sábado, 11 de maio de 2013

À Luz de Paris (Duarte Monteiro)

Foi numa noite de Verão, em plena cidade do Porto, que Andrew Baker conheceu o amor da sua vida e, durante algum tempo, viveram a magia de uma paixão sem reservas. Mas o regresso a Inglaterra trouxe dificuldades e, entre problemas sociais e uma doença, a relação acabou por se ver abruptamente interrompida. Mas não esquecida. Apesar de todos lhe terem dito que Monica morreu num acidente, Andrew sabe que não lhe estão a dizer a verdade. Sabe que ela está, algures, e que só tem de a procurar. Mas a esquizofrenia turva as fronteiras entre imaginação e realidade e há em seu redor quem esteja disposto a muito para que a sua busca não se concretize. Até porque a sua família tradicional e preocupada com as aparências esconde um segredo sombrio.
Com partes iguais de mistério e de romance, este é um livro que cativa principalmente pelo equilíbrio entre estes dois elementos. O romance de Andrew e Monica é parte essencial do enredo, e os episódios relativos ao passado, permitem conhecer e gerar empatia para com estas personagens, ganhando intensidade também pelo facto de prevalecer apesar da suposta tragédia. Além disso, ao apresentar episódios de presente e passado, o autor constrói uma interessante aura de mistério relativamente à relação. O que correu mal, porque acabou, a suposta verdade da separação entre ambos, são questões que vão sendo reveladas de forma gradual, mantendo viva a vontade de saber sempre mais.
A esta história de amor, interessante também por reflectir uma quase inocência na relação entre personagens, junta-se um lado mais negro. A investigação de Andrew e a intervenção dos que o querem impedir de descobrir a verdade implicam momentos de grande tensão, escolhas difíceis e momentos de grande intensidade, principalmente na fase final. Além disso, há neste mistério um interessante conjunto de questões para reflectir, quer na abordagem a problemas globais como o tráfico de mulheres, quer a questões pessoais e familiares, como a intervenção da família de Andrew e a fixação nas tradições. E há também a doença, que, além de influência fulcral nos passos dados por Andrew, serve também para construir, ao longo da história, um conjunto de pontos de contacto entre imaginação, realidade e memória.
A escrita é, no geral, agradável (apesar de algumas gralhas) e evoca bastante bem o ambiente de mistério, constante ao longo de todo o enredo. Há, ainda assim,algumas pistas que são dadas demasiado cedo, como no caso da doença de Andrew, que permite adivinhar alguns dos acontecimentos que virão depois. Felizmente, para lá dos momentos mais previsíveis, há também situações bastante surpreendentes, quer nas pequenas coisas, quer nos momentos particularmente fortes do final.
Trata-se, assim, de um livro cativante, com um bom equilíbrio entre romance e intriga e um conjunto de personagens tão interessante como as questões evocadas ao longo do enredo. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável. Gostei.

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