sábado, 15 de dezembro de 2012

Ter Alma é um Cliché (Etta Pandora)

Através das cartas, quase poemas, que escreve a um amor sem nome, uma mulher divide-se em múltiplas personalidades para lidar com o que parece ser uma perda devastadora. Cada flor corresponde a um nome e cada nome a uma faceta da sua personalidade. A sedutora, a pensativa, a amargurada. Os pensamentos variam entre a evocação dos momentos eróticos e uma reflexão sobre o seu papel no mundo, passando pela perda e pela saudade, bem como pelo olhar com que vê os que a rodeiam. A dona das cartas é, ao mesmo tempo, uma e muitas mulheres, algumas delas difíceis de entender.
O mais interessante deste livro está na sua organização muito própria. Com as múltiplas facetas da personalidade associadas a diferentes flores, a alternância dos textos entre a forma poética e a quase crónica e a associação a diferentes datas significativas, a autora cria, para este pequeno livro, uma interessante estrutura, com várias ligações interessantes a criar um sentido de união entre os vários textos. Além disso, as múltiplas personalidades da protagonista reflectem-se não só no nome com que assina cada texto, mas também pela forma de expressão e pelas emoções que evoca, havendo, ao longo da leitura, vários momentos particularmente bons e algumas frases realmente memoráveis.
Há, ainda assim, algumas causas de estranheza. A primeira é o choque causado por alguns contrastes de vocabulário, em que palavras insinuantes, quase discretas, chocam com outras de linguagem dura e sem rodeios, deixando a impressão de uma mudança demasiado brusca. Além disso, é difícil criar empatia para com alguns dos pontos de vista desenvolvidos, nomeadamente naqueles em que os estereótipos sobre mulheres e homens, e respectivos papéis no mundo, são mais evidentes. Se a organização do livro realçava os pontos de união entre os textos, estas características realçam-lhe as diferenças, havendo alguns - particularmente entre os mais poéticos - em que as palavras e o que evocam parece familiar, enquanto que noutros é a estranheza que prevalece.
Este é, por isso, um livro que deixa sentimentos ambíguos, já que alterna entre alguns textos realmente marcantes e outros em que é difícil acompanhar a forma de pensar neles apresentada. Tem os seus momentos interessantes, ainda assim.

1 comentário:

  1. Eu sempre gostei do teu blog. Verdade seja dita que não comento muito (nunca fui de comentar), mas foi por gostar dele que te deixei um selinho no meu bloguinho :D

    Bjs*

    ResponderEliminar