quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Tim (Colleen McCullough)

Aos vinte e cinco anos, Tim é dono de uma beleza incomparável... e de uma grande fragilidade. Apesar da sua deficiência mental, os pais insistiram em arranjar-lhe um emprego, para que, quando se encontrasse sozinho, pudesse, tanto quanto possível, olhar por si próprio. Mas há coisas que Tim não compreende e os colegas de trabalho divertem-se a pregar-lhe partidas cruéis, que a sua mente não consegue compreender e que, por isso, o magoam. Apesar disso, também Tim tem direito ao afecto. E, quando a vizinha do lado da casa onde ele e a equipa estão a trabalhar o convida para tratar do seu jardim aos Sábados, nem Tim nem a distante Mary Horton imaginam a força da ligação que virá a surgir entre ambos.
De tudo o que de bom há neste livro, e é muito, aquilo que mais marca é a intensidade dos sentimentos que evoca. A mestria com que a autora gere contrastes, dificuldades e preconceitos para criar a história de uma relação tão rara como comovente é, sem dúvida, a grande força na base deste livro e aquilo que faz com que permaneça na memória. Tudo gira, no fundo, em volta de Tim, mas há um mundo tão grande à sua volta e uma inocência tão terna nos sentimentos que evoca, que tudo na sua história - desde as pequenas experiências ao crescimento do afecto que, no fundo, é o essencial de tudo - enternece e comove.
Enquanto protagonista, Tim é uma figura fascinante. Belo como poucos pela sua imagem física, mas tendo na sua natureza inocente uma outra forma de beleza, Tim cativa em todos os aspectos. Na forma como reage à crueldade dos outros e na devoção incondicional que parece ser a sua única forma de amar, mas também nas dúvidas que fecha dentro de si e na forma como estas lhe moldam as reacções, Tim é uma personagem complexa e completa no que o forma, independentemente das suas diferenças. E é também o que o distingue de Mary, a suposta mulher normal, mas que esconde também as barreiras que as suas escolhas lhe impõem. Tim expande, com Mary, a sua capacidade de aprender, mas também Mary cresce com a companhia de Tim. E, no seu crescimento gradual da curiosidade ao afecto e, depois, a um amor completo e mais forte que as convenções e preconceitos, a jornada de crescimento que é a relação entre ambos molda as suas personalidades no que de melhor têm para dar.
Mesmo que o afecto possa tirar importância aos obstáculos, estes não deixam de existir. E aqui reside ainda um novo ponto forte deste livro. Nem tudo é positivo na relação entre Mary e Tim. As dificuldades existem e a autora tem o cuidado de as considerar, ao longo da história, sem nunca diminuir o seu impacto. Esta é, aliás, uma forma de explorar tanto o lado bom como o mau da forma como as pessoas encaram a diferença. Mesmo entre os mais próximos de Tim, há algo de preconceito a surgir e a superação da mentalidade instituída - ou, para alguns, a incapacidade de o superar - fazem parte do que torna esta história tão marcante, pois reflectem um mundo em que algumas conquistas são possíveis, mas nem todas as mentalidades mudam de um dia para o outro.
História de afecto, de ternura e de amor, este é um livro sobre diferenças e contrastes, mas, principalmente, sobre as características que unem todos os seres humanos. Uma leitura envolvente, bem escrita e poderosíssima a nível de impacto emocional, e uma história que fica na memória bem depois de terminada a leitura. Muito bom.

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