quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Confissão (John Grisham)

Donté Drumm está há quase nove anos no corredor da morte, condenado pelo rapto e homicídio de Nicole Yarber. Sempre se declarou inocente e as provas contra si resumem-se a uma confissão duvidosa, mas, de alguma forma, todos os recursos foram recusados. Agora, a hora da execução aproxima-se e a sua maior esperança está a centenas de quilómetros de distância, onde um pastor luterano acaba de receber a visita de um homem que afirma ser o verdadeiro assassino e que, por lhe restar pouco tempo de vida, estar decidido a contar a verdade. Seria de esperar que a suspeita bastasse para parar a execução. Mas não. Primeiro, Travis Boyette é tudo menos credível e a sua vontade de confessar não é tão firme como parece. Além disso, todos os responsáveis pela condenação estão seguros da sua decisão e pouco dispostos a ceder a apelos de última hora. Talvez a verdade possa vir a ser revelada... mas não será demasiado tarde?
Tendo em conta as linhas gerais do enredo, uma das primeiras coisas a surpreender neste livro é o ritmo relativamente pausado. Grande parte da história ocorre no espaço de poucos dias, e toda essa parte implica uma corrida contra o tempo, mas, talvez porque a acção em si dizer mais respeito a apelos e questões jurídicas, algumas explicações são necessárias, o que abranda consideravelmente o ritmo da narrativa. Além disso, toda a história serve para transmitir uma mensagem e esta é abordada em todas as suas questões mais relevantes ao longo do enredo, levando a um tom, por vezes, mais divagativo, de reflexão.
Considerando tudo isto, não se pode dizer que este seja um livro que vicie desde as primeiras páginas. Não é. Mas isso não lhe retira envolvência. Na verdade, as muitas considerações tecidas em torno do caso de Donté contribuem em muito para criar uma sensação de proximidade relativamente às suas circunstâncias, reforçando a relevância da questão essencial: a validade da aplicação da pena de morte. Além disso, à medida que os diferentes intervenientes no enredo se tornam conhecidos, as suas acções tornam-se progressivamente mais relevantes, levando a que o ritmo cresça em intensidade. Algures durante o enredo, a história deixou de ser uma narração pausada para ser uma situação de que se quer sempre saber mais.
Outro grande ponto forte deste livro é a forma como o autor desenvolve a posição de Donté de modo a criar o máximo de empatia entre o leitor e as personagens. Desde os primeiros capítulos que as circunstâncias de Donté são conhecidas e toda a história é gerida em função da tentativa de evitar o que lhe está destinado. Nesse sentido, o autor explora as acções e motivações de todos os envolvidos, criando uma tensão que se espera que culmine na hora determinada para a execução. Execução para a qual, ao longo de uma boa parte do enredo, se insinua um final expectável. Mas a história não termina nesse momento particularmente intenso, abrindo antes caminho para um novo desenvolvimento - inevitável, independentemente dos resultados conseguidos - e, em consequência, para novas reflexões.
Há, portanto, além de um enredo cativante e com algumas surpresas, várias considerações relevantes ao longo deste livro. Toda a narrativa é construída em torno da questão da pena de morte - e da possibilidade da condenação de um inocente - e a forma como o autor gere as tensões e emoções ao longo do enredo apela a uma reflexão sobre o assunto. Também isto faz parte do que marca neste livro, em que a história das personagens é impressionante por si mesma, mas em que a questão essencial está sempre presente, como o próprio final realça com precisão.
Com personagens fortes e um ritmo que cresce em intensidade com as sucessivas revelações que vão sendo apresentadas, A Confissão conjuga um enredo envolvente com uma importante reflexão sobre temas muito relevantes. O resultado é uma leitura cativante, com momentos fortíssimos e uma história que fica na memória, tanto pelos acontecimentos como pelas questões associadas. Um bom livro, portanto. Muito bom.

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