segunda-feira, 19 de maio de 2014

Morte nas Trevas (Pedro Garcia Rosado)

A gozar a sua reforma antecipada e, por isso, sem muito que fazer, Gabriel Ponte dedica-se a tomar conta de Luisinha, a sua nova companheira canina, e a tentar estabelecer alguma paz entre os ramos da sua família, separados por erros do passado. Mas a tranquilidade cedo encontra um fim, com a visita de dois romenos, um dos quais em busca da sua filha desaparecida. O que lhe oferecem pode ser a oportunidade de se dedicar à investigação privada, uma ideia que lhe tem cruzado o pensamento. Mas o que Gabriel está prestes a descobrir é que nem os que o contrataram lhe disseram toda a verdade nem a situação é tão simples como parece. O que devia ser apenas um conjunto de diligências cedo evolui para algo de mais complexo. E muito, muito mais perigoso...
Quem, como eu, já teve a oportunidade de ler outros livros deste autor, sabe, em grande medida, aquilo que pode esperar. E o que pode esperar é um enredo cheio de reviravoltas, em que acção e mistério se conjugam nas medidas certas e em que a sempre algum perigo oculto à espreita. Uma leitura viciante, em suma. E diga-se, desde já, que Morte nas Trevas não é excepção. Entre os planos intrincados das várias partes envolvidas (e que são acompanhados de diferentes perspectivas), os segredos que são revelados para abrir caminho a novos perigos e um enredo em que há sempre algo de surpreendente, intrigante ou perturbador a acontecer, este é um livro que facilmente cativa e que é impossível largar antes do fim.
Mas, se todas as qualidades globais que este livro tem em comum com os anteriores bastariam para fazer com que a leitura valesse a pena, há ainda alguns elementos novos que importa particularmente referir. E o primeiro diz respeito a uns quantos desenvolvimentos pessoais relativos à figura de Gabriel Ponte. Ora, Gabriel é uma personagem feita de complicações, com uns quantos erros no passado e uma moralidade algo ambígua. Não será, por isso, propriamente um protagonista heróico. Isto torna-se particularmente relevante neste livro, primeiro pela forma como as suas relações pessoais se desenvolvem e depois pelo impacto que estas têm quando acabam por ser envolvidas no mistério central. Tudo isto, além de criar uma natural empatia para com o protagonista, aumenta em muito o impacto de um final que é, por si só, fortíssimo.
Ainda um outro ponto especialmente marcante, e também no âmbito pessoal, diz respeito à que acaba por ser a personagem mais deliciosa deste livro. Falo de Luisinha, claro, a fiel companheira canina de Gabriel e a personagem que, de presença relativamente discreta, mas imprescindível, introduz num enredo que tem bastante de sombrio um muito cativante elemento de leveza e ternura.
E, falando de elementos sombrios, importa ainda referir duas outras coisas. Primeiro, a capacidade de desenvolver um caso com muito de macabro e de perturbador sem se tornar nem demasiado descritivo, nem demasiado ambíguo. E depois a ligação a personagens de outros livros, particularmente pertinente no caso de Joel Franco, tendo em conta o cerne deste caso e a história passada do inspector.
Somados todos estes elementos, o resultado é, como não podia deixar de ser, uma leitura compulsiva. Intrigante e surpreendente, viciante desde o início e cheio de intrigas e revelações, Morte nas Trevas atinge e supera, mais uma vez, as expectativas. Muito bom, pois, como já se esperava.

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