domingo, 31 de março de 2013

No Sentido da Noite (Jean Genet)

Recolha de trabalhos dispersos, alguns deles parecendo ser parte de uma ideia maior deixada por concretizar, No Sentido da Noite apresenta, através dos diferentes temas que percorrem estes textos, a imagem de uma ideia que se conjuga com a história do autor. A impressão que fica é, ao mesmo tempo, de estranheza ante uma forma bastante própria de pensar (e de viver, como se deduz da introdução e do Apêndice), e também de fascínio pela inesperada harmonia das palavras que dão forma a essas ideias. Se o pensamento tem tanto de sombrio como de provocatório, a forma como o autor se expõe na sua forma de ser, evocando algo de si em tudo o que considera, reforça o impacto de palavras que, mesmo no seu mais chocante, conseguem ter sempre algo de beleza.
Isto não torna a leitura mais fácil, é certo. Tudo nestes textos exige atenção constante para perceber completamente o pensamento do autor. Desde a ligação entre alguns dos textos e certos acontecimentos da sua vida (mais uma vez, realça-se aqui a importância do Apêndice) à reflexão voltada para o interior e, em certa medida, para uma visão do mundo condicionada pela experiência pessoal, passando pelas diferenças com que cada tema é abordado e pelas peculiaridades da linguagem, há neste livro toda uma vastidão de pormenores para assimilar. Além disso, o tal tom sombrio, evocando, na sua vida e no que observa, os traços mais negros da sociedade, revela-se, por vezes, perturbador, e também esse ambiente pesado tão intensamente desenvolvido contribui para tornar a leitura mais exigente.
Destes registos, tão diferentes como os temas que percorrem, e tendo em comum principalmente essa visão negra e solitária do mundo, sobressaem precisamente os elementos que, por serem mais pessoais, se tornam ainda um pouco mais sombrios. E, reforçadas mais uma vez pela ligação à vida do autor, as palavras tornam-se mais fortes, deixando um impacto que, provocatório, perturbador, se sobrepõe à estranheza e constrói uma base para reflexão. Sem esquecer, nunca, o que de peculiar existe na escrita e na vida do autor, mas tendo em conta a relação entre ambas, na influência que exerce sobre o texto final.
Complexo em muitos aspectos, e tanto pelos temas como pelo estilo de escrita, este é um livro exigente, quer a nível de atenção aos pormenores, quer na reflexão sobre as ideias que apresenta. Mas é precisamente isto que, associado a um estilo de escrita fascinante e a um conjunto de questões que, perturbadoras como são, reflectem, ainda assim, a mente que as construiu, torna tão interessante esta leitura. Vale a pena ler, portanto.

sábado, 30 de março de 2013

Férias em Saint-Tropez (Elizabeth Adler)

Ao ver o folheto de Chez La Violette, uma luxuosa casa de férias para alugar, Mac Reilly julga ter encontrado as férias perfeitas para si e para a sua noiva - e companheira de muitas investigações. Mas cedo a situação começa a complicar-se. Primeiro, as gravações do seu programa atrasam-se e Sunny vê-se forçada a partir sozinha, com a promessa de que Mac se lhe juntará em breve. E, ao chegar à casa, descobre não só que o edifício está bem longe das condições imaculadas prometidas no folheto, mas também que há outros inquilinos. Não é difícil concluir que foram enganados. Ainda assim, a estadia em Saint-Tropez pode vir a revelar-se interessante, apesar do engano. Ao mistério da mulher que os enganou, junta-se um roubo de arte que correu mal e um marido controlador determinado a perseguir a mulher até aos confins do mundo. Para Mac e Sunny, as férias serão tudo menos tranquilas, mas o mistério é irresistível e o grupo a que, involuntariamente, se juntaram tem também muitas qualidades.
Leve e descontraído, mas com as medidas certas de acção e mistério, este é o tipo de livro que, não sendo particularmente surpreendente, consegue, ainda assim, cativar pela caracterização das personagens e pela forma como as suas experiências as fazem crescer. Para criar o seu grupo de Inadaptados, a autora conjuga personagens com histórias de vida e personalidades muito diferentes, fazendo-as evoluir através do convívio uns com os outros.Consegue, além disso, revelar profundidades insuspeitas em personagens à primeira vista estereotipadas, revelando as pessoas por debaixo da ideia generalizada. Isto nota-se particularmente no caso de Belinda, mas um pouco em todas as personagens.
Este conjunto de personagens peculiares cativa primeiro pela estranheza e pelo contraste relativamente aos que o rodeiam, mas torna-se mais interessante a cada nova revelação. Ao explorar os erros do passado de alguns deles, o trauma de outros e, para Sunny e Mac, a sua tendência para procurar respostas, a autora desperta empatia e curiosidade relativamente às suas personagens, o que mantém a envolvência da história, mesmo nos momentos mais previsíveis.
Mas, além desta interessante interacção entre as personagens, também os aspectos mais complicados da sua situação contribuem para os fazer evoluir. E aqui surge a relevância do mistério e da ameaça que pende sobre Belinda, já que, para além da empatia surgida pelo conhecimento mútuo, é também a união perante o perigo que marca o crescimento das personagens. Além disso, há muitas questões curiosas no que diz respeito ao mistério - ou mistérios - em jogo e, se as respostas para algumas delas são bastante fáceis de prever, outras há com o seu quê de inesperado. E, mesmo quando a resposta é previsível, a forma como esta é obtida tem sempre algo de interessante, seja por momentos de improvável heroísmo, seja pelos simples acasos que expõem a pista que faltava.
Importa falar, por último, dos aspectos emocionais. Desde a simples desorientação perante a vida, à coragem de deixar para trás o que dói, passando pela superação do trauma e pela particularmente enternecedora história de uma criança esquecida, há, em muitas das questões da vida das personagens, aspectos que, de forma mais ou menos discreta, abrem caminho para momentos comoventes. São estes traços de emoção que, junto com as questões de crime e mistério, tornam mais sólida a união entre o grupo dos Inadaptados, abrindo caminho para a evolução das suas histórias e para uma conclusão que, além de intensa em acção e esclarecedora em revelações, acaba por marcar pelo que tem de enternecedor.
Este é, por isso, um livro, que, não sendo particularmente inovador, conjuga, ainda assim, as medidas certas de crime, intriga, emoção e afecto, numa história divertida e cativante, mas também rica em momentos emocionantes. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

sexta-feira, 29 de março de 2013

As Lojas de Canela (Bruno Schulz)

História de um homem em conflito com a vida, observador de uma família onde, porque tudo é estranho, tudo é possível, e em que a resignação anda de mãos dadas com uma quase loucura, As Lojas de Canela é, em parte romance, em parte memória, num percurso que, entre a contemplação e a fantasia, apresenta um conjunto de episódios tão peculiar como as figuras que os protagonizam. A história do pai, de Adela, de um narrador que observa e que, por vezes, ganha protagonismo nas recordações que evoca, todas elas se confundem, na conjugação de episódios que, sendo cada um deles uma história por si só, dão forma, na sua união, a um todo mais vasto. De todas estas histórias unidas, situadas num tempo vago como a recordação, resulta algo entre o romance e a memória - e é, no fundo, assim este livro. E, dele, importa dizer, antes de mais, que nunca será uma leitura fácil.
Se há algo que sobressai neste livro, e é algo que se evidencia desde os primeiros parágrafos, é a beleza da escrita. Toda a narrativa é construída entre a divagação e a descrição, com longas exposições sobre os traços dos cenários - reais ou imaginados - e das figuras que os povoam a impor à leitura um ritmo pausado, para o qual contribui também alguma tendência para o devaneio, em algumas situações. Nunca será, por isso, nem uma leitura leve, nem compulsiva. Mas a esta elaboração de ambientes e de pensamentos associa-se uma forma de expressão que, poética e harmoniosa, se adapta da melhor forma possível, quer aos momentos mais introspectivos, quer à descrição. São várias as frases que ficam na memória e a fluidez da escrita contrasta com a estranheza dos momentos mais peculiares, ao mesmo tempo que a completa com o seu toque de fantasia.
Há também, uma emoção e um estado de espírito que se insinuam ao longo da narrativa, tornando-se mais claros a cada novo episódio. Tanto nos episódios do pai, como nos do próprio narrador, a solidão é uma figura presente, construída com imagens de nostalgia e de uma resignação que é tão clara nas ideias mais racionais como nos sinais de loucura e nos momentos em que tudo se torna surreal. Esta solidão, sombria, mas descrita com palavras belas, é, no fundo, o centro de tudo, no texto, e é ela que fica na memória, tanto pela forma muito própria como é desenvolvida, como pelo que tem de universal. A presença e o medo do fracasso, com o consequente abandono de toda a estranheza, podem surgir de uma forma única, mas contêm em si algo de familiar, de recorrente, e também essa familiaridade reforça o impacto final do livro.
Este é, por isso, um livro que, por vezes, se torna difícil de seguir. As longas divagações, as ideias inesperadas e o complexo equilíbrio entre o quotidiano e a fantasia exigem atenção constante a todas as suas complexidades. Mas há também, para lá da inevitável estranheza, algo de fascínio e de magia, e estes surgem tanto da beleza das palavras como dos traços de uma forma de ser, perante a vida, que, ainda que apenas por momentos, poderia cruzar o caminho de qualquer um. E só isso bastaria para que este livro valesse a pena.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Tempo para Falar (Helen Lewis)

Nasceu em Trutnov. Trocou a promessa de uma carreira estável pela paixão pela dança e dedicou-se em pleno a uma carreira no bailado. Tinha um futuro promissor. Mas a História meteu-se no caminho e todos os sonhos e desejos foram suspensos com a entrada dos nazis. Helen era judia e, como tantos outros, foi deportada, primeiro para o gueto de Terezín, depois para Auschwitz. Aí, viveu a privação, a brutalidade e o medo. E sobreviveu para contar a história. Tempo para Falar apresenta as suas memórias desse tempo terrível. E fá-lo com uma serenidade impressionante.
O que mais marca neste livro, e é algo que se torna claro desde as primeiras páginas, é o tom tranquilo, mas nunca indiferente, com que autora conta o seu percurso. Desde os sonhos e aspirações profissionais, passando pelo temor crescente, à medida que o cenário se tornava mais sombrio e avançando, depois, para a miséria da vida nos campos de concentração, a autora narra a sua experiência com uma serenidade que expressa, em cada palavra, a sua sobrevivência. Tanto a ingenuidade das convicções (e, depois, da esperança) de que tudo correria bem, como a quase resignação a um fim inevitável são narrados com a mesma calma serena de quem viveu e ultrapassou. Disto resulta um quadro que, por ser menos dramático, é infinitamente mais claro, já que permite recordar tanto o terror e a angústia como os pequenos momentos e as rotinas possíveis que permitiam prosseguir com vida.
Também impressionante é o evidente cuidado de, apesar das circunstâncias, não criar generalizações. Da sua experiência vivida nos campos de concentração, Helen não recorda apenas brutalidade e a forma como narra os inesperados gestos de bondade (tanto da parte de companheiros de infortúnio como de alguns oficiais e guardas do campo), em oposição ao abandono dos elementos do seu grupo, recordam que, entre os monstros e os ideais que os moldaram, havia, no fim de contas, seres humanos que, ante o medo e o risco, faziam o que lhes era possível.
Este é, claro, um relato muito pessoal. Mas, desde o tom em que é contado à percepção apresentada pela autora sobre aqueles que a rodeiam, tudo nele o transforma em algo maior. A história de Helen é, em muitos aspectos, semelhante à de outros. Mas além da importância de lembrar, de conhecer os traços mais negros da História, este livro marca também por ser, em parte, mensagem de esperança por entre as mais sombrias horas. Helen sobreviveu. Com marcas, que as marcas de um tal percurso nunca se poderiam apagar, mas sobreviveu. E a tal serenidade com que, nestas memórias, narrou o seu passado não podia expressar mais claramente a firmeza dessa recuperação. Há também, por isso, neste livro, um exemplo de coragem, e também isso o torna tão marcante.
Nunca poderia ser uma leitura fácil, tendo em conta o que tem para contar, mas, na sua história de dor e de força, e na tranquilidade com que é narrada, tudo neste livro marca e comove. Fortíssimo nas memórias e na mensagem que transmite, além de muitíssimo bem escrito, fica na memória, este Tempo para Falar.

Novidade Porto Editora


Todas as histórias de amor sofrem reviravoltas.
Depois de quinze anos de um grande amor e um casamento perfeito, Scott, marido de Tamia, é acusado de algo impensável.
De repente, tudo aquilo em que Tamia acreditava - amizade, família, amor e intimidade - parece não ter qualquer valor. Ela não sabe em quem confiar, nem sonha o que o futuro lhe reserva.
Então, uma estranha chega à cidade, para lançar pétalas de rosa ao mar, em memória de alguém muito querido e há muito perdido. Esta mulher transporta consigo verdades chocantes que transformarão as vidas de todos, incluindo Tamia que será obrigada a fazer a mais dolorosa das escolhas...
O que estaria disposta a fazer para salvar a sua família?

Apaixonada desde sempre pela palavra escrita, Dorothy Koomson escreveu o seu primeiro romance aos 13 anos. A filha da minha melhor amiga foi o seu primeiro livro editado em Portugal. A história comovente de duas amigas separadas pela mentira e unidas por uma criança encantou as leitoras portuguesas. Pedaços de ternura, Bons sonhos, meu amor, O amor está no ar e Um erro inocente, Amor e chocolate e O outro amor da vida dela foram igualmente bem-sucedidos, consagrando a autora como uma referência para as leitoras.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Maximum Ride - Adeus à Escola (James Patterson)

Mais uma vez, Max e o seu bando deixaram o Instituto e estão, novamente, em fuga. O plano continua a ser o mesmo. Por mais que lhe digam que o seu destino é salvar o mundo, Max preocupa-se mais com os seus e, por isso, sabe que tem de seguir a vontade de todos e continuar na busca das suas famílias. Mas o inimigo está atento e, num confronto com os Erasers, Fang é ferido, o que coloca o bando numa posição difícil. Sem grandes alternativas, têm de aceitar viver com uma agente do FBI, pelo menos por algum tempo. O que ela lhes oferece é uma vida quase normal, com uma cama confortável, comida e até uma escola. Mas será Anne assim tão fiável? Como se explica, então, que os tenha recebido com naturalidade, tendo em conta o que são? Mais uma vez, a tão ansiada normalidade pode vir a revelar-se uma ilusão. E a missão de salvar o mundo, não se sabe ao certo de quê, continua pendente.
Retomando os acontecimentos praticamente no ponto em que terminaram no primeiro volume, este livro tem, além de uma continuidade nos rumos da narrativa, um conjunto de pontos fortes em comum. Tal como no primeiro livro, a escrita e directa, a descrição é pouca e desenvolvida apenas na medida em que é necessária ao enredo e os capítulos curtos contribuem para tornar mais viciante uma história cheia de acção e com muitas revelações interessantes. Bastam alguns capítulos para entrar no ritmo da história e, a partir daí, torna-se difícil parar.
A estes pontos fortes junta-se ainda um outro: a familiaridade. Quase todas as personagens são já conhecidas do primeiro livro, tanto a nível de personalidade como das suas características invulgares, e também os elementos essenciais do sistema - a Escola, os traços essenciais das mutações, as características do inimigo - são comuns, em muitos aspectos, ao primeiro livro. Assim, a  falta de descrições mais elaboradas já não se sente, porque o essencial é já conhecido. Não há momentos de estranheza, nem a sensação de que falte assimilar qualquer coisa. Há a história, simplesmente, e a forma como ela decorre, entre momentos intensos e revelações surpreendentes. E há, ainda, a equilibrar a acção e o mistério constantes, vários momentos de emoção e um sentido de humor muito cativante, conferindo à história alguma leveza, mesmo nos momentos mais complicados.
De referir, por último, que, ainda que os elementos essenciais do sistema já sejam conhecidos, há também bastantes revelações novas neste aspecto. Quer nas capacidades do bando, quer nos planos e alianças dos seus criadores, há novos pormenores a ser acrescentados e uma evolução a acontecer, tanto nos planos de Jeb e companhia como no bando. Claro que continua a haver também muitas perguntas, mas este é apenas o segundo livro da série. Há ainda muito para explorar.
Entre episódios divertidos e momentos emotivos, lutas difíceis e umas quantas revelações inesperadas, Maximum Ride - Adeus à Escola corresponde - e supera - as expectativas criadas pelo primeiro volume da série. De ritmo intenso e com uma história cheia de surpresas, este é um livro difícil de largar.

terça-feira, 26 de março de 2013

Pedro, Lembrando Inês (Nuno Júdice)

Evocando o amor intemporal de Pedro e Inês, e, ao mesmo tempo, outras histórias e outros possíveis amores, este é um conjunto de poemas que, conjugando amor e nostalgia, cativam tanto pela mensagem e pelas imagens que evocam como pela forma como estas são construídas. Saudade e encanto, paixões e silêncios, descoberta e adeus: o amor é explorado em todas as suas facetas e, ao mesmo tempo, ora desenvolvido como algo ainda presente, ora percorrido como a recordação de algo que já foi. O resultado é uma impressão de universalidade, de uma expressão de um amor que poderia conter em si todos os amores: passados, presentes e futuros.
Esta possível universalidade contrasta com a percepção de algo que é, também, muito pessoal. Há um sujeito poético que lembra, que espera e que ama, e os sentimentos e memórias evocadas podem ser similares aos de muitos outros, mas são dele. Cria-se assim um interessante equilíbrio. Quem lê reconhecer-se-á, seguramente, em partes do sentimento evocado pelos poemas. Mas há um ser individual associado a esses poemas - o indivíduo que se expressa, que recorda - e esse sujeito poético, por mais semelhante que possa ser, por vezes, a outros - é único em si mesmo.
À força emocional do conteúdo e à beleza das imagens e sentimentos que transmite, junta-se ainda a harmonia da escrita. A nível formal, não há propriamente uma estrutura comum rígida, mas antes o que se pode reconhecer como uma identidade própria. O sujeito poético que se dirige a alguém, transmitindo algo pessoal nas palavras, é quase um protagonista, quase um narrador. E a evocação de cenários, quase descritos ou apenas insinuados, cria ainda um outro interessante contraste. Momentos há em que é o sentimento que sobressai, num tom de quase divagação, enquanto que, noutros, são as imagens, descritas quase que como parte de uma narrativa. Estes dois aspectos, conjugados, criam cenário e circunstâncias: o que o "eu" que recorda vê e o que sente, num todo equilibrado.
Este é, pois, um livro que, apesar da relativa brevidade, tem muito de bom para descobrir. A escrita é belíssima, o sentimento é intenso e genuíno e as imagens que o texto evoca funcionam como o perfeito complemento a esse lado mais emocional. Evocação de amor, ou de muitos amores, este é, sem dúvida, um livro que vale a pena ler.

A Loja dos Suicídios - nova edição


«Morto ou reembolsado!»
Eis o slogan da Maison Tuvache, uma lojinha que comercializa tudo o que há de mais fino e eficaz para a lúgubre empresa do suicídio. Há dez gerações que a Loja dos Suicídios satisfaz 100% da clientela: morrem todos e não fica nenhum para reclamar.
Mishima, o pai, é especialista em mortes violentas e dirige o negócio com mão de ferro. Lucrèce, a matriarca, é grande adepta dos envenenamentos e detém as receitas mais fatais. A prole, composta por Vincent, que projecta um parque de diversões temático, e Marilyn, que se vê obrigada a renunciar ao suícidio para manter o bom nome da família, aumenta com o nascimento de Alan, a criança que traz com ela uma terrível maldição: a alegria de viver.
O pequeno Alan passa os dias a cantarolar, a consolar os clientes e, pior que tudo, a rir. Sim, Alan gargalha. Alan é um optimista. E prepara-se para sabotar com gáudio e devoção o próspero negócio de família.

Jean Teulé é autor de quatorze romances, entre os quais Montespan, Prémio Maison de la Presse e Grande Prémio Palatine du Roman Historique, também publicado em Portugal, que chegará ao grande ecrã em 2013.
A Loja dos Suicídios foi adaptado a filme de animação em 2012, por Patrice Leconte, e está traduzido em dezanove idiomas.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Highlander - O Domar do Guerreiro (Karen Marie Moning)

Gavrael McIllioch renunciou ao lar, à família e ao nome, numa tentativa de fugir ao passado e dominar aquilo em que se transformou na noite em que o território dos seus foi atacado. Perseguido por inimigos implacáveis, adoptou o nome de Grimm Roderick e, quando os seus adversários o encontraram na casa que o acolhera, voltou a partir, deixando para trás tudo quanto amava. Por fim, encontrou a paz possível na casa do seu amigo Açor. Mas não se pode fugir ao passado eternamente. E quando o homem que o acolheu, em tempos, o convoca com três simples palavras - "Vem por Jillian" - , Grimm sabe que tem de responder ao apelo. O regresso é difícil e a razão do chamado é ainda mais estranha. Gibraltar St. Clair chamou três dos melhores homens das highlands para conquistar o coração da sua filha. E, de volta a Caithness, o coração de Grimm anseia, mais uma vez, pelo que não pode ter, mas saber que é correspondido talvez não seja suficiente.
Apesar de vários pontos em comum com o livro anterior, até porque Grimm desempenha um papel importante neste livro, há vários aspectos a separar esta história da de Highlander - Para Além das Brumas. A primeira é, obviamente, a ausência de uma viagem no tempo a ligar os protagonistas. Grimm e Jillian são personagens de um mesmo tempo e com um passado em comum e, por isso, a forma como a relação evolui é bastante diferente. Há, além disso, um maior desenvolvimento do contexto para lá da relação entre os protagonistas. Os inimigos que seguem os passos de Grimm pouco têm a ver, pelo menos a princípio, com a ligação a Jillian, e o mesmo acontece com o lado mais sombrio do seu passado, que começa antes de ele a conhecer. Estes elementos que, desenvolvidos paralelamente ao romance, se lhe associam de forma gradual, tornam a história um pouco mais complexa e bem mais interessante, já que, além de fazerem de Grimm uma personagem bastante mais completa, estão na base de alguns dos momentos mais emotivos.
Mas há um romance, que é, apesar de tudo, o centro do enredo. E o mais interessante aqui é a forma como a relação evolui. O passado que Grimm e Jillian têm em comum fez com que se odiassem mutuamente - ou tentassem. E isto leva a que a primeira fase do reencontro apresente múltiplas querelas, mais ou menos divertidas, por vezes um pouco repetitivas. O início é, por isso, um pouco forçado, já que, apesar de a peculiaridade da situação tornar as coisas divertidas, as discussões tornam-se, por vezes, ligeiramente irritantes.
Tudo muda, contudo, com o evoluir do enredo e da relação e, ultrapassada esta fase, a história torna-se bastante mais cativante. Primeiro, porque cada nova revelação sobre Grimm e a sua natureza acrescenta algo mais ao seu fascínio, além de justificar parte das suas acções. E também porque, ao intensificar a gravidade das circunstâncias, a autora consegue evocar mais emoção, quer devido à intensidade dos acontecimentos, quer à empatia que certos traços e acções das personagens despertam.
Trata-se, por isso, de uma história que, partindo de um início leve e marcado por uma certa estranheza, cedo evolui para um ritmo bem mais cativante, crescendo em intensidade até culminar num final forte e emotivo. Uma boa história, portanto, com personagens interessantes e alguns momentos realmente belos. Gostei.

Novidade Quetzal


Jorge Ferreira, «o conde», recebe na sua quinta algarvia uma jovem e bela inquilina inglesa, que pretende escrever um livro. O anfitrião é um homem educado, atraente e rico, mas em extremo reservado – não se lhe conhecem amigos, amantes ou relações familiares –, que partilha a grande casa senhorial com duas amas e uma governanta. O seu passado esconde um trauma que o acompanha até hoje e que ele pretende eliminar da memória. Pelo contrário, Sarah Langton, filha de um milionário italiano, é impulsiva e aventureira, «viciada em liberdade» – o que não consegue conciliar com a reclusão e a disciplina que a escrita exige. Tudo parece concorrer para que estas duas personagens se aproximem lentamente e que comecem a processar o que as atormenta (a Jorge, os episódios do passado; a Sarah, extrema dificuldade em escrever alguma coisa pertinente para o seu livro misterioso). Mas a súbita visita de «Biafra» – «vistoso fato de linho branco, cravo na botoeira, panamá na mão» –, que vem para tentar uma pequena chantagem, dá lugar a uma cascata de revelações, desenlaces, homicídios, suicídios e desaparecimentos entre a Nigéria, Marrocos, Algarve, Londres e Amsterdão, tendo como pano de fundo o tráfico de diamantes e um país corrupto e corrompido, entregue aos seus segredos de família.
Mentiras & Diamantes, o mais recente e inédito romance de J. Rentes de Carvalho, é um thriller habilmente construído e uma narrativa implacável, violenta e sexy. E um maravilhosamente obscuro objecto de suspense.

J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, na Holanda, como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil. Licenciou-se (com uma tese sobre Raul Brandão) na Universidade de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Em 2012 foi galardoado com o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/Câmara Municipal de Castelo Branco 2010-2011 com o livro Tempo Contado. Os seus livros Com os Holandeses, Ernestina, A Amante Holandesa, Tempo Contado, La Coca, Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, O Rebate, Mazagran e agora Mentiras & Diamantes estão actualmente disponíveis na Quetzal, que continuará a publicar o conjunto das suas obras.

Novidade 5 Sentidos


Summer Zahova é uma violinista ardente e impetuosa, que vive uma relação frustrante com um homem que não a compreende. É na música que encontra a sua libertação. Ela passa as tardes nas estações de metro de Londres a tocar violino, perdida nas partituras de Vivaldi e Mendelsshon. Um dia o seu violino sofre um acidente irreparável e Summer recebe uma proposta inesperada de Dominik, professor universitário, um homem atormentado por desejos inconfessáveis que ficou fascinado por Summer quando a ouviu tocar. Dominik oferecer-lhe-á um novo violino na condição de ela tocar para ele em privado.
Incapazes de reprimir a forte atração que sentem, Dominik e Summer embarcam numa aventura intensa e ousada. Para Summer é a oportunidade de se confrontar com o seu lado mais sombrio, no entanto, cedo se apercebe de que o prazer tem um preço elevado. Mas poderá uma relação nascida de uma tal paixão sobreviver?

Vina Jackson é o pseudónimo de dois reconhecidos escritores que escrevem juntos pela primeira vez. Um é um escritor de sucesso, o outro, escritor com obra publicada, é um profissional da City.


domingo, 24 de março de 2013

Burning Embers (Hannah Fielding)

Depois da morte do pai, Coral Sinclair regressa ao Quénia para tomar posse da sua herança. Mpingo, o lugar onde viveu enquanto criança, desperta-lhe boas memórias. Agora, contudo, o seu regresso mostrar-lhe-á um mundo diferente. Desde o primeiro momento em que se cruza com o enigmático Raphael de Monfort, ambos se sentem dominados pela atracção… e, talvez, algo de mais forte. Mas Rafe é um mulherengo inveterado e um homem com um passado sombrio, enquanto Coral é jovem e inocente… e ligeiramente imatura. Será possível que o sentimento entre ambos seja verdadeiro? E poderá ser forte o suficiente para superar os segredos e rumores em torno do passado de Rafe?
Parte do que torna um romance cativante é a interacção entre os protagonistas e, sendo a ligação entre Rafe e Coral o foco central desta história, não é propriamente uma surpresa que as diferenças e ligações entre ambos sejam o grande ponto forte deste livro. Os protagonistas dificilmente poderiam ser mais diferentes, mas a construção das suas personalidades faz com que se completem mutuamente, compensando as suas fraquezas individuais. 
Rafe é um homem experiente, mas as sombras do seu passado - e uma secreta culpa que sempre o acompanha – tornaram-no frio e indiferente ao ideal de amor. Por outro lado, Coral é ingénua, pouco mais que uma rapariga. Está, também, quase sozinha num ambiente novo, o que a torna influenciável e, por vezes, demasiado precipitada nos seus julgamentos. Mas, diferentes como são, de facto, Rafe e Coral têm, entre ambos, algo de intenso a acontecer. E a forma como a autora explora esta relação, com todos os atritos e mal-entendidos, mas também episódios de harmonia e ternura, está na base de muitos bons momentos.
Mas há mais neste livro, para além do romance. O ambiente tem também bastante de fascinante, com o trabalho fotográfico de Coral – e alguns dos seus momentos com Rafe – a apresentar cenários de grande beleza, permitindo também uma percepção mais clara da época e do lugar onde decorre o enredo. E, quanto ao passado de Rafe, as razões que o tornaram no que são abrem espaço para algo de reflexão relativamente a segredos e demónios interiores e à necessidade de julgar apenas com o conhecimento dos factos. Ou, por vezes, simplesmente não julgar.
Bem escrito, com um cenário fascinante e personagens interessantes, esta é não só a história de um romance complicado, mas também, de certa forma, uma história de redenção e superação do passado. Uma boa leitura, portanto, e um livro que recomendo.

sábado, 23 de março de 2013

Artemis Fowl - O Código Eterno (Eoin Colfer)

Agora que o pai está prestes a regressar a casa, depois de um incidente que mudou a sua forma de ver a vida, Artemis Fowl sabe que a sua vida de crime parece em vias de ser interrompida, pelo menos por algum tempo. Mas tem ainda um último trabalho a completar. Usando a tecnologia que obteve das fadas, Artemis criou o Cubo V, um supercomputador capaz de tornar obsoleta toda a tecnologia humana. Mas o seu plano de enriquecer à custa da sua criação começa a correr mal quando o seu encontro com Jon Spiro revela ser uma armadilha. Artemis perde o cubo e o seu companheiro de sempre é deixado entre a vida e a morte. Só as fadas o podem ajudar a resolver a situação. O problema é que não há grandes motivos para que estas confiem em Artemis... e o seu auxílio pode custar-lhe caro.
Muita acção e alguns planos elaborados - ou não fosse o protagonista um génio do crime - fazem desta terceira aventura um livro simplesmente viciante. Desde o início que há sempre algo a acontecer e problemas que é preciso resolver, o que mantém acesa a curiosidade em saber o que acontecerá a seguir. E, além disso, muitas das personagens são já conhecidas dos primeiros livros, o que torna fácil entrar no ritmo dos acontecimentos, já que, conhecendo as suas características e personalidades, aquilo que os leva a agir e a forma como os agem é também fácil de compreender.
Se esta familiaridade com as personagens facilita a empatia e a assimilação do ritmo do enredo, há ainda um outro aspecto notável na caracterização, principalmente do protagonista. Desde o primeiro livro, Artemis evoluiu em muitos aspectos. Mantendo a sua natureza essencial, é certo, mas, comparando o jovem racional e frio do primeiro volume com o, ainda dividido, mas mais consciente Artemis deste livro, o crescimento é claro. Além de cativante por si só, esta evolução reforça também  o impacto do final, já que questiona partes deste crescimento, criando também uma interessante (ainda que discreta) reflexão sobre a importância das memórias para a formação de uma personalidade.
Mas é a acção o centro do enredo e o que o torna tão viciante. A recuperação do Cubo V é, no fim de contas, o desafio central e, em certos momentos, uma corrida contra o tempo, o que confere à história um ritmo intenso, com grandes momentos de tensão e um planeamento deveras intrigante. O resultado é uma história em que acção e tensão se conjugam com algo de intriga e um toque de emoção, para dar origem a uma leitura compulsiva. Junte-se a isto um sentido de humor delicioso e o resultado é um livro difícil de largar.
Interessante no crescimento das personagens e viciante pelo enredo intenso e cheio de surpresas, Artemis Fowl - O Código Eterno apresenta uma evolução notável na série, quer a nível de desenvolvimento das personagens e do mundo em que se movem, quer nas possibilidades interessantes que sugere para o que poderá vir a seguir. Intrigante, surpreendente e divertido nos momentos certos... Muito bom.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Depois (Rosamund Lupton)

Tudo muda quando Grace vê o fumo negro. A escola está a arder e é possível que os seus filhos estejam no interior. Grace não pensa, não pondera nos riscos. Limita-se a correr. Ao aproximar-se, vê que Adam, o filho mais novo, está no exterior, mas Jenny não. Mais uma vez, não hesita. Corre para o edifício em chamas, numa tentativa de salvar a filha, custe o que custar. Mas esse momento de coragem não basta e, depois da escuridão, Grace descobre-se na companhia da filha, a observar os seus próprios corpos enquanto lutam pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, a família junta-se em seu redor, tentando descobrir o que passou, e a revelação de que o incêndio não foi acidental leva-os a seguir todas as pistas em busca do responsável. Grace e Jenny são apenas presenças invisíveis, acompanhando os passos dos que podem fazer alguma coisa. Mas o que vêem não é só uma investigação: é uma descoberta da verdadeira natureza dos que as rodeiam. E delas mesmas.
Parte do que torna os livros desta autora tão cativantes é a forma muito própria que a autora escolhe para contar as suas histórias. Tal como em Irmã, a voz da narradora e protagonista tem algo de peculiar, quer na forma como vê as coisas, quer na posição em que se encontra. Grace conta ao marido o que aconteceu, e conta-o a partir de uma espécie de limbo, enquanto o seu corpo está entre a vida e a morte. Isto permite que a história seja contada de uma forma invulgar, já que, enquanto ente invisível e incorpóreo, Grace pode acompanhar muitos dos acontecimentos centrais sem ser vista. Ao mesmo tempo, esta posição de observadora torna-se difícil, já que, enquanto todos os outros podem dar voz e seguimento às pistas que encontram, Grace encontra respostas, mas não as pode transmitir. É fácil sentir, nesta forma de contar a história, o sentimento de impotência de Grace, enquanto mãe, e isso é parte do que torna tão vasto o impacto emocional desta história.
Um outro ponto forte dos livros desta autora, e também comum a Irmã, é a capacidade de desenvolver múltiplas possibilidades, explorando-as e desenvolvendo-as, para logo as pôr perante uma revelação inesperada que faz com que tudo mude. Na busca por um culpado, todos são suspeitos, e há uma lógica possível para quase todas teorias, até ao momento em que uma nova pista vem dar uma nova explicação para os acontecimentos. Este mistério, feito de teias de possibilidades que ligam diferentes suspeitos e situações sem ligação aparente, torna a leitura viciante, com cada nova revelação a surgir como uma surpresa e um novo passo na procura de respostas, dando, ao mesmo tempo, espaço para momentos de grande emotividade.
Entre o mistério e a emoção, a autora consegue ainda abordar uma série de temas muito pertinentes, desde a violência doméstica, às questões da conciliação entre a maternidade e a carreira, passando pela possível colisão entre os ideais e os interesses económicos, pela influência do julgamento público, independentemente da culpa efectiva, e ainda pela forma como realmente conhecemos as pessoas que nos rodeiam. Tudo de uma forma bastante pessoal, até porque a história é contada pela protagonista e dirigida a uma pessoa que lhe é muito próxima, mas reflectindo sentimentos com que é fácil criar empatia. Na história de Grace e Jenny, é possível ver, para além do mistério, um retrato de uma vida familiar, de afectos e ligações, de experiências vividas em comum e do crescimento ao longo da vida. E também dos pequenos segredos e experiências da vida, do que cada um guarda para si, dos pequenos grandes fardos no passado de cada um. Elementos da realidade, em suma, que, mesmo contados numa história fictícia, são facilmente reconhecíveis.
Esta é, pois, uma história que é tanto do mistério por detrás de um incêndio como das vidas pessoais e familiares - com todos os segredos, mais ou menos inofensivos - das personagens que a protagonizam. Uma história de afectos e de sacrifícios, com tanto de misterioso como de comovente, e que culmina num final marcante e intenso. Um livro belíssimo, portanto, e que não posso deixar de recomendar. Impressionante.

quinta-feira, 21 de março de 2013

O Diabo e a Gemada (Sveva Casati Modignani)

Fragmentos de uma infância vivida em tempos de guerra, mas, apesar de tudo, com a tranquilidade possível. Assim são as pequenas histórias que Sveva Casati Modignani evoca neste livro em que as diferentes recordações de infância têm como elo comum a comida: os pratos mais improváveis e as surpresas preferidas, os jantares festivos e o que se comia em tempos de privação. O resultado é uma história feita de pequenos momentos e que, por isso, se apresenta como é: uma pequena parte de uma vida maior, num tempo que passou e não volta.
Enquanto elemento comum a todas as memórias, não é propriamente uma surpresa que seja a comida um dos aspectos mais desenvolvidos deste pequeno livro. Uma parte considerável é, aliás, dedicada às receitas de alguns dos pratos referidos ao longo das memórias da autora. Este é também um dos elementos mais curiosos e cativantes do livro, já que, quer pela peculiaridade de alguns pratos e pelas reacções da pequena Sveva, quer pela forma como a autora, já adulta, as refere na parte dedicada às receitas, é fácil reconhecer diferenças e pormenores peculiares que tornam mais interessante quer a história, quer as características da  gastronomia daquele tempo.
Um outro aspecto que sobressai é que, tratando-se de memórias de infância e, portanto, de um passado diferente (pelo menos nalguns aspectos), as histórias da autora reflectem também diferentes formas de crença e de pensamento, relativas àqueles que a rodearam. Ideias e superstições motivam momentos caricatos e situações complicadas, e, ao mesmo tempo, evocam, na sua diferença, as mudanças que ocorreram desde então. Além disso, ao contar esses episódios de uma forma relativamente simples, é fácil imaginar a situação do ponto de vista de uma criança, problemática, por vezes, e a viver em circunstâncias bem diferentes das actuais.
Há, por outro lado, algumas limitações na forma como as histórias são contadas. Ao dividir as suas memórias em pequenos episódios, fica, por vezes, a impressão de que, sendo a criança o centro de tudo, mais haveria a dizer sobre as personalidades em seu redor. São os momentos mais complicados ou os mais peculiares os que são narrados nestas memórias, realçando, por vezes, as características menos boas dos que as protagonizam. Claro que é preciso entender as coisas no seu contexto, e os tempos eram diferentes, mas fica, por vezes, a impressão de que os melhores traços, o afecto de que, por vezes, a autora fala, não transparece de forma tão clara como seria de esperar.
Trata-se, ainda assim, de um livro cativante e, para cada um desses momentos mais ambíguos, há algo de interessante para descobrir, seja nas recordações gastronómicas, seja na peculiaridade de um momento que realça a forma como os tempos mudam. Interessante e agradável, portanto, e uma boa leitura.

Novidade Topseller


A vida de Lizzy Tucker não pode ser mais confortável: mudou-se recentemente para uma casa histórica que herdou em Salem, no Massachusetts, e acaba de tornar-se chef na Dazzle's, uma das pastelarias mais visitadas da cidade.
Mas a esperança por qualquer tipo de normalidade evapora-se quando dois homens entram de rompante na sua vida: o sombrio Gerewulf Grimoire, e Diesel, um homem lindíssimo e de aparência angelical. Grimoire procura as Pedras de Saligia que estarão, diz-se, em Salem.
Esses sete talismãs — representativos de cada um dos sete pecados mortais — dão poderes assustadores a quem os detenha. Diesel é um homem com uma missão: parar Grimoire a todo o custo. Só precisa de convencer Lizzy de que apenas ela será capaz de manter o vilão longe dos talismãs. Mas, para que isso aconteça, Diesel quer protegê-la todo o dia… e toda a noite. Estes talismãs têm efeitos estranhos sobre si, enchendo-a de apetites e desejos súbitos.
Com dois homens no seu encalce, e sentindo-se estranhamente atraída por ambos, como irá ela escapar à espiral de emoções em que se vê envolvida?

Janet Evanovich, é a autora de policiais mais vendida em todo o mundo e a escritora mais bem-sucedida actualmente (fonte: Forbes), com mais de 75 milhões de livros vendidos em todo o mundo. Os seus romances policiais, repletos de personagens caricatas e inesquecíveis, e recheados de intrigas complexas e cómicas, já criaram uma verdadeira legião de fãs em todo o mundo.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ritual de Amor (Nora Roberts)

Quando eram crianças, Fox, Caleb e Gage libertaram um demónio no mundo. O que pretendia ser apenas um ritual inocente, simbolizando entre os três, lançou sobre todos uma maldição. A cada sete anos, durante a semana do seu aniversário, sete dias de loucura tomam posse da população, espalhando caos e tragédia. E agora, vinte e um anos passados desde que tudo começou, a chegada dos Sete pode trazer a verdadeira destruição. Mas eles não estão dispostos a permiti-lo e, com as suas novas aliadas e o conhecimento que vão adquirindo, procuram uma forma de travar o demónio. Para todos eles, há uma ligação de sangue ao guardião e ao demónio que deram início a tudo. Mas há também algo mais e, depois de Quinn e Cal terem descoberto o amor que os une, também Fox e Layla começam a sentir algo que parece ser mais forte que a simples atracção. Mas será possível, tendo em conta as diferenças que o separem, que consigam ser amantes e companheiros, enfrentando, ao mesmo tempo, o que pode ser uma batalha até à morte?
Parte do que torna este livro interessante é a forma como, apesar de se centrar num casal de protagonistas, tendo a relação entre ambos bastante destaque, a história não se resume ao romance. O elemento sobrenatural, com a ideia do confronto iminente a servir de base a grande parte das motivações e comportamentos das personagens, contribui para um bom equilíbrio entre a parte romântica do enredo e o ambiente algo sombrio que caracteriza o conflito central. A história não é apenas a de Fox e Layla, e de como o seu romance evolui, mas é, principalmente, a de seis companheiros que têm um destino a cumprir e um demónio para derrotar. Assim, a acção e o mistério são tão importantes para o enredo como a evolução do romance e isso é parte do que torna a leitura cativante.
Claro que o romance é importante e, nesse aspecto, destaca-se a forma como as personalidades dos protagonistas se complementam. Nem tudo é perfeito, e os momentos mais conflituosos parecem, por vezes, um pouco forçados. Mas ambos têm personalidades cativantes e a forma como vêem o mundo e as coisas, independentemente das diferenças de temperamento e experiência, faz com que a sua relação evolua - discussões forçadas à parte - de forma bastante natural. Além disso, também há elementos nesta relação que são importantes para o problema global, quer no que respeita às capacidades de ambos, quer na forma como o passado de Fox adquire uma nova explicação.
A nível do conflito global, continua a haver muito em aberto, mas há também novos desenvolvimentos e algumas revelações promissoras para o que poderá ocorrer no volume final. Há, também, momentos de grande intensidade, quer devido a um maior impacto emocional, quer pelo que representam na evolução do confronto. E, claro, entre a tensão e a emoção, há um toque de humor que, perfeitamente adequado ao temperamento das personagens, confere também algo de leveza ao enredo, mesmo nos seus momentos mais sombrios.
Este é, portanto, um livro que equilibra as medidas certas de romance e acção, numa história que, mesmo deixando ainda bastantes questões em aberto, prepara caminho para o grande final através de várias revelações interessantes, um romance cativante e alguns momentos particularmente bons. Uma boa leitura, portanto, e que promete muito de bom para o livro seguinte.

Novidade Asa


Como todos os Bedwyn, Aidan tem a reputação de ser arrogante. Mas este nobre orgulhoso tem também um coração leal e apaixonado – e é a sua lealdade que o leva a Ringwood Manor, onde pretende honrar o último pedido de um colega de armas.
 Aidan prometeu confortar e proteger a irmã do soldado falecido, mas nunca pensou deparar com uma mulher como Eve Morris. Ela é teimosa e ferozmente independente e não quer a sua proteção. O que, inesperadamente, desperta nele sentimentos há muito reprimidos. A sua oportunidade de os pôr em prática surge quando um parente cruel ameaça expulsar Eve de sua própria casa. Aidan faz-lhe então uma proposta irrecusável: o casamento, que é a única hipótese de salvar o lar da família. A jovem concorda com o plano.
 E agora, enquanto toda a alta sociedade londrina observa a nova Lady Aidan Bedwyn, o inesperado acontece: com um toque mais ousado, um abraço mais escaldante, uma troca de olhares mais intensa, o “casamento de conveniência” de Aidan e Eve está prestes a transformar-se em algo ligeiramente diferente…

Autora premiada e presença constante nas listas de bestsellers do New York Times, Mary Balogh cresceu em Gales, terra de mar e montanhas, músicas e lendas. Ela levou consigo a música e uma imaginação vívida quando se mudou para o Canadá. Aí iniciou uma auspiciosa carreira como autora de livros com finais felizes e que celebram o poder do amor. Os seus romances históricos venderam já mais de 4 milhões de exemplares em todo o mundo. Na ASA estão publicados Uma Noite de Amor e Um Verão Inesquecível.

terça-feira, 19 de março de 2013

Guia Prático do Corrupto (João Carlos Alvim)

Tem como título Guia Prático do Corrupto, mas não é difícil perceber que este livro é exactamente o contrário. Muito breve e escrito de forma directa, retrata, com uma ironia devastadora, os traços gerais desse tal ente - o Corrupto - e do sistema que o torna soberano. Tudo numa abordagem muito sucinta, mas certeira em tudo o que refere, o que, além de proporcionar uma leitura agradável e divertida, evoca também questões muito sérias, apelando à reflexão.
Construído como um conjunto de regras e características, todas elas desenvolvidas em menos de uma página, parece haver alguma aproximação ao tipo de estrutura expectável de um guia prático. Esta é uma opção que reforça, desde logo, o sentido de ironia presente em todo o livro, já que, mesmo sendo muito claro o objectivo do livro, é possível reconhecer nas linhas gerais do livro esse possível guia para a compreensão do corrupto. Realça, também, o impacto de cada questão, já que, ao resumir cada ponto em poucas e directas palavras, o autor faz com que seja o verdadeiramente importante a sobressair.
Mas falemos dessas questões, que são, afinal, o essencial do livro. A intervenção (ou falta de) da justiça, as justificações do corrupto e a real credibilidade, a tolerância para com o que não se sabe, ou, por instinto de preservação não se quer saber... Cada um dos pontos levanta uma questão relevante, abordando-a de forma certeira. No que refere, no que questiona e no panorama global que retrata, este é um livro que, tendo em conta as circunstâncias do presente, não poderia ser mais actual.
Este é, por isso, um livro de simplicidade aparente, curto, directo na escrita e na formulação das ideias, e com algo de humor a reforçar a ironia. Mas a complexidade está lá, nas muitas questões relevantes que coloca e na análise certeira - independentemente da brevidade - de uma realidade com muito de perturbador. Cativante e agradável de ler, mas, acima de tudo, pertinente na abordagem à realidade actual, vale, sem dúvida, a pena ler este livro.

Novidades Planeta


Em Tempo para Falar, Helen Lewis descreve a escala de horrores e misericordiosa sequência de acasos que, contra todas as expectativas, lhe permitiram vir viver para Belfast, na Irlanda do Norte, em 1974. 
Durante muitos anos foi uma conhecida coreógrafa e professora de bailado naquela cidade e fundou o Belfast Modern Dance Group, no início da década de 60. 
Neste livro, Helen Lewis traça um mapa do Inferno, mas a sua voz não se altera, o seu estilo permanece simples, numa forma modesta de se exprimir que esconde a angústia da recordação. 
Dar o testemunho, como Helen faz, do que há de mais baixo e degradante na experiência humana, é um acto de heroísmo.

Helen Lewis nasceu em 1916 em Trutnov, na Checoslováquia. Terminado o secundário, candidatou-se com êxito à Escola de Dança Milca Mayerovà, de Praga. Enquanto estudava começou também o curso de filosofia na Universidade Alemã. Casou em 1938, e em 1942 foi deportada, com o marido, Paul, para o campo de concentração de Terezín. 
Em Maio de 1944 foi transferida para Auschwitz, onde a separaram do marido. Depois da libertação, regressou a Praga e foi lá que soube que ele não sobrevivera. Em 1947, casou-se com Harry Lewis, um velho amigo que havia fugido para Belfast antes da eclosão da guerra. Depois do nascimento dos dois filhos, Helen voltou a envolver-se no mundo da dança, em trabalhos de coreografia para teatro e ópera. 
Os seus ensinamentos levaram à fundação do Belfast Modern Dance Group, pioneiro da dança moderna na Irlanda do Norte. 


Uma Mochila para o Universo pretende ser um manual para aprender a lidar com as emoções humanas, uma pequena chave que potencia a nossa capacidade para o optimismo inteligente e criativo.
Escrito numa linguagem clara e simples, aprendemos porque é que é preferível ter um amigo feliz a um bilhete de lotaria premiado, quais são as etapas por onde passa o amor, ou quais as técnicas que nos libertam do stress. 
Também encontramos conselhos e truques para pôr em prática todos os novos conhecimentos sobre nós mesmos e sobre os que nos rodeiam: como chamar um pensamento positivo do passado para começar o dia com o pé direito, qual a melhor maneira de falar em público, como controlar a raiva ou quais as chaves para causar boa impressão logo no primeiro encontro. 

Elsa Punset é licenciada em Filosofia e mestre em Humanidades, pela Universidade de Oxford. 
É ainda mestre em Jornalismo, pela Universidade Autónoma de Madrid e em Educação de Ensino Secundário, pela Universidade Camilo José Cela (UCJC). 
Colabora com regularidade em diversos meios de comunicação, participa em conferências e dirige o Laboratorio de Aprendizaje Social y Emocional, na Universidade Camilo José Cela, onde se dedica ao estudo da aplicação da inteligência emocional nos processos de tomada de decisões e aprendizagem, em crianças e adultos. 
Os seus livros Bússola para Navegantes Emocionais e Inocência Radical consagram-na como autora de êxito e as suas intervenções na RNE (Rádio Nacional de Espanha) e na televisão, no programa El Hormiguero, confirmam, com a grande audiência, o impacte das suas mensagens. 


Rhine e Gabriel fugiram da mansão, mas o perigo nunca ficou para trás. 
Para Rhine de dezassete anos, a arriscada fuga do casamento polígamo parece ser o princípio do fim. A evasão leva Rhine e Gabriel a uma armadilha sob a forma de uma feira popular, cuja dona mantém várias raparigas prisioneiras, Rhine acaba de fugir de uma prisão dourada para se meter noutra ainda pior. 
A jovem acaba por percorrer um cenário tão sombrio como o que deixou há um ano – que reflecte os seus sentimentos de medo, desespero e desesperança. Com Gabriel a seu lado está decidida a chegar a Manhattan para se encontrarem com Rowan, o irmão gémeo, mas a viagem é longa e perigosa e o que Rhine espera que seja uma segurança relativa revelar-se-á muito diferente. 
Num mundo onde as raparigas só vivem até aos vinte anos e os rapazes até aos vinte e cinco, o tempo é precioso e Rhine não tem como escapar nem iludir o excêntrico sogro Vaughn, que está determinado a levá-la de novo para a mansão... a todo o custo. 

Lauren DeStefano licenciou-se em Letras e especializou-se em escrita criativa no Albertus Magnus College, em Connecticut. 
Raptada é o seu primeiro livro. 
Lauren DeStephano alcançou os primeiros lugares no top do New York Times, confirmando-se como um novo talento na ficção distrópica, tendo o segundo livro desta série entrado directamente para o primeiro lugar. 


Geórgia, 1177. Durante vinte anos o rei Giorgi defendeu o trono do seu frágil reino contra todos os invasores. 
Agora, às portas da morte, o soberano enfrenta uma nova ameaça: não tem um filho que lhe suceda, apenas uma filha, Tamara, uma rapariga esperta, indómita e corajosa. 
Quando uma revolta ameaça a vida de Tamara, é enviada para as montanhas disfarçada de rapaz, até que uma traição devastadora a coloca nas mãos dos inimigos. 
A sua fuga corajosa convence Giorgi de que deve ser a sucessora, mas os nobres sentem-se ultrajados, pois nunca foram governados por uma mulher. 
Enquanto o pai vive, Tamara está protegida das forças hostis que a rodeiam, mas quando morre fica sozinha e tem de arranjar forças para controlar as facções que se defrontam na corte e atingir não só o respeito dos amigos como o medo dos inimigos. 
Para conquistar os objectivos tem de casar com um homem que os mais velhos aprovem. 
Porém, o seu coração pertence a um temerário rapaz das montanhas, um pobre partido para uma rainha. 
Com a rebelião a fermentar nas suas terras e os inimigos a assolarem-lhe as fronteiras, Tamara tem de escolher entre o homem que ama e o país que adora... 

Estudou Literatura Clássica em Cambridge e passou um ano a velejar entre a Inglaterra e o Alasca. Após algumas reviravoltas tornou-se jornalista. O seu último trabalho foi para a Reuters, em Moscovo, depois voltou a Londres para se licenciar em Política Russa Pós-União Soviética. 
Meg descobre Tamara ao escrever um artigo sobre a Geórgia e decide escrever um livro em vez de tentar arranjar outro emprego. 
Volta a visitar a Rússia várias vezes e, mais recentemente, em lua-demel. Meg gosta de montanhas, barcos, línguas e histórias de aventuras. 



Novidade Porto Editora


Eu sou o Homer, o irmão cego. Não perdi a vista de repente, foi como nos filmes, um lento fade-out. 
Homer e Langley Collyer tornaram-se uma lenda tragicómica de Nova Iorque quando foram encontrados soterrados debaixo de toneladas de lixo acumulado na sua mansão, na Quinta Avenida. Transportados para o mais recente romance de E. L. Doctorow, estes personagens delirantes – Homer, cego e intuitivo, e Langley, abandonado à loucura, ou à genialidade, após servir na Primeira Guerra Mundial – tornam-se os cicerones de uma visita guiada à América do século XX e aos becos sombrios da mente humana.
Uma intensidade narrativa quase hipnótica. Um retrato singular da condição humana.

E. L. Doctorow nasceu em Nova Iorque, em 1931. Considerado um dos mais talentosos escritores da segunda metade do século XX, é autor de romances que combinam História e crítica social, tendo sido galardoado comvários prémios como o National Book Award, National Book Critics Circle Award, PEN/Faulkner Award (duas vezes), entre outros. Com Billy Bathgate foi também finalista do Pulitzer.
A sua obra está publicada em mais de 32 países e cinco dos seus romances foram adaptados ao cinema. Doctorow dedica-se à escrita e ao ensino da literatura na Universidade de Nova Iorque.

Novidades Clube do Autor


Hugo Marston decide comprar um livro raro ao seu amigo Max, o idoso proprietário de uma banca de obras antigas. Poucos minutos depois, Max é raptado. Vivamente surpreendido com o ato, Marston, chefe de segurança da embaixada americana em Paris, nada consegue fazer para impedir o raptor. Marston inicia então uma investigação destinada a encontrar o livreiro, recrutando a ajuda do seu amigo Tom, um agente da CIA. A busca de Hugo revela que Max é, afinal, um sobrevivente do Holocausto que mais tarde se converteu num caçador de nazis.
Estará o rapto ligado ao sombrio passado de Max ou aos misteriosos livros raros que vendia?
 Nas ruas de Paris, a tensão aumenta à medida que gangues de droga rivais se envolvem em violentas disputas de território. E, estranhamente, começam a desaparecer mais alfarrabistas, sendo os seus corpos encontrados a boiar no rio Sena. Ao contrário da polícia, Marston acredita que há uma ligação entre os problemas com os traficantes e a morte dos bouquinistes.
 As descobertas de Marston fazem com que ele se torne em mais um alvo dos misteriosos assassinos. Com a ajuda de Tom, Marston completa o quebra-cabeças, relacionando o passado do livreiro com o presente e conduzindo, literalmente, os dois homens ao covil do inimigo. Tal como o assassino pretendera desde o início...


Situado no universo confiante e criativo do Portugal dos anos 80, este livro abre-nos a porta para os segredos mais íntimos da vida privada das mulheres e fala, sobretudo, da amizade e lealdade entre as mesmas.
As personagens do Ponto Pé de Flor aprendem a noção insuspeitada do prazer, esperam-se, deitam-se juntas, livram-se de vergonhas, fantasiam revoltas contra a tradição e o desprezo masculino. E um dia percebem, através de um olhar desconhecido, de um gesto diferente, que tudo no mundo mudou.

Clara Pinto Correia nasceu em Lisboa em 1960. É licenciada em Biologia na Universidade de Lisboa. Em 2004 prestou provas de agregação na Universidade de Lisboa, passando a ser Professora Catedrática. Presentemente é visiting scholar no Department of Biology no Amherst College, e membro do Centro de Estudos da História e Filosofia da Ciência. É também escritora, com mais de cinquenta títulos publicados, cronista e tradutora, tendo frequentemente trabalhado em rádio e televisão.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Espiral (Koji Suzuki)

Mitsuo Ando perdeu a família e tudo o que o ligava à vida quando o filho se afogou. Apenas o trabalho lhe resta para ocupar o tempo e afastar os pensamentos sombrios. Mas a aparente tranquilidade que é a sua rotina é abalada no dia em que realiza a autópsia de um antigo colega. Ryuji Takayama morreu em circunstâncias misteriosas e o que Ando descobre na autópsia desperta novas suspeitas. E a situação torna-se ainda mais complicada com a revelação de outras mortes similares - e igualmente inexplicáveis. Na sua busca por respostas, Ando tenta seguir as pistas deixadas pelos últimos passos de Ryuji, quer no que disse à sua companheira, Mai Takano, quer nos sinais deixados pelo seu próprio corpo. Mas as respostas trazem consigo mais perguntas e Ando descobre-se, de súbito, no centro de uma descoberta inexplicável: um vírus que, conjugado, em tempos, com a força do ódio de uma jovem mulher, se encontra agora em mutação, pronto para tomar o seu lugar na evolução.
Com um novo protagonista, mas retomando os acontecimentos pouco depois do final do primeiro volume da trilogia, este é um livro que, apesar de poder ser lido autonomamente (até porque o autor resume os acontecimentos essenciais do primeiro livro), tem um maior impacto se lido depois de The Ring - O Aviso. Isto deve-se essencialmente a dois aspectos. Primeiro, pela a sensação de continuidade relativamente aos acontecimentos anteriores, em equilíbrio com um contraste entre os elementos de índole psíquica, mais presentes no primeiro livro, e, neste segundo volume, um maior desenvolvimento das questões genéticas (ainda que exploradas de forma algo peculiar). Depois, pela forma como, além de prosseguir com os acontecimentos anteriores, o autor questiona a interpretação desses mesmos acontecimentos. As percepções de Asakawa, as descobertas que fez e as conclusões a que chegou (para não falar dos aliados com que contava) são, em muitos aspectos, diferentes das de Ando. Assim, nem tudo o que era verdade no primeiro livro o é no segundo, o que não acontece devido a contradições, mas antes às mudanças causadas por uma evolução nos conhecimentos, evocando também um certo paralelismo com a evolução do próprio vírus.
Não se pode dizer que seja uma leitura compulsiva. Vários momentos descritivos, principalmente nas explicações de alguns conceitos de genética, e a recapitulação de partes da história já conhecidas para quem leu o primeiro livro fazem com que o enredo evolua a um ritmo relativamente pausado.  Há, ainda assim, uma intrigante aura de mistério na forma como as pistas vão sendo desvendadas, à medida que Ando chega a novas conclusões. E se as primeiras pistas são relativamente fáceis de decifrar, sendo fácil prever o que acontecerá a seguir, isso muda com o evoluir dos acontecimentos, que culminam num final surpreendente e que abre possibilidades muitíssimo interessantes para o que virá a seguir.
Um pouco menos sombrio que o primeiro volume, mas igualmente intrigante, Espiral responde a várias das questões deixadas em The Ring - O Aviso, ao mesmo tempo que apresenta novos problemas e novas perguntas para o que poderá acontecer no livro que se segue. E é também isto, em conjunto com o enredo cativante, o final surpreendente e uma bem conseguida mudança de perspectiva relativamente aos acontecimentos, que torna a leitura tão interessante. Muito bom.

Novidades Bizâncio para Março


Título: Breve História da Música Ocidental
Autor: Lucien Jenkins, Clive Unger-Hamilton, Stephen Johnson e David McCleery
Colecção: Musicalmente
ISBN: 978-972-53-0522-5 
Págs.: 608
Preço: Euros 16,98 / 18,00
Música

Descobrir a Música Clássica, desde a Música Antiga ao Século XX, passando pelo Barroco, pelo Classicismo e pelo Romantismo. É a viagem que lhe propomos em Breve História da Música Ocidental: os compositores de cada período, contextualização histórica, com destaque para a música, mas passando também pela arte e pela literatura. Para ilustrar cada uma das épocas, o livro está recheado de fotografias, citações, ilustrações e dá-lhe ainda acesso a um sítio de Internet com várias horas de música. Muito bem estruturado, Breve História da Música Ocidental é um instrumento precioso para leitores de todas as idades.

Título: Jardins de Canela
Autor: Shyam Selvadurai
Colecção: Ilhas Encantadas
ISBN: 978-972-53-0191-3 
Págs.: 304
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Romance

«Escrita requintada, um romance soberbo.» The Independent

No elegante, mas sufocante mundo da classe alta de Ceilão (Sri Lanka), no início do século passado, duas pessoas solitárias, Annalukshmi e o seu tio Balendran, têm que escolher entre a felicidade pessoal e a provável destruição de outras vidas. Uma sonha com a independência, ao mesmo tempo que a sua família tenta, obcecadamente, arranjar-lhe o casamento adequado, enquanto o outro, um respeitável marido e pai, se vê confrontado com o passado e os seus desejos mais íntimos. Sensual e cativante, Jardins de Canela é um romance arrebatador que fala de emoções proibidas e da força interior daqueles que tentam não só resistir às pressões da sociedade, mas também lutar para alcançar a sua própria felicidade.

Título: Como Observar as Pessoas
Subtítulo: Dizemos mais do que Pensamos
Autor: Janine Driver
Colecção: Pequenos Livros
ISBN: 978-972-53-0466-2 
Págs.: 340
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Auto-ajuda

Gostava de ser «à-prova-de-bala» no trabalho e de se sentir seguro nos seus relacionamentos?  Gostava de sentir-se satisfeito na sua pele?
Então, é fundamental ter a noção do que o seu corpo anda a dizer ao mundo. Com graça e «olho clínico», Janine Driver – que trabalhou com o conceituado psicólogo Paul Eckerman, consultor da série da Fox, Lie to Me - ensina-lhe os truques que lhe permitirão estar em vantagem na sua vida diária. O seu «Plano em 7 Dias» e as suas «Soluções em 7 Segundos» ensinar-lhe-ão dezenas de «dicas» de linguagem corporal capazes de resolver a seu favor qualquer situação interpessoal. Este livro revelar-lhe-á também métodos que outros especialistas se recusam a partilhar com o grande público, desmantelando grandes mitos da linguagem corporal. Numa época em que todas as vantagens contam — e as primeiras impressões contam mais do que nunca — este é o livro que realmente o ajudará a transmitir a sua mensagem.

Título: Viagem ao Mundo da Droga
Autor: Charles Duchaussois
ISBN: 978-972-53-0478-5 
Págs.: 464
Preço: Euros 15,00 / 15,90

De Marselha ao Líbano, de Istambul a Bagdad, de Bombaim a Benares. De barco, a pé, de carro, Charles aproxima-se pouco a pouco de Catmandu, oásis do mundo da droga e paraíso dos hippies, num percurso repleto de aventuras, de acidentes e incidentes. Em Beirute, associa-se a traficantes de armas e participa na colheita do haxixe; no Kuwait dirige um bar; no Nepal é, por algum tempo, o «médico» e «cirurgião» dos camponeses dos Himalaias. Um percurso de vida marcado pelo consumo das drogas: o ópio e o haxixe que fazem planar, o flash da heroína e a «viagem» do LSD. Nunca um consumidor foi tão longe e, salvo in extremis, sobreviveu para relatar a infernal viagem ao mundo das drogas. Esta obra, já um clássico, é um relato apaixonante e simultaneamente arrepiante da extrema miséria a que o consumo de drogas pode conduzir. Um sério aviso a todos os que são «espicaçados» pela curiosidade.

domingo, 17 de março de 2013

Não Deixes que me Levem (Catherine Ryan Hyde)

Todos os dias, Grace senta-se à entrada do seu prédio, quieta, calada, sem que ninguém saiba porquê. Vive num bairro pouco seguro, pelo que os seus vizinhos não confiam em ninguém. Mas a visão daquela criança sozinha, todos os dias, parece preocupar os que a rodeiam, por mais fechados que possam ser. De entre os que reparam, Billy é o primeiro a questionar-se e o mais improvável dos amigos. Sofre de agorafobia e não sai de casa há anos. Talvez por isso se interroga que razão justificará que Grace fique ali fora, todos os dias, perante perigos que mal pode imaginar. Mas a resposta é, afinal, muito simples. Grace precisa de ajuda e estar ali é a sua forma de o manifestar. A mãe, viciada nas suas drogas, passa mais tempo a dormir que com ela. E alguém tem de tomar conta de Grace. Caso contrário, a Assistência Social acabará por intervir, levando-a para longe.
Centrado, em grande medida, no que define as personagens e as suas experiências de vida este é um livro que vive essencialmente das emoções. Os momentos mais marcantes são os de maior intensidade emocional, com as perdas - possíveis ou reais - a definir a força desses momentos e, além disso, são também os medos e desejos das personagens o que define o enredo. 
No centro de tudo está Grace, inocente e vulnerável, mas com um crescimento particularmente tocante, quer na forma como lida com as suas circunstâncias, quer no efeito que exerce sobre os que a rodeiam. E, partindo dela, também os seus vizinhos mudam, tornando-se um pouco melhores e mais próximos devido à criança que justifica a sua crescente união. De um conjunto de vizinhos isolados, tendo como máximo exemplo Billy, surge um espírito de comunidade, e a forma como a autora constrói esta evolução, partindo de uma única situação que é a de uma criança em apuros, cria, na empatia que desperta para com as suas personagens, uma boa base para que os momentos mais comoventes fiquem na memória.
A história é contada essencialmente dos pontos de vista de Grace e Billy, sendo com estes que se cria a impressão de uma maior proximidade. Ainda assim, há em quase todas as personagens algo de tocante, desde a senhora aparentemente antipática, mas que se preocupa, afinal, ao homem mau e cheio de preconceitos que é capaz de alguns gestos de ternura. Todos os elementos do grupo de vizinhos têm algo que os diferencia, em temperamento e em fantasmas do passado, e isto torna a sua união um pouco mais tocante. Além disso, nem tudo é simples e sereno, levando a que a história tenha tanto momentos tensos e tristes, como situações divertidas e enternecedoras. As emoções que desperta são, em suma, tão diversas como as personalidades que protagonizam a história.
Mas nem todas as relações têm a mesma força da que Grace tem com os vizinhos e nem todas as personagens despertam a mesma empatia. Neste aspecto, fica alguma estranheza quanto ao papel desempenhado pela mãe de Grace. Isto deve-se, em parte, à questão do vício, é claro, e muitas das suas acções pretendem realçar as consequências desse vício. Mas, talvez por raramente ser referido o ponto de vista de Eileen, a impressão que passa é, muitas vezes, de indiferença, acabando por ser o laço entre mãe e filha o que menos se destaca. 
Ficam também algumas perguntas sem resposta - ou com respostas vagas - relativamente aos vizinhos de Grace. Estas não são, ainda assim, essenciais à evolução do enredo, pelo que, mesmo deixando uma certa vontade em saber mais, estes pequenos mistérios não prejudicam a leitura.
Comovente e enternecedor, nos melhores momentos, e com um enredo cativante, Não Deixes que me Levem conta, no fundo, uma história de superação: da capacidade de vencer os próprios medos e da união para superar circunstâncias difíceis. Uma história que, mesmo sem dar todas as respostas, consegue ser, nos momentos certos, tocante e divertida, recordando, ao mesmo tempo, a importância dos afectos. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

sábado, 16 de março de 2013

Resgate (David Malouf)

A guerra de Tróia prolonga-se por demasiados anos quando Pátroclo é morto, despertando a ira de Aquiles. Em resposta, este não hesita em vingar-se do assassino, num confronto que termina com a derrota e morte de Heitor. Mas a vitória não basta. Durante dias e dias, Aquiles arrasta o corpo do seu inimigo perante os olhos dos habitantes da cidade e, mesmo assim, a sombra que o consome parece não ser aplacada. Até que outro homem atormentado, Príamo, rei de Tróia, toma a impensável decisão de se apresentar perante o assassino do filho e pedir-lhe, como homem vencido, que lhe entregue o corpo em troca dos tesouros que leva consigo. Poucos acreditam que possa ser bem sucedido. Mas o encontro entre o líder destroçado e o rei que já foi escravo parece estar escrito na vontade dos deuses...
Poético e introspectivo, com uma linguagem elaborada e uma visão bastante complexa dos seus protagonistas, Resgate parte de um dos episódios mais conhecidos da Ilíada para construir uma história mais pessoal, centrada essencialmente em duas personagens (e com uma terceira também relevante, ainda que em menor grau) e nas sombras e necessidades que os atormentam. Aquiles, o mais imprevisível dos gregos, surge como um homem consumido pela perda e por ela levado à fúria. Todas as acções e pensamentos que lhe são atribuídos reflectem o seu tormento. Príamo, por sua vez, é apresentado primeiro como um rei limitado pelo protocolo, depois como a criança que foi durante uma experiência traumática, e, por fim, como homem e pai numa missão em que cada gesto é necessário. E, no caminho entre ambos, surge Sómax, personagem mais discreta, mas que, na sua humildade, completa a visão traçada pelo guerreiro e pelo nobre, revelando um mundo para lá do conhecimento de ambos.
Toda a história se desenvolve em torno de Príamo e Aquiles, e do que leva ao seu encontro. Assim, tanto o que se passa em torno de ambos, no contexto global da guerra, como qualquer experiência sem relação com esse encontro passam para segundo plano. Ficam, por isso, inevitavelmente algumas perguntas sem resposta quanto ao futuro, evocado apenas brevemente nas páginas finais. Mas há algo nessa ambiguidade de deixar conclusões apenas para a missão de Príamo - que é, afinal, o cerne da narrativa - algo que se torna bastante adequado, já que a história não é a da guerra de Tróia, mas, acima de tudo, a dessa mesma viagem. E, dessa, nada de essencial fica por dizer.
Não é propriamente um livro viciante. A escrita poética e bastante elaborada e uma certa tendência para a divagação impõem à narrativa um ritmo bastante pausado. Há, ainda assim, beleza na complexidade evocada para descrever acontecimentos e lugares e, ao dar a conhecer ao leitor os pensamentos e perturbações dos seus protagonistas, o autor está também a reforçar o impacto de ocasionais momentos emotivos, realçando assim a força que move as suas personagens.
Pausado, mas cativante e com muito de belo para descobrir, quer na poesia da linguagem quer na complexidade dos pensamentos e formas de agir das personagens, este é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, exerce, ainda assim, um estranho fascínio, na forma como acrescenta algo de novo a partir de uma história intemporal. Vale a pena ler, portanto.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Descubra a Cabra Secreta que Há em Si (Elizabeth Hilts)

Ao longo da vida e principalmente na forma como lidamos como os outros, há uma ideia estabelecida de que devemos ser simpáticos. E, até um certo ponto, tudo bem. Mas há um limite a partir do qual a simpatia se torna prejudicial, quer porque nos torna alvos fáceis, quer porque uma incapacidade crónica de dizer não nos coloca a fazer coisas que realmente não queremos. É para evitar isto, que a autora chama de Toximpatia, que é importante descobrir a tal Cabra Secreta. E a forma de viver em sintonia deste lado da personalidade que quer viver segundo as suas próprias regras e pensar em si primeiro assenta numa ideia muito simples: dizer-se o que se quer (e isto não implica fazê-lo de forma cruel ou grosseira) e ser capaz de dizer não.
Tendo em conta o que se espera, por vezes, de um manual de auto-ajuda, basta considerar o título deste livro para ver que se  trata de algo diferente. E diferente não significa automaticamente mau. Na verdade, a forma como a autora desenvolve as suas ideias, de forma simples e clara, mas também bastante divertida, é um dos grandes pontos fortes deste livro. As questões são pertinentes, as ideias da autora são muito interessantes e a forma como as desenvolve - com exemplos e evocações da sua experiência pessoal - tem muito de cativante e bastante sobre que reflectir. Mas é o tom em que o livro é escrito, com muito humor e num registo quase familiar, como que de uma amiga a dizer o que é preciso ouvir, que torna a leitura realmente cativante.
Mas passando às ideias. Uma das mensagens mais importantes que a autora pretende transmitir é que ser demasiado simpática, colocando o que os outros esperam de nós acima de nós próprias, é, provavelmente, uma escolha prejudicial. Mas o que torna este ponto de vista interessante (além da relevância da questão em si, já que demasiada dificuldade em dizer não quase sempre traz problemas) é o cuidado que a autora tem em demonstrar que superar a Toximpatia não implica passar para o extremo oposto. Várias vezes ao longo do texto a autora reforça a diferença entre a sintonia com a dita Cabra interior e uma atitude agressiva e amarga para com os outros. O ideal é, no fundo, um equilíbrio entre os dois pontos, e essa ideia é claríssima.
Ainda que, principalmente na primeira parte, a autora se debruce sobre outros aspectos da vida, grande parte do livro é dedicada às relações - e, por relações, refiro-me ao romance. Claro que, sendo estas as mais capazes de gerar complicações, é normal que sejam mais desenvolvidas. Ainda assim, fica a sensação de que mais haveria a dizer relativamente aos restantes aspectos da vida, ficando alguma curiosidade em saber o que teria a autora a dizer sobre o assunto.
Leve e cativante, escrito num tom bem-humorado e descontraído, este é um livro bem diferente dos habituais manuais de auto-ajuda. Mas é precisamente essa diferença que, associada à relevância das questões abordadas e à forma como a autora desenvolve as suas ideias, num tom agradável e sem censuras, tendo sempre em vista o melhor equilíbrio possível, que torna a leitura tão cativante. Uma boa leitura, portanto.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Não Te Quero Matar (Dan Wells)

John Cleaver, adolescente, sociopata e obcecado por serial killers, parece ter encontrado uma missão para ocupar os seus instintos mais negros. Depois do mais recente confronto com um demónio que andava a espalhar morte pela zona onde vive, John desafiou outro dos da sua espécie e está agora à espera de um sinal de que Ninguém - assim se chama o novo demónio - chegou e anda à sua procura. E a resposta não tarde. Um padre é encontrado morto, com as mãos e a língua cortadas e duas estacas nas costas, quase que evocando asas. John parece ter encontrado a primeira - e muito evidente - pista do seu inimigo. Mas as coisas nunca são assim tão simples. Primeiro, John precisa de estabelecer algumas relações para conseguir a informação que quer e a jovem Marci parece ser a aliada perfeita, até porque parecem ter interesses em comum e, surpreendentemente, John sente-se bem na sua companhia. E, além disso, nem todas as pistas são tão claras como a primeira parece ser. O perfil que John traçou para Ninguém pode estar errado... ou, então, parte da informação escapa ao seu entendimento.
Desde o primeiro livro desta série que um dos pontos mais cativantes é a forma como, partindo de um protagonista alegadamente incapaz de sentir empatia, o autor desenvolve uma figura carismática, complexa e capaz de despertar a simpatia do leitor. Neste terceiro livro, esses traços inesperados - tendo sempre em vista o facto de John ser, alegadamente, um sociopata - evoluem ainda um pouco mais. Os pensamentos macabros e a obsessão com a morte continuam presentes, mas tudo aquilo que o protagonista viveu desde a história do Assassino de Clayton mudou parte das suas prioridades e fê-lo evoluir. John surge agora como uma personagem muito mais humana e ainda mais complexa, o que só aumenta o seu carisma. Ao mesmo tempo, há também alguma evolução nos traços que lhe são inerentes, evidente em questões como a sua relação com Marci e na forma como encara a sua missão de caçador de demónios, e culminando num final que, particularmente intenso na conclusão dos acontecimentos, marca também pelo toque de emoção que acaba de o humanizar.
Ora, se é certo que grande parte da história vive de John, até, porque, além do protagonista, é ele o narrador, há ainda outros pontos fortes a acrescentar a esta muito bem conseguida caracterização. O primeiro é, obviamente, a construção do enredo, conjugando mistério e sobrenatural, numa história de ritmo viciante e com as medidas certas de acção e emoção, bem como um delicioso toque de humor negro. Junte-se a isto uma boa caracterização das restantes personagens, quer na forma como John as vê e lida com elas, quer no papel que elas desempenham na vida do protagonista (sendo de destacar, é claro, a mãe de John) e a força dos momentos mais emotivos sai reforçada, acontecendo o mesmo com os grandes momentos de acção.
Falta referir, ainda, a questão da falibilidade. Nem tudo é imprevisível neste livro, ainda que algumas das revelações sejam surpreendentes, mas o que acontece é que, ao seguir o raciocínio de John na tentativa de encontrar a sua adversária, o seu percurso de tentativa e erro acaba também por o tornar mais humano, tornando mais interessante seguir os seus passos, mesmo depois de instalada a suspeita de que as suas ideias talvez estejam erradas. Estas dúvidas e tentativas falhadas acabam também por intensificar o impacto do final que, sem deixar sem resposta qualquer questão essencial, deixa algumas possibilidades em aberto, insinuando uma continuidade para lá do fim.
Cativante, surpreendente e com alguns momentos realmente marcantes, Não te Quero Matar encerra, assim, da melhor forma uma história intensa e viciante, com um bom equilíbrio entre acção, mistério, emoção e humor e um protagonista carismático, surpreendente e inesperadamente humano. Muito bom, portanto. Recomendo.