terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bruges-a-Morta (Georges Rodenbach)

Para lidar com a morte de uma esposa amada, ou para perpetuar a sua dor, Hugues Viane muda-se para a cidade de Bruges, lugar que vê tão dolorido, tão melancólico como o seu próprio ser. Mas a tranquilidade do seu luto acaba por ser perturbada quando se cruza com Jane, a bailarina que tem o rosto, os cabelos, a voz da sua morta. Cedo Jane se torna uma obsessão para Hugues e um escândalo para os que o observam. Mas a verdadeira perda - o verdadeiro drama - acontece no seu interior, ao aperceber-se de que as semelhanças são só isso, semelhanças. E que a realidade completa se assemelha a uma desilusão.
Sendo um livro bastante breve, é expectável que, neste livro, tudo se centre no essencial. É, de facto, isso que acontece. Ainda assim, o ritmo da narrativa acaba por ser relativamente pausado, em grande medida devido a alguns momentos descritivos. Momentos que, se abrandam, de facto, o passo do enredo, são, ainda assim, um elemento essencial, quer porque tornam o cenário mais nítido, quer porque este se relaciona intimamente com os estados de alma do protagonista.
Há uma imensa ligação entre o luto e a melancolia de Hugues e a forma como ele vê Bruges, a sua cidade morta e sombria. Esta proximidade, em que homem e lugar quase se completam, é um dos pontos mais interessantes do livro. Mas a cidade não se resume ao que se revela nos olhos do protagonista e a percepção das mentalidades está também muito presente na forma como o comportamento de Hugues é analisado e comentado, pelos vizinhos, pelos religiosos. Também este é um elemento do cenário: o meio pequeno em que todos sabem tudo sobre todos.
Quanto ao enredo propriamente dito, sendo necessariamente breve, fica, talvez, a impressão de que mais haveria para explorar nalguns aspectos. Ainda assim, tudo o que é essencial está lá: intriga, traição e morte, num final que, não sendo propriamente difícil de prever, surpreende, ainda assim, pelo impacto de certos momentos. E, claro, pela fluidez das palavras.
Trata-se, então, de um livro, breve, mas cativante, com uma história que é tanto a de um crime e de uma tragédia, como a de um homem em luto que se deixa conquistar pela ilusão. Uma leitura cativante, com um ambiente muitíssimo bem construído e uma história que é muito mais que os acontecimentos que lhe servem de base. Um bom livro, em suma.

Sem comentários:

Enviar um comentário