domingo, 13 de janeiro de 2013

Herança de Traição (J.F. Subtil)

João Fernando é o mais novo dos filhos de uma família rica, na Golegã. O mais sensato dos irmãos, e também aquele que mais se preocupa com o futuro da herdade, é visto, por muitos, como quem deveria receber a herança, mas a probabilidade de que isso aconteça é escassa. Assim, João decide abrir o seu escritório e exercer a profissão para que estudou. Mas a sua vida começa a mudar no momento em que vê Rosa, uma das trabalhadoras da quinta, pela primeira vez. Há algo de forte a nascer entre ambos e não basta o facto de virem de mundos diferentes para o deter. Mas, entre as futilidades e intrigas dos da sua classe, há também planos mais novos a surgir. E o amor de João e Rosa será duramente testado pelas críticas e planos da sociedade.
Com uma boa história, que começa de forma algo dispersa, mas que cresce em intensidade com o surgir dos dramas pessoais das principais personagens e o avolumar das dificuldades e intrigas que se lhe opõem, este livro tem na construção do enredo o seu principal ponto de interesse. A partir do momento em que se tornam familiares, as personagens são bastante interessantes e o ambiente de intriga no seio da família, associado à maledicência geral da sociedade, cria várias boas situações de tensão e alguns momentos dramáticos que contribuem para criar alguma ligação emocional. Além disso, a história serve de base a algumas questões relevantes, quer a nível de preconceitos quanto a diferentes classes sociais, quer ainda a situações como a violência doméstica, a elevação do interesse pessoal acima de tudo o resto e alguma tendência para intrigar sobre a vida alheia. Reúnem-se, assim, vários elementos interessantes e, apesar de uma certa estranheza inicial, resultante dos muitos nomes presentes e de alguma demora em definir os objectivos dos protagonistas, a história cedo se torna cativante.
Há, ainda assim, algumas fragilidades consideráveis. Os nomes longos das personagens, algumas das quais são tratadas por diferentes nomes consoante a circunstância, criam alguma confusão e há elementos do enredo - como o que diz respeito ao crime, por exemplo - que são explorados de forma demasiado sucinta. Ainda assim, o grande problema está na evidente falta de uma revisão cuidada. Trocas de nomes, gralhas e erros, ortográficos e de concordância, surgem com frequência ao longo do texto, o que, em conjunto com várias frases confusas ou com palavras em falta, prejudica gravemente o ritmo de leitura. O resultado é uma inevitável quebra na envolvência do enredo, já que são falhas facilmente detectáveis.
Trata-se, pois, de uma boa história, com uma ideia interessante e um agradável crescendo emocional, mas em que grande parte do impacto se perde pela dificuldade em afastar da memória os erros que vão surgindo. E é pena, porque há muito potencial no enredo e nas questões que levanta. 

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