quinta-feira, 28 de março de 2013

Tempo para Falar (Helen Lewis)

Nasceu em Trutnov. Trocou a promessa de uma carreira estável pela paixão pela dança e dedicou-se em pleno a uma carreira no bailado. Tinha um futuro promissor. Mas a História meteu-se no caminho e todos os sonhos e desejos foram suspensos com a entrada dos nazis. Helen era judia e, como tantos outros, foi deportada, primeiro para o gueto de Terezín, depois para Auschwitz. Aí, viveu a privação, a brutalidade e o medo. E sobreviveu para contar a história. Tempo para Falar apresenta as suas memórias desse tempo terrível. E fá-lo com uma serenidade impressionante.
O que mais marca neste livro, e é algo que se torna claro desde as primeiras páginas, é o tom tranquilo, mas nunca indiferente, com que autora conta o seu percurso. Desde os sonhos e aspirações profissionais, passando pelo temor crescente, à medida que o cenário se tornava mais sombrio e avançando, depois, para a miséria da vida nos campos de concentração, a autora narra a sua experiência com uma serenidade que expressa, em cada palavra, a sua sobrevivência. Tanto a ingenuidade das convicções (e, depois, da esperança) de que tudo correria bem, como a quase resignação a um fim inevitável são narrados com a mesma calma serena de quem viveu e ultrapassou. Disto resulta um quadro que, por ser menos dramático, é infinitamente mais claro, já que permite recordar tanto o terror e a angústia como os pequenos momentos e as rotinas possíveis que permitiam prosseguir com vida.
Também impressionante é o evidente cuidado de, apesar das circunstâncias, não criar generalizações. Da sua experiência vivida nos campos de concentração, Helen não recorda apenas brutalidade e a forma como narra os inesperados gestos de bondade (tanto da parte de companheiros de infortúnio como de alguns oficiais e guardas do campo), em oposição ao abandono dos elementos do seu grupo, recordam que, entre os monstros e os ideais que os moldaram, havia, no fim de contas, seres humanos que, ante o medo e o risco, faziam o que lhes era possível.
Este é, claro, um relato muito pessoal. Mas, desde o tom em que é contado à percepção apresentada pela autora sobre aqueles que a rodeiam, tudo nele o transforma em algo maior. A história de Helen é, em muitos aspectos, semelhante à de outros. Mas além da importância de lembrar, de conhecer os traços mais negros da História, este livro marca também por ser, em parte, mensagem de esperança por entre as mais sombrias horas. Helen sobreviveu. Com marcas, que as marcas de um tal percurso nunca se poderiam apagar, mas sobreviveu. E a tal serenidade com que, nestas memórias, narrou o seu passado não podia expressar mais claramente a firmeza dessa recuperação. Há também, por isso, neste livro, um exemplo de coragem, e também isso o torna tão marcante.
Nunca poderia ser uma leitura fácil, tendo em conta o que tem para contar, mas, na sua história de dor e de força, e na tranquilidade com que é narrada, tudo neste livro marca e comove. Fortíssimo nas memórias e na mensagem que transmite, além de muitíssimo bem escrito, fica na memória, este Tempo para Falar.

Sem comentários:

Enviar um comentário