domingo, 13 de abril de 2014

O Pistoleiro (Stephen King)

Sozinho em perseguição do homem de negro, o pistoleiro avança na sua demanda. Quem é, ou de que forma o passado o moldou, não importa, não quando cada dia de viagem o aproxima mais do seu adversário. Mas o caminho é longo e difícil. Atravessando uma cidade, encontrará os braços abertos de uma mulher e uma armadilha mortal. No meio do nada, tem à espera um companheiro e um sacrifício. E, de olhos postos no futuro, o passado começa a insinuar-se no seu pensamento, com reminiscências de um mundo diferente e de uma outra jornada - a do crescimento - que ficou para trás.
Primeiro volume de uma saga bastante extensa, este é um livro que, a princípio, se caracteriza por dois elementos: mistério e ambiguidade. À partida, nada é claro. Nem as razões da perseguição, nem as identidades do pistoleiro e do homem de negro, nem mesmo o que aconteceu ao mundo que ambos percorrem. Em resultado disto, o que se cria é um ambiente que cativa pelo que insinua de uma intriga mais vasta e pelo mistério que lhe está associado, mas que começa por ser algo vago, já que o desconhecimento das motivações e da história do protagonista criam uma certa distância. Neste aspecto, ter lido antes A Lenda do Vento (que, apesar de se situar cronologicamente numa fase mais adiantada da demanda, funciona bem como introdução, já que facilita o conhecimento do mundo e das personagens) ajuda, de certa forma, a superar este início mais ambíguo.
Tudo muda a partir do momento em que o pistoleiro passa a ser identificado. No contacto com outras personagens, e devido, em parte, ao seu próprio percurso, a jornada de Roland deixa de ser apenas a perseguição e volta-se, também, por vezes, para o passado. É esse passado, aliás, que o humaniza e, por isso mesmo, a história torna-se bastante mais envolvente a partir daí. Continua a haver muito por esclarecer, tanto no contexto global da jornada como nas aparentes contradições e dilemas de Roland, mas a personalidade (e as razões que a moldaram) tornam-se agora mais claras. 
A isto associa-se ainda uma muito interessante mistura de estranheza e fascínio, resultante da caracterização de um mundo tão diferente, em certas coisas, mas tão próximo da realidade conhecida, e de um sistema (vindo, em grande medida, do passado de Roland) de vastíssimas possibilidades. Assim, do mistério à revelação, a história vai-se tornando progressivamente mais cativante, com alguns momentos de acção particularmente intensos e um toque de emoção que, apesar de discreto e, também ele, ambíguo, coloca as escolhas - e o carácter - de Roland sob uma nova perspectiva.
Cheio de enigmas, mas estranhamente cativante, este é, pois, um livro que deixa, ainda, muito por esclarecer. Mas que, com a evolução da jornada, apresenta já um protagonista forte para um percurso que promete grandes momentos. Intrigante e surpreendente, um belo ponto de partida para uma história de vasto potencial.

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