segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Fim de Semana (Bernhard Schlink)

Mais de vinte anos passados desde a última vez que estiveram juntos, um grupo de amigos reúne-se numa casa de campo para festejar a libertação de um deles. Jörg, condenado por terrorismo e homicídio, recebeu um indulto e precisa de descobrir uma forma de viver com a sua nova liberdade. Mas a reunião desse fim de semana, que deveria ser de reencontro com a vida, cedo traz à superfície situações mal resolvidas, ambições que envolvem Jörg, ainda que não sejam as suas, e sentimentos que mudaram com o tempo, mas não necessariamente para melhor. Pelo meio, fica a tentativa de perceber as razões: as da luta passada e as que os levaram ao ponto onde se encontram.
Centrado, em grande parte, nas relações pessoais, mas também nas motivações de uma luta mais vasta, ainda que nem sempre de fácil compreensão, este livro tem no equilíbrio entre o público e o pessoal um dos seus grandes pontos fortes. Sendo Jörg um famoso terrorista, há, inevitavelmente, uma abordagem às razões da sua luta e às questões ideológicas subjacentes. Assim, há toda uma ponderação em torno dos meios usados para atingir um objectivo e da justificação da morte em nome da conquista de um mundo melhor. Mas isto é particularmente interessante tendo em conta a caracterização de Jörg, em nada correspondente à ideia grandiosa (principalmente aos olhos de uma outra personagem) do grande revolucionário.
É aqui que o tal equilíbrio se torna evidente. Jörg é uma figura frágil, marcada, de certa forma, pelo que viveu na prisão, mas também pelo regresso a um mundo que nem sempre reconhece. E a forma como os amigos interagem com ele revela uma teia de laços particulares especialmente cativante. Ilse, com o seu sonho adiado e a paixão esquecida. Marko com as ainda presentes ideias revolucionárias, mas incapaz de medir as consequências. Christiane a sempre presente irmã, capaz de trair para proteger. Os amigos, que questionam as razões, mas que, apesar disso, oferecem o apoio possível.
Há, por isso, um surpreendente lado emotivo nesta história de encontros e de despedidas. E é também este aspecto a contribuir para que a história acabe por ser tão marcante, principalmente tendo em conta a forma como tudo termina. Sem dar todas as respostas, e com as que dá a não serem as mais positivas para as personagens, deixa ao leitor a possibilidade de imaginar o que acontece depois desse fim de semana, sem descurar, apesar disso, algumas pistas sobre um possível futuro. E, assim, apesar do muito que fica em aberto, fica também a impressão de uma conclusão adequada. Porque, apesar de tudo, a vida não acaba nesse fim de semana.
Marcante tanto pelo percurso pessoal das personagens como pelas questões mais vastas que este evoca, O Fim de Semana é tanto uma história de ideais como de emoções. E, contada com mestria, tanto nos momentos mais intensos como nos mais introspectivos, facilmente se torna memorável. Vale, pois, a pena ler este livro. Vale muito a pena.

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