quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Mentira Escura (Gena Showalter)

Possuído pelo demónio da Mentira, Gideon não pode pronunciar uma única verdade sem que, por isso, a dor o debilite. Mas esse não é o seu único problema. Há uma imortal, aprisionada pelos Senhores do Submundo, que, para além de ter ela própria um demónio no seu interior, afirma ser sua esposa. O problema é que Gideon não se lembra de absolutamente nada que diga respeito a Scarlet. Apenas uma vaga familiaridade e uma atracção cada vez mais forte pela imortal. Gideon precisa de respostas e sabe que não as pode obter na masmorra. E, por isso, decide levar Scarlet para um lugar diferente, na esperança de conseguir saber qual é, afinal, a verdade. Mas as respostas não serão agradáveis, nem para Gideon, nem para a própria Scarlet.
Um dos aspectos mais cativantes desta série é a forma como a autora explora diferentes tipos de imortais, envolvendo anjos, deuses e demónios numa história que é maior que a do romance entre os protagonistas. Este complemento ao lado romântico do enredo tem vindo a crescer ao longo dos vários livros e é particularmente interessante neste volume, em que o conflito global entre os Caçadores e os Senhores do Submundo (e, principalmente, entre os deuses que tomaram partido por um dos lados) influencia directamente a situação dos protagonistas. Até porque o ponto de partida para a relação entre ambos é já bastante complicado.
Ainda que os Caçadores tenham um papel a desempenhar, neste livro são os deuses que ganham protagonismo. Isto deve-se em grande medida às memórias que Gideon parece ter perdido e às razões para que as recordações de Scarlet não correspondam às do guerreiro, mas também à ligação de Scarlet à deusa Reia. Além disso, o maior desenvolvimento dos conflitos e interacções entre os deuses e com os membros de ambas as facções permite uma melhor caracterização das personalidades e das motivações dos deuses e, no caso particular de Cronos, a revelação de um lado bastante diferente da sua natureza.
Não há grandes interferências - excepção feita aos momentos mais complicados a nível de acção - da parte dos amigos de Gideon na interacção deste com Scarlet, até porque grande parte da sua história decorre longe da fortaleza. Ainda assim, a autora não se limita aos protagonistas, desenvolvendo para outros dos Senhores do Submundo uma missão a desempenhar. São desenvolvimentos relativamente secundários que surgem ao longo da narrativa, mas que permitem ver um pouco mais da vida dos outros guerreiros e que, principalmente no caso de Amun, deixam já algumas pistas para o que poderá suceder nos próximos livros.
No que diz respeito ao romance - que é, afinal, o centro da narrativa - sobressai a forma como as personalidades dos protagonistas se complementam e a influência do passado na forma de pensar de ambos. Além disso, as várias revelações associadas às memórias de Gideon e à interferência dos deuses na vida de Scarlet servem de base a alguns momentos mais emotivos, facilitando a empatia para com as personagens. Junte-se a isto um agradável toque de humor, principalmente na estranha forma de expressão de Gideon, mas que surge também noutros momentos, e o resultado é uma história leve e cativante, mas com a medida certa de emoção.
Com um casal de protagonistas carismáticos, um romance com as medidas certas de leveza e emoção e também uma história maior que a do romance entre duas personagens, trata-se, portanto, de uma interessante evolução nas histórias dos Senhores do Submundo. Agradável e cativante, um dos melhores volumes da série.

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