quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Noites de Jasmim (Julia Gregson)

Tudo começa com uma canção. Durante um pequeno concerto num hospital militar britânico, a cantora Saba Tarcan conquista a alma de Dom, piloto de caça. Bastam alguns instantes e tudo está terminado, mas a memória de Saba permanece no coração do piloto, mesmo depois da sua recuperação. Só duas coisas importam no pensamento de Dom: voltar a voar e encontrar Saba. Mas, em plena guerra, Saba está também na sua própria demanda. Cansada dos obstáculos levantados pela família e decidida a seguir o seu sonho, Saba junta-se à ENSA para colaborar no esforço de guerra na forma que melhor sabe: cantando para os soldados. No norte de África, Dom e Saba voltarão a encontrar-se, no centro da agitação e do caos da vida entre soldados. Mas, enquanto Dom volta aos voos num esforço por ignorar as dificuldades e a culpa, Saba vê-se envolvida num ambiente bem menos inocente do que o que esperava. É que a voz de Saba pode ser uma porta de entrada para segredos cruciais à vitória no conflito...
Ainda que o afecto entre os protagonistas seja o motivo para muitas das suas escolhas e acções, não é o romance o aspecto mais marcante neste livro. Há momentos de grande ternura entre Dom e Saba e discussões que mostram a falibilidade (e, portanto, dão realismo) na relação, mas a história deste livro é mais dos seus percursos individuais que da relação entre ambos. Neste aspecto, a história de Saba é bastante mais complexa e explorada em maior profundidade, até porque o seu percurso é bastante mais complicado que o de Dom, mas também na história deste há alguns momentos marcantes, principalmente no trauma e na persistência da culpa resultante do sucedido aos amigos.
O caminho de Saba é o da história de um sonho e do despertar para a realidade. É, também, a base para uma interessante abordagem a várias questões interessantes, sendo a mais relevante a dos preconceitos relativamente ao papel da mulher na sociedade e da prioridade das suas escolhas relativamente às do homem. Isto é explorado tanto a nível familiar como, mais tarde, em algumas das atitudes de Dom, o que cria também um curioso paralelismo. Apesar das diferenças culturais, Dom reflecte também muitos dos defeitos do pai de Saba. Mas há mais dificuldades na história da jovem cantora e a forma como o seu papel na guerra e no palco acaba por se tornar muito diferente do que sonhara - primeiro com os atritos com Bagley, depois com a aplicação da sua voz enquanto arma de espionagem - acaba por ser, de certa forma, a destruição da inocência, dando lugar a uma existência marcada pelas situações difíceis, mas, ainda assim, longe de vazia.
Importa ainda referir a forma como a autora mostra, neste livro, um lado bastante diferente da guerra. Longe dos grandes conflitos, mas centrada na imprevisibilidade das circunstâncias, evoca um poderoso contraste ao opor festas e momentos de boémia com a necessidade de viver o dia a dia sob o medo e a ameaça de um fim próximo. Isto influencia, também, o meio em que se movem os protagonistas, conferindo intensidade aos momentos mais marcantes da sua história.
A escrita é envolvente e agradável, apesar de alguns momentos em que o tom parece ser demasiado distante para as circunstâncias descritas. Além disso, alguns dos capítulos referentes a Dom são bastante descritivos, com muitos pormenores sobre a sua experiência de voo e as recordações que repetidamente o perturbam. Isto torna o ritmo de leitura bastante mais pausado, o que, associado à ocasional distância do tom e a algumas perguntas que ficam sem resposta, apaga um pouco o impacto emocional de alguns dos momentos da história. 
História de um romance em tempos difíceis, mas, acima de tudo, do crescimento e da descoberta da identidade própria dos seus protagonistas, Noites de Jasmim apresenta uma interessante visão do lado menos imaginado da guerra, ao mesmo tempo que questiona preconceitos através da vida de uma protagonista humana e determinada. Trata-se, portanto, e apesar de alguns aspectos menos conseguidos, de uma leitura envolvente, com uma escrita cativante e uma boa história. 

2 comentários:

  1. Gostei imenso da tua opinião. Agora sim, estou curiosa para ler este livro :D

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  2. vou lê-lo quando regressar de férias ;)

    bjs e boas leituras*

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