sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Livro do Anjo (Alfredo Colitto)

Veneza, 1313. Os corpos de três crianças crucificadas são encontrados e logo a culpa é imputada aos judeus, em geral, e em particular a Eleazar de Worms. Para esse homem, parece não haver salvação, mas há quem julgue o contrário. Adia, uma amiga, envia uma mensagem a Bolonha, onde o médico Mondino de Liuzzi, companheiro de aventuras passadas (e algo mais), exerce a sua profissão. Mondino não tarda a acorrer ao seu chamado, mas não parece ser capaz de prestar grande auxílio. E, quando, com os seus últimos esforços, Eleazar traça a sangue uma mensagem na parede da sua cela, surgem os primeiros sinais de um mistério maior. Cabe a Mondino e aos seus parcos, mas fiéis aliados, desvendar o mistério e salvar o que ainda puder ser salvo.
Cruzando elementos de thriller e de romance histórico, este livro tem um dos seus pontos fortes na caracterização bastante precisa de dois aspectos: a cidade de Veneza, tal como é vista pelas personagens, e a teia de intrigas a ela associada. O livro não é muito extenso, pelo que também as descrições não são muito longas, mas há bastante de contexto e de descrição a ser revelado ao longo do enredo. Disto resulta, inevitavelmente, um ritmo pausado, mas que, a cada nova revelação, se torna mais e mais intrigante.
Um outro aspecto interessante é o desenvolvimento do protagonista. Mondino está longe de ser a mais empática das personagens, até porque a sua atitude ao longo de todo o enredo - e salvo ocasionais excepções - acaba por ser algo distante. Há, ainda assim, no que o define, algo de interessante. É que, reputado enquanto médico e enquanto perseguidor de mistérios, Mondino está, ainda assim, longe de ser uma personagem infalível. Alguns dos seus esforços são, na verdade, lamentavelmente ineficazes, sendo essas suas falhas parte do que o diferencia.
Esta é também uma razão para que a história não se limite ao protagonista. Há, na verdade, várias personagens tão interessantes como Mondino, e igualmente relevantes para o desenvolvimento do enredo. E se, de alguns deles, fica a impressão de que mais haveria a dizer, também é certo que, particularmente relevantes para os momentos de maior intensidade, criam, com as suas próprias histórias pessoais, um ambiente mais vasto e mais intrigante para os elementos centrais do enredo.
E depois há o mistério propriamente dito. Ou os mistérios. Também aqui há elementos que poderiam, talvez, ter sido mais desenvolvidos, mas nada falta que seja essencial à história. Além disso, se o ponto de partida basta para chamar a atenção, novas intrigas se juntam ao enigma das crianças crucificadas e a forma como os diversos mistérios se cruzam, para revelar no final o que têm em comum, acaba também por proporcionar alguns momentos surpreendentes.
Trata-se, portanto, de uma boa história, com um enredo cativante, uma boa caracterização do ambiente e das personagens (ainda que deixando algumas questões em aberto), e um conjunto de mistérios que dão origem a momentos surpreendentes e intensos. Vale a pena ler, pois.

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