIS são Viagens com Alma, por lugares com memória, espelho vivo das nossas raízes milenares e seculares. Estamos a viver um tempo de crise profunda, que para além de económica, é antes uma crise de valores éticos e espirituais. Crise também significa mudança e este bem pode ser o tempo certo para romper com velhos paradigmas. Tempo de regressar às origens, à introspecção, para encontrar novos caminhos que partem das nossas raízes.
São muitos os que, nos nossos dias, procuram uma vida mais em harmonia com a Natureza, mais preocupada com o ambiente e a biodiversidade, mais respeitadora do seu próprio corpo. Mudam gradualmente os seus estilos de vida para ritmos mais calmos e procuram caminhos espirituais, que lhes proporcionem maior autenticidade.

“Quando estamos a observar um crepúsculo que nos fascina ou a sentir a ambiência de um antigo
santuário ao ar livre rodeado de carvalhos, vivemos experiências que ultrapassam a realidade visível. Algo de sagrado, mágico e inesquecível penetra no Ser e nos enriquece, dá-nos centro, estabilidade interna, segurança invisível. Necessitamos dessas vivências. A visita a lugares inesquecíveis é uma via para respirarmos ar puro e alargarmos o nosso campo de visão e de percepção do mundo”, diz o autor.

Pois é com base neste desafio de viajar também ao interior de nós mesmos, que este livro nos leva a visitar paisagens e palácios, pequenas esculturas e grandes monumentos, contando-nos não apenas a sua História, mas muitas das suas lendas e estórias paralelas.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Dance with Dragons (George R.R. Martin)

Não há paz quando o legítimo soberano é apenas uma criança no centro de uma teia de intrigas e o jogo dos tronos envolve demasiados aspirantes ao poder. O Inverno aproxima-se. Lordes e soberanos procuram marcar a sua posição, seja por via de batalhas ou por métodos mais esquivos. A norte, a Muralha é o único obstáculo à passagem de uma ameaça que se ergue do mundo dos mortos, mas nem aí as lealdades são menos vacilantes. E, para cada pretendente à soberania, há servos e cavaleiros, irmãos e inimigos, num desfiar de decisões, percursos e traições após as quais nada será igual. Pois tudo no mundo tem consequências e uma coisa é certa: ninguém está seguro.
Se há algo que se tornou já familiar para quem acompanha esta saga é a certeza de que tudo pode acontecer e que, por mais heróica que seja uma personagem ou por mais nobres que sejam os princípios, ninguém está a salvo da traição e da morte. Desde o primeiro volume que muitas surpresas se sucederam, personagens que pareciam seguras encontraram um fim inesperado e o que parecia ser um rumo certo surgiu como nada mais que ilusão. A Dance with Dragons não foge a estas características e, entre batalhas e conspirações, surpresas e momentos intensos são o que não faltam a esta leitura, sendo inclusive algumas delas particularmente marcantes pela forma como o autor as aprsenta - deixando no ar a dúvida e, como tal, a insaciável curiosidade em saber o que terá acontecido.
Não havendo propriamente um protagonista, mas sim uma série de histórias entrelaçadas, o enredo tem vindo a ganhar complexidade de livro para livro, o que leva a que, percorrendo os caminhos de diferentes personagens, algumas delas tenham em cada volume um maior protagonismo. Esta diversidade de linhas e pontos de vista permite um maior conhecimento de cada personagem, o que me leva ao que é, para mim, o mais interessante desta saga: a construção das diferentes personalidades. Há muitas personagens fortes e um evidente contraste entre as escolhas e valores de cada uma delas. Ainda assim, e por mais que algumas das principais figuras desta história pareçam, a certo ponto, tornar-se familiares, há sempre a possibilidade de uma mudança. Os grandes acontecimentos fazem com que as personagens evoluam (se tiverem tempo suficiente para o fazer). Figuras inicialmente odiadas acabam por conquistar a empatia do leitor e aqueles que, por atitudes ou princípios, desde o início se revelaram mais próximos podem sempre revelar alguma falibilidade ou encontrar-se numa situação que revelará as suas vulnerabilidades.
Uma boa parte de A Dance with Dragons coincide, na linha temporal, com o livro anterior, daí que haja um maior destaque para personagens que não apareceram (ou apareceram muito pouco) em A Feast for Crows. Destas, importa realçar o percurso de Jon Snow, que, neste livro, é toda uma imagem de crescimento e vontade, ainda que também uma caminhada solitária, culminando num momento de particular intensidade e numa imensa pergunta a descobrir (esperemos) no livro que se seguirá. Mas há muitas outras personalidades e histórias a descobir. Também Daenerys Targaryen tem grande protagonismo neste livro, ainda que o seu percurso seja um pouco menos cativante, já que a sua personalidade acaba por se revelar mais como a da rapariga influenciável que a da rainha e "mãe" do seu povo. Ainda, entre as figuras de maior protagonismo, falta referir a grande evolução na figura de Theon, cujas anteriores atitudes detestáveis parecem perder-se ante a consequente provação, criando uma quase involuntária empatia.
Tal como em A Feast for Crows, o ritmo da narrativa é relativamente pausado e, da maioria dos acontecimentos, o resultado parece ser mais o de um novo posicionamento das forças em conflito, deixando os passos para a resolução essencial ainda em aberto para os livros que se seguirão. Ficam também muitas perguntas sobre o futuro das diferentes personagens e a impressão de que há ainda muitíssimo para acontecer. A impressão global é a de um livro que, não tendo a força compulsiva dos primeiros livros, acrescenta, ainda assim, uma série de elementos interessantes, preparando território para maiores acontecimentos.
Foi longa a espera por este A Dance with Dragons. E, mais uma vez, muito fica por dizer. Valeu a pena, ainda assim, esperar por este regresso cativante e cheio de surpresas. Agora, começa a contagem dos dias (e dos anos?) até à chegada de The Winds of Winter.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Pirâmide (William Golding)

Paixões, caprichos e obsessões são o que define a essência de Oliver, nesta que é a história do seu percurso de vida. Em Stillbourne, onde todos se conhecem, o rumor é uma arma feroz e os sonhos devem submeter-se à rivalidade, Oliver cresce na ilusão e no egoísmo da juventude, para encontrar um caminho pessoal e retornar ao seu mundo e às suas memórias com a maturidade deixada pela passagem do tempo.
Deste livro importa dizer, antes de mais, que não é propriamente uma leitura fácil. E, contudo, não há nada de particularmente complexo a nível de escrita. Fluída, directa e envolvente, a narrativa é apresentada sem grandes elaborações linguísticas, dando destaque aos acontecimentos essenciais e à forma como estes moldam o carácter do protagonista. E é precisamente neste carácter que reside a complexidade, porque, partindo de uma adolescência marcada por iguais medidas de veneração e desejo e percorrendo o caminho até uma idade adulta onde o que deve ser se sobrepõe a sonhos e vontades, há toda uma mudança na personalidade de Oliver, e esta mudança torna-se visível nas diferentes atitudes e comportamentos que definem as relações da sua história.
Nem tudo se resume a Oliver, ainda assim. A complexidade das suas relações está directamente relacionada com as personalidades invulgares com que se cruza e tanto Evie, na primeira fase, como Bounce, na terceira, são figuras cativantes, com histórias complexas e, tal como Oliver, moldadas pela necessária adaptação ao estilo de vida de Stillbourne. É, aliás, essa submissão do sonho e da vontade ao esperado e aceitável que molda personalidades, justificando acções que, por si só, parecem difíceis de compreender.
Interessante percurso de crescimento e de adaptação às marcas da vida, A Pirâmide apresenta um retrato duro e directo - e, contudo, estranhamente cativante - da forma como o mundo em volta molda a vida de cada um. E, mais que os diferentes episódios que a constituem, é essa imagem global de uma vida em múltiplas fases que fica na memória terminada a leitura.

Novidades Dom Quixote para Agosto

A Guerra dos Mascates
Autores Língua Portuguesa
Miguel Real

Recuperando e desenvolvendo a obra homónima de José de Alencar escrita no século XIX – da qual ressuscita personagens que cruza com ícones históricos e algumas das figuras permanentes dos seus «romances brasileiros» –, Miguel Real oferece-nos com A Guerra dos Mascates a narrativa de um confronto entre pequenos comerciantes e aristocratas que mobilizou a totalidade da população das cidades de Recife e Olinda no século XVIII.
Amor romântico e ódio colectivo, febre de fé e febre de dinheiro, dignidade social e vingança pessoal, conjugam-se na descrição de personalidades inesquecíveis do cândido ao malévolo para compor um romance deliciosamente irónico que confirma Miguel Real como um dos mais portentosos ficcionistas da actualidade.
Nas livrarias a 29 de Agosto

Hoje Preferia não Me Ter Encontrado
Herta Müller
Ficção Universal

Na viagem de eléctrico que a leva às instalações da Polícia Secreta, hora marcada, dez em ponto, a jovem narradora vê a sua vida passada em revista: a infância na cidade de província, a fixação semierótica no pai, a deportação dos avós, o casamento ingénuo com o filho do «comunista perfumado», a felicidade precária que vive com Paul, apesar do fardo que a bebida impõe ao amor que ela lhe dedica.
Quase chegada ao destino, levanta-se de repente uma altercação no carro eléctrico que leva o guarda-freio a saltar precisamente a paragem em que devia sair. Vê-se numa rua desconhecida, onde descobre Paul com um velho de aspecto suspeito.
Decide então não comparecer ao interrogatório.
Nas livrarias a 29 de Agosto

A Bofetada
Christos Tsiolkas
Ficção Universal

Durante um encontro de amigos, um homem dá uma bofetada a uma criança de três anos. Trata-se de um acto isolado, mas as suas repercussões vão fazer-se sentir nas vidas das oito pessoas que o testemunham de perto. As suas lealdades e paixões são postas à prova, redefinidas, extremadas.
Para as oito personagens, aquele é um momento transformador. Uma a uma, as suas vozes vão dar início a uma caleidoscópica e inquietante viagem aos limites do amor, do sexo, do casamento e da família. Celebrado pela crítica e pelos júris dos mais importantes prémios literários, este é um livro fracturante e controverso.
A Bofetada, primeiro romance do autor a ser publicado em Portugal, vencedor do Commonwealth Prize e finalista do Booker Prize, será brevemente adaptado para televisão, no formato de série.
Nas livrarias a 29 de Agosto.

Novidades Bertrand

Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nova lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora “expropriados” e utilizados para plantar pinheiros. Emerge um clima de medo nas pessoas e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia.
Agora um Homem vivido e culto, Manuel tem uma visão e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças do povo. Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de sol a sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis. A revolta acaba por suceder e tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos deles à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder. Aqui representada está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.

Aquilino Ribeiro nasceu na Beira Alta no ano de 1885 e morreu em Lisboa em 1963. Deixou uma vasta obra em que cultivou todos os géneros literários partilhando com Fernando Pessoa, no dizer de Óscar Lopes, o primado das letras portuguesas do século XX. Foi sócio de número da Academia das Ciências e, após o 25 de Abril, reintegrado, a título póstumo, na Biblioteca Nacional, condecorado com a Ordem da Liberdade e homenageado, quando do seu centenário, pelo Ministério da Cultura. Em Setembro de 2007, por votação unânime da Assembleia da República, o seu corpo foi depositado no Panteão Nacional.

Passado numa cidade sulista da América, O Intruso aborda os preconceitos raciais, partindo de uma situação em que um negro que se recusa a adoptar uma atitude tipicamente servil é acusado de matar um branco. Ajudado pelo seu advogado Gavin Stevens, personagem recorrente nas obras do autor, vai travar uma longa batalha pela justiça.

William Faulkner (1897–1962) é considerado um dos maiores escritores do século XX.
Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1949 e o National Book Award em 1951 e em 1955. Foi também vencedor de dois prémios Pulitzer.
É autor de romances fortemente psicológicos e simbólicos, cujas personagens vivem situações desesperadas, que retratam a decadência do Sul dos Estados Unidos.
Em 2010, a Bertrand Editora publicou o livro Santuário.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Portugal no Primeiro Quartel do Séc. XX (Graça Fernandes)

Questões políticas, questões culturais, vida quotidiana, mudanças de regime... Ao longo das 400 páginas deste livro, a autora percorre o essencial do que terá sido a história de Portugal no início do século XX. E se, a nível de conhecimentos, há muito neste livro a descobrir, é impossível evitar a sensação de que muito mais haveria a dizer sobre o tema.
Alguns temas são explorados com relativa profundidade, enquanto que outros se resumem a poucas páginas. E se é um facto que percorrer por completo todos os aspectos históricos exigiria um texto bastante mais extenso, também é verdade que parece haver um desequilíbrio na atenção dada a determinados temas. Ao ensino, por exemplo, são dedicadas cerca de duas páginas. Fica a dúvida se não haveria mais a dizer sobre o tema, principalmente quando, noutros temas, há questões que chegam a ser repetidas.
Sendo um livro que aborda os diferentes aspectos de toda uma época, dificilmente se trataria de uma leitura fácil, já que é vasto o conhecimento a assimilar. Juntando-se a isto uma escrita algo densa, o resultado é um livro que exige bastante atenção da parte do leitor e que, por vezes, se torna um pouco cansativo.
Não deixa de ser uma leitura interessante, principalmente pela quantidade de conhecimento que transmite, sendo de destacar as secções dedicadas a cultura e cinema, que são particularmente detalhadas. Fica também a curiosidade em ler outras obras sobre a temática.

Novidades Bizâncio para Julho

Título: Os Mistérios de Jerusalém
Autor: Marek Halter
ISBN: 978-972-53-0053-4 Código de Barras: 9 789 725 300 534
Págs.: 400
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Romance histórico
Romance policial, de aventuras e de cultura
Em Nova Iorque, Paris, Moscovo, e mesmo nas margens do Mar Morto, um manuscrito com mais de dois mil anos faz correr muito sangue. Desvenda um dos 64 enigmas que ainda hoje protegem o tesouro do Templo de Jerusalém. Para além da cobiça do ouro, eruditos, mafiosos e terroristas tentam obter esse manuscrito milenar porque ele poderá também ajudar a esclarecer o mistério dos mistérios: porquê Jerusalém? Porque foi escolhida por Deus — para aí construir a sua morada — uma aldeia situada nos flancos áridos dos montes da Judeia? A resposta encontra-se nas próprias fontes da história desse lugar, onde desde o princípio dos tempos se têm cruzado todas as esperanças e todas as violências. Revelar os mistérios de Jerusalém fará o mundo tremer.

Título: Aconteceu uma Coisa Engraçada a Caminho do Futuro
Autor: Michael J. Fox
ISBN: 978-972-53-0483-9 Código de Barras: 9 789 725 304 839
Págs.: 144
Preço: Euros 7,08/7,50
Autobiografia
«Um pequeno livro que prova que as lições de vida são mais duradouras do que o saber académico.»
Los Angeles Times
«Se é um recém-licenciado, estou certo de que foram muitas as pessoas que desempenharam um papel na sua vida até este momento, e de que se interessam pelo seu percurso a partir daqui. É razoável. A família, os mentores e os amigos fazem parte da sua história pessoal, tal como o leitor da deles. Alimentam esperanças e sonhos que podem replicar ou sobrepor-se aos seus. Mas o que está a acontecer-lhe agora mesmo, precisamente neste momento e neste instante, pertence-lhe unicamente a si. Assuma o seu presente!»
Título: A Nova Europa
Autor: Michael Palin
ISBN: 978-972-53-0484-6 Código de Barras: 9 789 725 304 846
Págs.: 352
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Viagens
Tendo viajado pelo mundo inteiro, vencido montanhas e desertos, Michael Palin inicia mais uma jornada. A Nova Europa, o primeiro livro de uma série com que a Bizâncio inaugura agora a publicação dos relatos das suas viagens, é um périplo de descoberta. Dos Alpes Julianos, à beleza do Mar Báltico, Palin percorre países de que mal se ouviu falar, pouco familiares e misteriosos, todos com histórias trágicas e um futuro bem mais luminoso. A Roménia, a Bulgária, a Moldávia, a Albânia, a Lituânia, a Letónia, a Estónia, a Hungria… são algumas das vinte nações que Palin visita e de que nos fala neste livro. Muitas destas novas nações são minúsculas, algumas com menos habitantes do que Londres mas, apesar da sua dimensão, têm um sentimento muito forte da sua identidade, reforçado e definido pela sua própria língua, cultura, história e moeda.

Novidade Casa das Letras

Tessa Gray parecia a vítima perfeita, jovem, vulnerável e atraente,. E foi por isso que Noah Bishop, da Unidade de Crimes Especiais do FBI, a recrutou para que representasse o papel de uma viúva enlutada. Como pretensa proprietária de terrenos cobiçados pela Igreja do Pecado Eterno, seria um isco irresistível para o carismático e isolado reverendo Samuel.
O seu complexo fortificado, nas montanhas perto de Grace, na Carolina do Norte, foi a última morada conhecida de duas mulheres assassinadas sem que a ciência pudesse explicar como. Apesar de não ser de forma alguma tão ingénua ou vulnerável como aparenta, Tessa sabe que tem muito a aprender sobre o seu dom. Também sabe que Bishop e a UCE têm de estar desesperados para confiarem numa agente com poderes psíquicos e pouca experiência numa operação tão perigosa.
E, de facto, estão desesperados. Pois o assassino que perseguem é o mais aterrador com que alguma vez se depararam e abala até os agentes mais calejados: um líder de culto megalómano e impiedoso capaz de usar as armas, talentos e tácticas dos agentes contra eles. Ao entrar no complexo bem protegido do culto, Tessa estará a expor-se ao magnetismo sombrio de um psicopata dedicado a uma cruzada de terror que não poupa quaisquer vítimas, nem sequer as mais jovens. E Samuel resguarda-se numa congregação fanaticamente leal, cujos membros ocupam surpreendentes posições de poder no seio da comunidade.

Kay Hooper é a autora premiada de Encontro com o Medo, Sleeping With Fear, Hunting Fear, Chill of Fear, Touching Evil, Whisper of Evil, Sense of Evil, Once a Thief, Always a Thief, bem como da trilogia Shadows e de outros romances. Vive na Carolina do Norte, onde se encontra a escrever o seu próximo livro.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um Coração Cheio de Estrelas (Álex Rovira e Francesc Miralles)

De todas as crianças do orfanato, Michel é o único que não olha com mágoa para o que é a sua vida. Mas a tristeza está por perto e quando, uma manhã, a sua grande amiga não desperta, mergulhada num coma inexplicável, cabe a Michel encontrar uma solução. Diz-lhe uma velha mulher que, para salvar Eri, Michel terá de arranjar um coração cheio de estrelas... mas estrelas muito especiais... Estrelas de amor.
É a mensagem que marca neste pequeno livro. A história é simples e contada com brevidade, mas o essencial de cada episódio serve para transmitir uma lição sobre o amor. E é na análise dos diferentes tipos de amor que o melhor desta história se revela: simples e breve, cada pequeno episódio convida à reflexão. O que é o amor, afinal, para lá do mais conhecido amor romântico? Quem, como e porquê amar? A pequena história de Michel e Eri serve de base para uma reflexão sobre estas perguntas e os pequenos momentos ternos dão à simplicidade desta narrativa um toque de magia.
É principalmente como meio para transmitir uma lição que esta história funciona. Assim, os acontecimentos limitam-se ao essencial. Não há grande contextualização e parte da reflexão é deixada à mente (e ao coração) do leitor. Fica, por isso, a impressão de que, enquanto narrativa, talvez um maior desenvolvimento pudesse tornar a história mais completa, mais impressionante. Não me parece, contudo, que seja esse o objectivo e, apesar da simplicidade e da brevidade do enredo, o essencial da mensagem está lá.
Um Coração Cheio de Estrelas é, pois, uma leitura muito simples, uma pequena história que convida o leitor a pensar sobre a força dos sentimentos. Breve como, de facto é, deixa a curiosidade em saber um pouco mais sobre Eri e Michel. Ainda assim, da ternura e da emoção essenciais, nada se perde pela brevidade da história.

Novidade Esfera dos Livros

«Tenho Portugal no meu coração! Ao longo dos anos a minha profissão tem-me levado a quase todas as terras do meu país. Como apresentador de televisão, de espectáculos de variedades ou como actor, quando as peças em que participo percorrem diferentes localidades. Gosto de viajar, de conhecer os cantos e recantos deste meu país. E, de cada vez que saio de casa e me lanço pelas estradas de Portugal, surpreendo-me. Porque encontro um novo restaurante com um petisco que não conhecia, porque uma senhora me conta a história do sítio onde estou, encontro uma paisagem que me rouba o pensamento durante alguns minutos, uma fã do meu trabalho que me tece um carinhoso elogio e me dá forças para continuar a trabalhar, porque participo numa festa tradicional ou romaria com gosto, porque paro para beber um café e para além da bica ouço várias estórias de vida que me enchem o coração, porque alguém partilha uma lenda que me diverte e me enriquece, uma anedota que me arranca gargalhadas, ou porque sou ofertado com uma lembrança da terra que guardo com todo o carinho…» Por tudo isto, João Baião decidiu escrever este livro, onde relata as suas experiências e vivências por terras de Portugal.

João Baião, figura popular da televisão portuguesa, apresentou programas que atingiram grandes níveis de audiências como Big Show Sic, Sábado à Noite/RTP Vamos à Revista/RTP, João Baião/RTP, Campeões Nacionais/SIC; participando também em Grande Noite e Cabaret, ambos de Filipe La Féria para a RTP1. Para televisão, como actor, participou em muitos programas e séries. No cinema participou nos filmes Le Terreur du Midi e O Miradouro da Lua. No teatro interpretou várias peças de autores como Bertolt Brecht - A Mãe Coragem e Happy End; Shakespeare - Romeu e Julieta, José Saramago - A Segunda vida de Francisco de Assis, entre outras. Integrou o elenco de alguns espectáculos de Filipe La Féria no Teatro Politeama e participou em várias revistas. Actualmente apresenta o programa televisivo Portugal no Coração e encenou e protagoniza o espectáculo A Casa da Fama que está em cena nas principais salas do país.

domingo, 17 de julho de 2011

Querido, Querido Dexter (Jeff Lindsay)

Vigiado e sob suspeita, a única opção que resta a Dexter é a de manter uma vida normal, dentro do possível. Pelo menos até descobrir uma forma de se livrar de Doakes. Mas a solução de que precisa acaba por surgir de forma inesperada quando um psicopata de métodos particularmente chocantes surge na cidade, com um passado complicado e a vingança como missão...
Tudo o que de cativante surgiu no primeiro livro desta série está também presente em Querido, Querido Dexter. O humor negro, o ritmo envolvente, a improvável empatia para com um protagonista que é - independentemente dos seus códigos e regras - um serial killer... A conjugação de tudo isto numa história cativante, cheia de surpresas e onde a voz do narrador representa algo de particularmente intrigante, resulta numa leitura quase compulsiva, onde quer as personagens quer os acontecimentos contribuem para manter constante a curiosidade em saber o que virá a seguir.
Há também todo um lado novo no que respeita à caracterização das personagens, algo de diferente (comparativamente ao primeiro livro) no que o autor deixa ver relativamente à natureza das suas personagens. Dexter, com a sua ausência de alma (ou assim o diz ele) demonstra traços de uma humanidade que (supostamente) não tem ao conviver com Rita e os seus filhos, descobrindo a sua própria capacidade de adaptação à normalidade. Deborah, feroz e determinada, mostra o seu lado sensível e vulnerável na genuína preocupação acerca do destino de Kyle. E até Doakes, o arqui-inimigo implacável, revela uma certa capacidade de racionalização ao colocar o caso acima da sua aversão por Dexter.
Se o ritmo deste livro é compulsivo desde as primeiras páginas, com acção quase constante ao longo de toda a narrativa, o final acaba por surgir, mais uma vez, como algo brusco. O essencial do enredo fica definitivamente resolvido, ainda que haja pequenos aspectos que ficam em aberto. Ainda assim, a tensão que vinha a crescer ao longo do enredo acaba por se encerrar numa solução adequada, mas algo apressada, deixando a impressão de que, nesse aspecto, um pouco mais de desenvolvimento daria mais impacto ao final.
Intrigante, com um sentido de humor estranhamente cativante e um protagonista cada vez mais invulgar, Querido, Querido Dexter conjuga as medidas certas de humor, macabro e mistério para apresentar uma leitura cativante e agradável. Interessante e surpreendentemente descontraído. Uma boa leitura.

sábado, 16 de julho de 2011

O Céu Também Tem Degraus (Luís Ferreira)

Percorrendo os patamares do amor nas suas diversas possibilidades, é essencialmente de sentimento que são feitos os poemas que constituem este livro. Empatia e sensualidade, perda e nostalgia são apresentados em diversas formas de sentir, imagens que oscilam entre a simplicidade de poucas linhas e a construção de todo um cenário interior.
Sem limitações estruturais, cada poema tem o ritmo que as palavras impõem - sem rima, sem limitações métricas - para melhor expressar a sua mensagem. Não são, portanto, os pormenores técnicos que se destacam na poesia deste autor, mas sim a mensagem. Ou as mensagens, já que, ainda que o amor seja sempre o ponto central, cada patamar apresenta uma visão algo diferente das causas, ligações e consequências desse sentimento.
Há, portanto, diferentes rumos de pensamento e de sentimento nas várias fases que constituem o livro, sendo cada uma delas uma diferente forma de comunicar com o leitor. No que me diz respeito, a minha predilecção vai para os poemas onde a melancolia predomina, já que há uma maior empatia na voz nostálgica do sujeito poético. Ainda assim, a fluidez é comum aos diferentes temas e a leitura é agradável em todas as fases.
Expressão de sentimentos a um nível pessoal e feito de diversos sentimentos, este livro é, acima de tudo, uma visão essencialmente emocional do amor. Uma voz cativante a descobrir.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Segredo de Barcarrota (Sérgio Luís de Carvalho)

Médico na vila de Barcarrota, Francisco de Penharanda vive entre as suas funções e os seus segredos. Ao mesmo tempo que lida com a doença mental da mulher, Francisco tem também de manter bem ocultos os seus segredos já que os olhos da Inquisição estão em toda a parte e as consequências serão severas caso a sua posição de judeu oculto seja descoberta. Entretanto, o pároco da vila - que tem o particular dom de manter com o diabo alguns diálogos interessantes - é substituído. E o recém-chegado Frei Ruiz do Monte Sinai, com a sua postura severa e o seu conhecimento inegável, surge também como um mistério e uma ameaça, abalando a tranquilidade das gentes de Barcarrota com o medo que se insinua na sua chegada.
Envolvente e com uma voz narrativa muito própria, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas. Primeiro, pela situação de abertura que é, por si só, um elemento intrigante e que desperta curiosidade. Depois pela forma como, com fluidez e sem elaborações desnecessárias, o autor constrói um enredo interessante onde cada uma das diferentes personagens tem características muito definidas e histórias com muito de cativante. A isto junta-se ainda a aura de medo que, com a ameaça da Inquisição, cria no ambiente geral toda uma nova tensão, resultando numa história interessante, com um bom protagonista e um contexto histórico apresentado de forma precisa e sem monotonia.
Há várias personagens interessantes ao longo do livro, mas é inevitável que se destaquem Francisco de Penharanda e Frei Ruiz de Monte Sinai. Ambos têm personalidades fortes, segredos profundos e uma história marcante. É a estranheza da tensão que se cria entre ambos, ainda assim, que confere a ambos o maior fascínio, já que, entre acontecimentos, insinuações e ameaças, o contraste entre as suas personalidades evidencia-se e a linha que separa a empatia da inimizade surge cada vez mais ténue. Há, ainda, algo de trágico que se insinua e que apenas na fase final da narrativa encontra a possível resolução.
Um livro envolvente, com uma escrita agradável e um ambiente bastante cativante, O Segredo de Barcarrota marca, ainda assim, principalmente pela empatia e pela emoção das suas personagens. Percorrendo com fluidez um amplo espectro de laços e de emoções, - do medo à esperança improvável, passando pela amizade, lealdade e traição - é nos detalhes de cada momento que se encontra o melhor deste livro. Cativante. Emotivo. Muito bom.

Novidades BIS

Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso no coração da cidade velha: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito, que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona.
Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, A Sombra do Vento é sobretudo uma história trágica de amor, cujo eco se projecta através do tempo.
Com uma grande força narrativa, o autor entrelaça tramas e enigmas ao modo de bonecas russas num inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, numa intriga que se mantém até à última página.

Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona em 1964. É um dos romancistas europeus de maior projecção em todo o mundo. Em 2001 publica a primeira narrativa para adultos: A Sombra do Vento, que se converteu no romance espanhol de maior êxito mundial. As suas obras foram traduzidas para mais de trinta línguas e publicadas em mais de quarenta países, obtendo inúmeros prémios internacionais e conquistando milhões de leitores. Em Portugal, A Sombra do Vento foi distinguido com o Prémio Literário Correntes d’ Escritas 2006.
Em 2008 a Dom Quixote publicou o romance O Jogo do Anjo, uma obra que retoma o ambiente e
algumas das personagens de A Sombra do Vento.

Bruno, de nove anos, nada sabe sobre a Solução Final e o Holocausto. Não tem consciência das terríveis crueldades que são infligidas pelo seu país a vários milhões de pessoas de outros países da Europa.
Tudo o que ele sabe é que teve de se mudar de uma confortável mansão em Berlim para uma casa numa zona desértica, onde não há nada para fazer nem ninguém para brincar. Isto até ele conhecer Shmuel, um rapaz que vive do outro lado da vedação de arame que delimita a sua casa e que estranhamente, tal como todas as outras pessoas daquele lado, usa o que parece ser um pijama às riscas.

John Boyne nasceu em Dublin, em 1971. Estudou no Trinity College, em Dublin, e na Universidade de East Anglia, em Norwich. Foi escritor-residente da Universidade de East Anglia para a área de Escrita Criativa e trabalhou durante vários anos como livreiro.
Dedica-se actualmente à escrita a tempo inteiro. Publicou já quatro romances para adultos e um para jovens, tendo este último (O Rapaz do Pijama às Riscas) conhecido enorme sucesso em todo o mundo. Vive em Dublin.

Esta obra foi publicada em Dezembro de 1979, pela Moraes Editores, ilustrada com pinturas de Júlio Pomar e capa de Sebastião Rodrigues. Mais tarde, em 1999, foi editada pela Dom Quixote. Fazem parte do livro os seguintes contos: “Os reis-mandados; O conto dos chineses; Nós, aqui por entre o fumo; Dinossauro Excelentíssimo (versão revista pelo Autor após o 25 de Abril); Celeste & Làlinha: por cima de toda a folha.

Sobre o autor: José Cardoso Pires (1925-1998) nasceu a 2 de Outubro de 1925 na aldeia de Peso (Castelo Branco) e faleceu em Lisboa, a 26 de Outubro de 1998. Considerado um dos mais importantes escritores portugueses contemporâneos, a sua obra foi traduzida em diversas línguas e distinguida com os seguintes prémios: Prémio Internacional União Latina (Roma, 1991); XXV Prémio Internacional Ultimo Novecento (Pisa, 1992); Prémio Pessoa (Lisboa, 1997); Prémio Vida Literária da APE (Lisboa, 1998); Prémio Bordallo de Literatura da Casa da Imprensa (Lisboa, 1998). Alguns dos seus livros foram ainda premiados individualmente, como é o caso de O Hóspede de Job (1963) – Prémio Camilo Castelo Branco; Balada da Praia dos Cães (1982) – Grande Prémio de Romance e Novela da APE; Alexandra Alpha (1987) – Prémio Especial da Associação de Críticos do Brasil; De Profundis, Valsa Lenta (1997) – Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus e Prémio de Crítica da Associação Internacional de Críticos Literários.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pecados na Noite (Sherrilyn Kenyon)

Uma das regras essenciais no mundo dos Predadores da Noite é que atacar um humano está fora de questão. Mas, por vezes, surgem circunstâncias em que pensamentos de rebelião dão origem a acções intoleráveis. Nessas alturas, cabe a Alexion intervir. Desta vez, contudo, as coisas são pessoais para a mão executora de Acheron: um dos rebeldes foi, em tempos, seu amigo. E a mulher a quem compete ajudá-lo ou morrer desperta em si sentimentos mortos há nove mil anos...
Envolente e cheio de sensualidade, como sempre, este livro apresenta um lado diferente do sistema dos Predadores da Noite, revelando um pouco mais do mundo privado de Acheron, ao mesmo tempo que prepara caminho para acontecimentos de maior impacto global no futuro. Como habitual, a história centra-se no casal, mas também é este é invulgar: é a protagonista feminina quem pertence aos Predadores da Noite. Alexion é... "outra coisa". E esta particular escolha de protagonistas permite uma visão clara tanto do que pode abalar o sistema cuidadosamente planeado dos Predadores da Noite (e aqui é interessante ver o poder de uma mentira, mesmo que pouco credível) como do que reside no mundo das forças superiores. Apresenta também uma interessante abordagem ao que será a vida depois da morte (bem, da segunda morte) destes seres invulgares.
Também característico desta série é o passado atormentado dos protagonistas, particularmente marcante neste livro em que tanto Alexion como Danger têm sombras e traições na sua história. E também isto contribui para a força emotiva dos momentos mais marcantes, já que, para além do passado, há também uma certeza de perda inevitável ao longo de parte do livro, limitação que confere intensidade aos momentos mais intensos da narrativa.
Ficam, como sempre, algumas perguntas por responder. Ainda assim, e no que toca à história de Danger e Alexion em particular, a impressão final é a de uma história intensa, sensual e emotiva, com uma conclusão particularmente marcante. Cativante e agradável, uma boa leitura.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Manual do Detective (Jedediah Berry)

Charles Unwin trabalha como escrivão numa agência de detectives onde as regras são muito estritas e onde aqueles que desempenham diferentes funções não devem contactar senão com os seus iguais. E eis que, subitamente, Unwin é promovido, sem quaisquer explicações e em circunstâncias, no mínimo, improváveis, já que o detective de cujos relatórios tratava desapareceu misteriosamente. Cabe pois ao confuso Unwin, agora detective, descobrir o que aconteceu ao lendário Travis T. Sivart, ao mesmo tempo que, desvendando os mistérios da sua própria promoção, toda uma estranha forma de investigar é revelada.
História de detectives com um twist, é a estranheza o que primeiro transparece desta leitura. Desde as primeiras páginas, feitas de encontros improváveis e de muitas mudanças sem explicação, há um enredo que é construído com base no surreal e no improvável e onde sonho e realidade se confundem. Na verdade, é no mundo dos sonhos que muitos dos elementos fulcrais da narrativa se desenvolvem e o resultado é uma história onde nem tudo é explicado, mas (quase) tudo é possível.
É particularmente interessante o contraste entre os elementos da clássica investigação detectivesca - seguir pistas, fazer perguntas, tomar notas e organizar ideias - e todo o conjunto de elementos surreais que constituem a possibilidade de investigar em sonhos, invadindo mentes adormecidas, forçando o sono, aprisionando no interior do sonho. Tudo isto tendo como protagonistas personagens tão misteriosas como o contexto em que se encontram - e, por vezes, também igualmente improváveis.
Fica, nalguns momentos, a impressão de algum contexto em falta, principalmente em situações mais complexas cuja origem nunca é completamente explicada. Ainda assim, e apesar desses momentos mais confusos, a leitura é, de modo geral, envolvente e agradável, escrita de forma fluída e com um ambiente sombrio e enigmático que é particularmente cativante.
Um livro invulgar, feito de elementos estranhos tanto a nível de enredo, como de cenários e de personagens. Envolvente, apesar de alguns momentos mais difíceis de seguir, uma história intrigante, com um bom protagonista e alguns momentos particularmente curiosos. Gostei.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Um lugar chamado Oreja de Perro (Iván Thays)

Um lugar onde o silêncio parece ser o mais estranho e onde todos em redor têm certas peculiaridades. Aí, numa viagem curta, mas feita de experiências, um jornalista procura a coragem para escrever uma carta e também, talvez até sem o saber, uma forma de lidar com a perda que não consegue aceitar. No seu caminho, figuras invulgares: o fotógrafo que o acompanha no seu trabalho, cínico e de personalidade duvidosa. A mulher grávida, com um passado conturbado e a pretensão de falar com anjos. O homem que perdeu a memória e que, apesar disso, não se cansa de aprender... Personagens e personalidades invulgares, numa história que, mais que um protagonista, define uma vida e um passado num local onde o tal estranho silêncio é a estrada de uma descoberta pessoal.
Importa referir, antes de mais, que apesar da multiplicidade de personagens e situações invulgares, este é um livro que se lê com surpreendente facilidade. A escrita simples, fluída, sem grandes elaborações, deixa que as imagens e o rumo da história exerçam o seu efeito sobre o leitor, sem artifícios desnecessários. A voz do narrador, directa, pessoal, expressa com precisão as emoções, as experiências e as memórias que marcam o seu percurso, criando, ao mesmo tempo, envolvência e empatia. E as possibilidades que são deixadas em aberto, as situações que, apenas insinuadas, deixaram marcas em todo o percurso posterior, criam um interessante equilíbrio entre o que é, de facto, contado, e o que é deixado à imaginação do leitor.
O tom é o de uma certa melancolia, causada por uma perda irremissível e responsável por uma visão algo distante do mundo. A forma como, por vezes, o narrador parece olhar os acontecimentos em seu redor como se fosse apenas um espectador, contrasta com a necessidade de permanecer presente em alguns momentos, bem como com a relutância em escrever a tal carta na qual reside um passo definitivo, irrevogável.
De leitura simples, mas com uma força emocional impressionante, o que mais marca neste livro é a forma como o autor percorre os silêncios e as complicações desse lugar algo esquecido que é Oreja de Perro, sem perder de vista o lado pessoal de cada personagem, de cada acontecimento, de cada história. E é dessas histórias de perda, de mágoa e, talvez, de redenção, que se fazem as imagens que ficam na memória. Muito bom.

Novidade Noites Brancas

Quando o marido lhe comunicou que teria de mudar-se para outra cidade por razões profissionais, Joan Anderson soube instintivamente que não o acompanharia nessa mudança. O desgaste da relação e a saída de casa dos filhos de ambos apontavam-lhe outro caminho.
Foi então que decidiu passar uma temporada numa casa da família, junto ao mar. Quem sabe se algum afastamento da vida quotidiana, até aí inteiramente dedicada ao marido, aos filhos e ao lar, não seria aquilo de que estava a precisar? Quem sabe se o
ritmo das marés não seria o tónico necessário para uma transformação interior que lhe devolvesse a auto-estima e o prazer de viver?
Durante o ano seguinte, Joan desfrutou da solidão, viveu novas experiências e aprofundou a sua própria personalidade. Descobriu o seu lado mais íntimo e determinada a sair do marasmo em que se encontrava decidiu tomar as rédeas do seu futuro. O resultado? Um livro inspirador e cheio de reflexões no qual os sentimentos assumem um protagonismo especial.

Joan Anderson é apresentadora de televisão, jornalista e autora de numerosos contos infantis, bem como do aclamado livro Breaking the TV Habit. Um Ano à Beira-Mar é a sua obra mais pessoal e um êxito de vendas, tendo permanecido 30 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times.
Numa tentativa de partilhar o que aprendeu ao longo do ano que passou junto ao mar, Joan Anderson criou o programa «Fim-de-Semana à beira-mar», de forma a ajudar outras mulheres a explorar o essencial da vida e a desfrutar o momento presente.
Joan vive com o marido em Cape Cod, onde organiza os seus workshops. É ainda oradora frequente em palestras que versam os problemas das mulheres e o papel dos media nas nossas vidas.

Novidade Sextante

«Inteligente, subtil e soberbamente escrito, Vieram como andorinhas é um breve romance sobre um rapaz extremamente sensível crescendo numa
cidade pacata no estado de Illinois. Contado do ponto de vista do jovem Bunny, a narrativa convida-nos a explorar as suas relações com o pai, a mãe, a tia, o irmão e, sobretudo, a sua maravilhosa e adorada mãe. É um retrato poético e perspicaz de uma família burguesa americana enfrentando os problemas diários da vida durante a pandemia de gripe que matou milhões de pessoas no mundo em 1918-1919.
O génio de Maxwell prende-se com a sua capacidade de exprimir emoções profundas e complexas através de observações simples e magnificamente descritas.
Este é o meu romance preferido do autor.»
-- Richard Zimler

William Maxwell nasceu em 1908, em Lincoln, Illinois, e morreu em 2000, em Nova Iorque. Escreveu seis romances e três coletâneas de contos. Foi editor da revista New Yorker durante quarenta anos, onde trabalhou com autores como Vladimir Nabokov, John Updike, J. D. Salinger, John Cheever, Frank O’Connor, John O’Hara ou Eudora Welty. Em 1995, recebeu o PEN/Malamud Award. O seu romance Adeus, até amanhã, que a Sextante publicou em 2011, foi galardoado com o American Book Award.