domingo, 26 de maio de 2013

Sob o Fogo e a Lua (Pedro Canário)

Quando tinha apenas seis anos, o seu clã foi dizimado, deixando-o como único sobrevivente. Naquele dia, a sua infância morreu e, sozinho nos bosques com o seu desejo de vingança, cresceu para se tornar num homem e num mito. Vinte anos depois, muitos falam do Carrasco, mercenário de capacidades inigualáveis, disponível apenas para aqueles capazes de pagar o seu preço. E há uma guerra que se avizinha e que pode ser a oportunidade de que ele precisa para encontrar o alvo da sua vingança. Um novo contrato parece estar à sua espera, mas o papel que ele tem a desempenhar na guerra pode ter um preço demasiado alto também para ele.
Com vários pontos marcantes, mas também com algumas fragilidades, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. Não propriamente a respeito da história, que, enquanto primeiro volume de uma história maior, deixa, naturalmente, várias perguntas em aberto, mas à forma como esta é desenvolvida - e, particularmente, a nível de escrita. Mas vamos por partes.
Grande parte do enredo deste primeiro volume gira em torno de uma guerra e, por isso, as descrições das batalhas são inevitáveis. São, também, o elemento dominante, o que, curiosamente, acaba por tornar o ritmo da leitura mais lento, já que a história pessoal do protagonista - que é, de facto, um dos aspectos mais cativantes - acaba por passar para segundo plano. Há, ainda assim, momentos bastante intensos no desenrolar das batalhas, e que acabam para contribuir para manter o interesse da história.
O mais marcante, ainda assim, está na história das personagens. História sobre a qual parece, por vezes, mais a dizer, mas que apresenta, ainda assim, vários momentos interessantes. Tanto o Carrasco como Damask são personagens interessantes, cada um invulgar da sua própria forma, e a evolução da relação entre ambos, com os seus dons peculiares e os sinais do passado a condicionar tudo o que acontece, estão na base de vários momentos muito bons (entre os quais, claro, a inevitável resolução da questão da vingança).
Também relativamente ao ambiente fica a impressão de que mais haveria a dizer. Há, ao longo do enredo, várias referências a tempos e a lugares que pretendem introduzir um contexto, mas nem sempre esse contexto se reflecte no que é descrito, ficando a impressão de uma certa ambiguidade, tanto de tempo como de cenário. Não faltam elementos essenciais ao desenrolar da história, e o enredo não deixa de cativar tal como é, mas fica a impressão que um maior desenvolvimento do contexto podia dar à história uma maior força.
Apesar de tudo, o principal problema acaba por estar na escrita, ou, mais concretamente, na falta de uma revisão mais atenta. As falhas não são tantas que prejudiquem em demasia o ritmo da leitura, mas há, ainda assim, gralhas e lapsos na construção do texto que, por serem fáceis de detectar, acabam por criar uma distracção relativamente à narração da história.
Tendo em conta tudo isto, a impressão que fica é a de uma ideia interessante e de uma história que, apesar de alguns aspectos a melhorar, acaba por ser cativante, mesmo apesar das suas fragilidades. Uma boa história, em suma, e agradável quanto baste.

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