segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Valquíria (Kate O'Hearn)

Ao contrário das outras Valquírias, Freya não se sente bem com o seu papel no mundo. Prestes a juntar-se às suas iguais na recolha dos mortos valorosos no campo de batalha, Freya questiona o valor de uma vida medida apenas pelos parâmetros da coragem guerreira. Ainda assim, é o destino que lhe cabe e Freya não tem alternativa a não ser assumir aquilo que é. Mas tudo muda quando o soldado que vai recolher lhe pede pela protecção da família. Nesse momento, Freya começa a ponderar se não haverá mais na vida dos humanos para além da guerra e do ódio. E, para encontrar respostas, sabe que terá de quebrar todas as regras e deixar Asgard para cumprir a promessa que fez ao seu soldado. Mesmo que as consequências sejam terríveis.
Um dos aspectos mais interessantes neste livro é a forma como a autora equilibra os elementos mitológicos com a realidade dos tempos actuais. Asgard corresponde em tudo ao que seria de esperar do território governado por Odin, com a magia e a beleza a contrastar com o constante combate dos guerreiros do Valhalla. O mesmo acontece no mundo dos humanos, com a normalidade a sobressair, apesar de um lado sombrio também bastante presente. O interessante em tudo isto é a forma como os dois cenários se completam, ligando-se com agradável fluidez, mesmo quando a assimilação dos elementos estranhos parece, talvez, demasiado fácil.
Também um ponto central no que torna esta leitura envolvente é a escrita agradável, bastante directa e sem descrições desnecessárias, mas com uma fluidez cativante. A autora não se demora em detalhes, e é certo que haveria mais a dizer sobre o mundo de Freya, mas toda a informação essencial é apresentada, ao ritmo de um enredo em que é a acção - complementada pela medida certa de emoção - o ponto central.
Quanto às personagens, é apenas expectável que Freya se destaque, sendo ela a figura central da história, mas surpreendem, acima de tudo, algumas figuras de papel mais discreto, mas que estão na base de alguns dos momentos mais marcantes. Maya, por um lado, com a sua capacidade de apoiar a irmã mesmo nas escolhas menos sensatas, mas principalmente Azrael, com o papel que tem a desempenhar na atribuição das derradeiras consequências para todo o percurso da protagonista.
De ritmo intenso e com uma boa história, este é, portanto, um livro cativante, com uma protagonista determinada e personagens fortes a dar forma a um enredo em que a percepção do que é certo é tão importante como as regras e as consequências de as quebrar. Uma boa leitura, em suma, e um bom início.

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