terça-feira, 18 de outubro de 2011

Marquesa de Alorna (Maria João Lopo de Carvalho)

Arrancada à serenidade da infância no dia do Grande Terramoto, fechada num convento durante dezoito anos e depois devolvida a um mundo de intrigas, contradições, pequenas alegrias e grandes momentos de perda, Leonor de Almeida Portugal, marquesa de Alorna, ficou para a História como uma mulher excepcional. Esta é a história dos seus sonhos, das suas experiências, das tragédias pessoais que a rodearam. De uma vida definida por um temperamento determinado e por uma longa luta através de tempos conturbados.
Um dos aspectos mais impressionantes deste longo livro é a forma como, através de quase setecentas páginas e todo um longo percurso de vida, a narrativa nunca deixa de ser envolvente. Capítulos curtos, mas um cuidado equilíbrio entre a contextualização da época (e seus principais acontecimentos) e a narrativa propriamente dita, fazem com que a história flua de forma natural, cativante. É fácil criar empatia para com as personagens, desde as mais conhecidas àquelas que desempenham papéis mais pequenos no decorrer dos eventos. E, entre muitas personagens marcantes, destaca-se, como não podia deixar de ser, a forte e determinada Leonor.
É, na verdade, do crescimento e da mudança que Leonor sofre através do seu fascinante percurso, que se define a grande força deste livro. Do sofrimento da criança de ideias firmes nascem ódios que perduraram toda a vida. A descoberta do amor será inebriante e intensa. O conhecimento da perda deixará marcas que criarão tristeza, mas também uma força maior. E o acumular de sucessivas perdas e tragédias contribuirá para a definição de um carácter mais duro, mais intenso... por vezes, demasiado centrado nas suas próprias certezas. É um percurso de vida em que as grandes qualidades são apresentadas com clareza, mas sem que os defeitos sejam, por isso, disfarçados. As grandes acções e os pequenos gestos, as escolhas louváveis e as censuráveis... tanto o bom como o mau de uma figura admirável, mas que, neste livro, surge também com o seu lado falível. E, também por isso, mais humana e mais real.
A história é longa, é certo, e o caminho de Leonor mostra também o caminho de um país em tempos conturbados. Mas é precisamente essa fusão entre os grandes acontecimentos históricos e a história mais pessoal da protagonista que dão força a um livro cheio de elementos para descobrir, mas que nunca se torna aborrecido. Fascinante, em suma.

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