quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Minha Outra Metade (Marianne Kavanagh)

Com uma das suas melhores amigas como companheira de casa e um namorado atraente, Tess pode dizer que tem uma boa vida, ainda que o seu emprego no apoio a clientes de uma empresa esteja bem longe do seu sonho de abrir uma loja de roupa vintage. O mesmo poderia dizer George, um músico cujo talento o leva a passar dos concertos com a sua banda a actuações a solo em festas privadas como aquela em que conhece a namorada. Mas nenhum dos dois é completamente feliz e, à medida que o tempo passa, os sonhos vão ficando para trás para corresponder às expectativas de um tempo em que é suposto crescer e assentar. Na verdade, Tess e George têm muito em comum e muitos dos seus amigos dizem que iriam gostar um do outro. Mas parece que o destino não quer deixar que eles se encontrem...
Centrado essencialmente na vida quotidiana dos dois protagonistas e na forma como a passagem do tempo resulta para ambos, este é um livro que tem como grande ponto forte o equilíbrio entre humor e emoção. Sendo uma história de desencontros, sente-se um romance prestes a acontecer e, nesse aspecto, não é difícil prever a resolução das coisas. Mas é interessante a forma como, durante grande parte do enredo, os percursos de Tess e George se definem independentemente um do outro, cada um vivendo os seus momentos improváveis, situações caricatas e momentos de emoção e tomada de consciência. O romance, aliás, apesar de ser, de certa forma, a base da história, já que a questão das almas gémeas está sempre presente, acaba por funcionar mais como um complemento para o percurso de descoberta do que os protagonistas realmente querem das suas vidas.
Apesar do impacto de alguns momentos mais emotivos, esta é, no essencial, uma história leve e descontraída. Para essa impressão de leveza contribui também o estilo de escrita, sem grandes elaborações e centrada nos acontecimentos, mas com uma forma bastante eficaz de dar voz aos pensamentos e emoções dos protagonistas. O tom acaba por ser o mais adequado à história que está a ser contada, o que ajuda muito a manter a envolvência do enredo.
Em termos de caracterização das personagens, o foco está, claro em Tess e George, mas há também um núcleo de personagens secundárias com um papel importante a desempenhar. Desde as personalidades mais cativantes, vindas das amizades fiéis, a figuras simplesmente detestáveis, há, entre os amigos e conhecidos dos protagonistas um conjunto de presenças que, quer pelos momentos que protagonizam, quer pelo que representam no rumo da história, tornam tudo bastante mais interessante. Ainda que, de alguns deles, fique a impressão de que mais haveria a dizer.
História de desencontros, de amor e de descoberta, A Minha Outra Metade proporciona uma leitura leve e divertida, com as medidas certas de emoção, numa história que, quer nos momentos mais improváveis, quer nos mais intensos, nunca deixa de cativar. Gostei.

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