domingo, 18 de novembro de 2012

O Demónio Branco (Lev Tolstói)

Enquanto combatente entre os resistentes à assimilação pelo império russo, Hadji-Murat foi um homem temível e causou bastantes embaraços às forças do czar. Mas o líder dos resistentes é, para ele, um inimigo e tem controlo sobre a vida dos seus familiares, É essa a razão que leva Hadji-Murat a submeter-se ao czar, na esperança de que a possibilidade de recorrer às suas capacidades leve os russos a negociar a libertação da sua família. Mas o tempo passa e, de deslocação em deslocação, de conversa em conversa com diplomatas e oficiais, Hadji-Murat cria amizades ou aversões aos seus interlocutores, mas a negociação, essa, parece ser eternamente adiada. Talvez não haja interesse suficiente... Talvez seja preciso tomar nas mãos a decisão e lutar pela liberdade dos seus... ou morrer a tentar.
É curioso notar que, sendo esta uma obra relativamente breve,principalmente se comparada com as mais conhecidas do autor, a imagem do ambiente e do conflito que serve de base à história nada perde de precisão relativamente a essas obras, ganhando, até, em envolvência. Estão presentes os expectáveis momentos mais descritivos, que contribuem para que um ritmo bastante pausado, mas não são exaustivos ao ponto de perder de vista as personagens e é essa a grande força deste livro. 
Os protagonistas estão presentes e são o foco da história. São mais que figuras para a caracterização de um contexto histórico. Mas, ainda que Hadji-Murta seja a figura central e a razão de muitos dos acontecimentos, a história não trata apenas do seu plano e dos seus movimentos. É também a da condição da sua família como resultado das inimizades com Shamil. A dos homens que o acompanham na submissão e, depois, na acção. A dos soldados e oficiais que com ele se cruzam e cujo conhecimento deixa marcas, boas ou más. Cada personagem é uma peça num cenário maior, mas é, também, cativante por si própria. Tanto o temível Hadji-Murat como o soldado que com ele se cruzou por breves momentos têm os seus momentos marcantes e a caracterização emocional que os torna humanos e cativantes para quem segue a sua história.
Mas há também um conflito, para lá das personagens, e a história das personagens - e de Hadji-Murat, em particular - serve também para caracterizar esse conflito. As mudanças de lealdades, as intrigas e inimizades sem relação com a questão global, os atrasos e recuos da diplomacia... Todos estes aspectos são desenvolvidos de forma sucinta, mas precisa, criando um retrato bastante completo do sistema em que decorre a história, sem que excessos de descrição surjam para a tornar monótona. 
De tudo isto resulta uma história que é tanto a das personagens como a da guerra em que vivem, numa narrativa cativante, com algo de descrição, mas sem excessos, e com vários momentos marcantes a conferir intensidade ao ritmo relativamente pausado dos acontecimentos. Envolvente e equilibrado na relação entre as histórias individuais e o contexto global, um bom livro.

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