domingo, 20 de abril de 2014

Linhas Invisíveis (J. Pedro Baltasar)

O primeiro a morrer é um homem rico e, por isso, com muitos inimigos. A morte é rápida, consumada à distância. E, por isso, há poucas pistas. Mas a morte de Robert Brannagh é apenas o início de um plano elaborado, em que as vítimas e os movimentos estão escolhidos e tudo se planeia através de linhas invisíveis, como se num jogo de xadrez. É também esse plano que arrasta Michael Burnett para a investigação dos crimes, pois também ele tem uma ligação ao passado de um assassino que, bem diferente agora de quem foi, carrega, ainda, as mesmas mágoas e o mesmo ressentimento.
Tendo como linha central um plano de vingança e, de certa forma, o jogo que lhe está associado, um dos pontos fortes deste livro é o desenvolvimento de algumas partes do mistério. Nem todas surpreendentes, porque a oscilação entre presente e passado revela, bem antes do final e de forma muito clara, quem é o culpado, mas intrigantes, quer pela forma como são desenvolvidas, quer pelo caminho que, apesar de previsível em alguns aspectos, surpreende com alguns toques de inesperado.
Também muito interessante é o desenvolvimento das personagens no passado e no presente, com particular ênfase para a mudança operada sobre David, mas também relativamente às restantes figuras centrais do enredo. A isto, acrescenta-se um lado sombrio, associado principalmente aos crimes, mas também a algumas crueldades de juventude, que torna o enredo mais intenso, ao mesmo tempo que cria, apesar de tudo, uma certa empatia para com as circunstâncias passadas de quem virá a ser o assassino.
A nível de escrita, notam-se alguns lapsos a nível de revisão (principalmente no que diz respeito à pontuação) e uma ou outra incongruência de descrição. Ainda assim, são erros pontuais, pelo que não afectam em demasia o ritmo da leitura. Além disso, à medida que personagens e planos se tornam mais conhecidos, o ritmo intenso do enredo acaba por colocar em segundo plano estes pequenos lapsos.
A soma de tudo isto é um livro que se inicia de forma algo dispersa, mas que evolui, com o adensar do mistério e o crescimento da empatia, para uma história cativante e interessante. Gostei, portanto.

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