sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Ratos & Gatos (Gleidston César)

Palavras de afectos, de pensamentos, olhando o mundo segundo o eu. Um eu que sente, que sofre e que ama segundo a sua posição perante os outros, mas que se expande também a um olhar mais vasto, questionando os preconceitos e limitações da sociedade. Um eu vincado, bem definido, que é a própria identidade, pessoal e intransmissível, do sujeito poético - mas que contém em si algo de universal. É isto, este eu que se dá a conhecer nos poemas deste livro - e o resultado é um equilíbrio bastante interessante entre coesão e diversidade.
Um dos aspectos mais interessantes neste conjunto de poemas é a forma como, apesar de cada poema ser um todo em si mesmo, parece ser, ao mesmo tempo, parte de uma unidade maior. É quase como se acompanhasse o percurso evolutivo de um mesmo indivíduo, realçando as suas percepções, convicções e sentimentos. Ora, isto é interessante porque é possível ler só alguns poemas sem ficar com a sensação de alguma coisa em falta, ou ler o livro de uma ponta à outra, ficando com a tal sensação de uma totalidade mais vasta.
Também particularmente cativante é o equilíbrio entre o pessoal e o universal, num conjunto em que todos os poemas parecem pertencer a uma mesma e única voz, mas em que alguns deles falam de amor, outros de amizade, outros das injustiças sociais e da discriminação. Por vezes, o sujeito poético olha para si mesmo. Outras, olha para o mundo. E também isto contribui para realçar o contraste entre o individual e a totalidade, salientando a diversidade de elementos e de temáticas - ainda que projectadas numa mesma visão.
Até na própria estrutura se nota um certo equilíbrio entre coesão e diversidade, moldando temas comuns em diferentes formas e dando-lhes assim um ritmo diferente. Poemas curtos, poemas longos, versos curtos e versos longos, rima ou ausência de... Há um pouco de tudo neste livro e se é verdade que alguns dos poemas marcam mais do que outros (consoante o gosto de quem os lê, também) não há nenhum neste livro que não deixe na memória uma impressão. E nalguns casos, essa impressão é realmente muito positiva. 
A impressão que fica é, portanto, a de um livro coeso e equilibrado, em que o particular e universal coexistem em boa harmonia. Cativante, de leitura agradável e com várias passagens realmente marcantes, uma boa descoberta... e uma boa leitura.

Título: Ratos & Gatos
Autor: Gleidston César
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Sangue Inocente (James Rollins e Rebecca Cantrell)

O Evangelho de Sangue foi encontrado. Mas o que parecia ser o derradeiro objectivo é afinal apenas o início de uma demanda maior. Agora, Rhun Korza está desaparecido. Há dúvidas sobre a identidade da Mulher Sábia. Cadáveres começam a surgir na cidade de Roma e, inesperadamente, Erin Granger, que parece ter sido afastada de todo o mistério, é atacada por um blasphemare. É preciso que a trindade da profecia volte a reunir-se e retome a sua missão, indo em busca do Primeiro Anjo. Mas os problemas nessa demanda não são poucos, pois, além de não haver certezas sobre a identidade do Primeiro Anjo, há nas sombras um inimigo poderoso - à espera de desencadear o fim dos tempos.
Dando continuidade aos acontecimentos do volume anterior, e expandindo-os numa intriga cada vez mais complexa de traições e mistérios, uma das primeiras coisas a sobressair neste livro é a notável evolução em termos de impacto. Talvez por as personagens já serem familiares, mas também pela maior intensidade dos picos emocionais ao longo do enredo, este é um livro que junta à envolvência do mistério e a tensão de um perigo constante um cada vez mais impacto emocional no que diz respeito ao que acontece às personagens. E é isso que faz com que, depois de um início promissor com O Evangelho do Sangue, este segundo volume supere todas as expectativas.
Parte do que confere à história esta nova intensidade é a conjugação de novas e antigas personagens, bem como de novos elementos com pistas e mistérios já revelados. À existência dos sanguinistas e seus preceitos junta-se agora uma visão bastante mais ampla de quem são os seus inimigos e do que os move. Mas, mais do que isso, no seio da própria Ordem dos Sanguinistas há motivações diversas e interesses em colisão. Ora, isto faz com que a tal teia de intrigas se torne cada vez mais complexa e fascinante, abrindo caminho a muitas surpresas, grandes revoluções e algumas pistas sobre o que ainda fica por dizer.
Mas, mais uma vez, é importante falar sobre as personagens e os seus dilemas interiores. Nem sempre é fácil gostar de todas elas, havendo em Bernard e Jordan algumas questões de empatia a ter em conta. Mas, quanto a Bernard, a impressão que fica é a de que mais haverá para contar. E quanto a Jordan, chega-se a um ponto em que é preciso aceitar a personagem tal como ela é - tão forte e corajosa como falível nas suas emoções humanas. Por outro lado, ao cada vez mais fascinante Rhun Korza, cuja natureza atormentada ganha clareza a cada nova recordação, juntam-se outras personagens igualmente complexas e marcantes, como a misteriosa Elizabeth, o inocente Tommy e o indecifrável Judas. À sua maneira, todas estas personagens deixam a sua marca. E, num livro em que a acção é uma constante, criam momentos tão surpreendentemente emotivos que dão toda uma nova vida à narrativa. 
Da soma de tudo isto, surge um resultado claro: um segundo volume que eleva e transcende as premissas do primeiro, tornando a história mais intensa, as personagens mais marcantes e o futuro... ainda mais promissor. São, pois, as melhores as expectativas para a conclusão desta trilogia. Que, neste livro, atinge um novo máximo. Muito bom. 

Título: Sangue Inocente
Autores: James Rollins e Rebecca Cantrell
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O Livro das Coisas Boas (Marta Spínola)

O tempo passa. As coisas acontecem. As memórias ficam. E a verdade é que, por vezes, a tendência é para que sejam as coisas más as que ficam na memória durante muito, muito tempo. Então porque não guardar as coisas boas, escrevê-las, desenhá-las, fotografá-las para que fiquem para a posteridade? É esse o objectivo deste livro, tendo em conta que coisas boas não têm de ser apenas as grandes aventuras ou o dia mais feliz das nossas vidas, mas também as pequenas coisas: o filme que nos fez sorrir, o livro que nos comoveu, aquele elogio simpático que nos fez corar. Também isso importa. E também isso vale a pena guardar.
Uma das coisas mais interessantes destes livros criativos é, desde logo, o conceito de um livro que não só desafia o leitor a olhar para dentro de si mesmo, mas também a criar. E, se é verdade que, para quem é picuinhas com os livros (como eu) a ideia de profanar um objecto tão lindo com a minha letra pavorosa pode ser um tanto ou quanto... aterradora... também o é que basta passar algumas páginas para que venham à cabeça essas tais memórias que merecem se guardadas. Portanto, não, ainda não preenchi o livro. Mas bastou um primeiro olhar para despertar a recordação das tais coisas boas.
Outro aspecto que chama logo a atenção é o factor visual, em que as imagens se ajustam na perfeição às várias categorias enumeradas no livro, contribuindo também para alimentar a inspiração. E assim, além de um livro diferente, trata-se também de um livro bonito, o que acrescenta ainda um pouco mais à magia do conceito.
E depois há os pequenos textos a apresentar cada categoria. Sim, é provável que o mais importante seja o que quem o preenche tem para recordar. Mas há, naquelas curtas palavrinhas, uma certa insinuação de liberdade, quase como que uma compreensão sem reservas, que, além de inspirar, incentiva, pois realça o carácter pessoal e intransmissível das memórias. E assim, retira-lhe todos os julgamentos.
A soma de tudo isto é, pois, um desafio à criatividade - e, acima de tudo, à memória. Memória das coisas que nos fazem sonhar, das que nos fazem sorrir, das que nos fazem felizes. E é isso que tanto cativa para este Livro das Coisas Boas - um livro bonito, divertido, desafiante e que podemos tornar nosso. Para folhear, para ler... e, sim, para preencher. Recomendo. 

Título: O Livro das Coisas Boas
Autor: Marta Spínola
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A Viagem da Mente (B. P.)

Stuart está habituado a questionar tudo, a divagar por todas as possibilidades que se lhe apresentam. Mas está longe de imaginar a aventura que tem pela frente. Tudo começa quando Marla, habitante de um misterioso planeta, lhe aparece em casa a convidá-lo para uma viagem na sua nave. Fascinado pela sua existência, Stuart aceita sem hesitar e essa viagem leva-o a conhecer lugares de grande beleza - e grande horror. Há, contudo, algo que não bate certo. Tudo parece mudar sem explicação. E, quando perceber o que realmente está a acontecer, Stuart terá uma difícil decisão a tomar.
Bastante curto e com uma base bastante simples, este é um livro com uns quantos pontos fortes e algumas fragilidades, que se conjugam num equilíbrio ambíguo. Ambíguo porque, nalguns aspectos, surpreende pela positiva, enquanto que noutros fica a faltar algo mais. Mas vamos por partes.
O grande ponto positivo é a história propriamente dita. A viagem de Stuart pelos planetas, a explicação do que lhe está a acontecer, as próprias interacções com as outras personagens... em tudo isto há bastante potencial. E falo em potencial porque a verdade é que fica a ideia de que a história podia ser muito mais desenvolvida. Sendo certo que não deixa de cativar tal como é, ficam várias perguntas em aberto e a sensação de que muito mais haveria a explorar na narrativa. A caracterização dos planetas, os momentos de perigo, a própria situação que levou o protagonista ao ponto onde está. A ideia geral é clara. O potencial é bastante. Mas haveria mais a dizer.
Outro ponto forte é a mensagem positiva subjacente à história. Há, na visão de Stuart, uma linha muito clara entre o bem e o mal. E, se é certo que, na realidade, essa linha não é assim tão evidente, não deixa de ser cativante encontrar nas imagens deste mundo uma metáfora para a importância de fazer o que está certo. Mais uma vez, talvez houvesse mais a dizer sobre o assunto. Ainda assim, o essencial está lá.
Quanto aos pontos fracos, um deles é o que já referi: a sensação de que tudo acontece demasiado depressa, deixando coisas por dizer, aspectos por desenvolver. A história é interessante, sim, mas podia sê-lo ainda mais se todo esse potencial fosse mais explorado. O outro ponto tem a ver com algum descuido na revisão do texto, o que faz com que haja várias gralhas e erros recorrentes a quebrar o ritmo da leitura. 
A impressão que fica é, por isso, ambígua. Por um lado, uma ideia repleta de potencial, por outro, a sensação de que mais havia a fazer em termos de concretização. Mas, sendo um primeiro livro, sente-se também uma certa margem para evoluir. E, assim sendo, a ideia que fica é a de uma estreia com algumas fragilidades - mas interessante, ainda assim. 

Título: A Viagem da Mente
Autor: B. P.
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Todos Iguais, Poucos Diferentes (Morais de Carvalho)

Há muito tempo que sabe ser diferente e, por isso, vive uma vida bastante isolada. Mas também muito calma. Tendo como única amiga a velha vizinha, ele passa os dias a deambular, visitando os jardins para dar de comer ao gato que por lá anda e observando um mundo em que a normalidade é um fardo. Em tempos, chamaram-lhe anormal e esse peso ficou com ele a vida inteira. Mas eis que algo lhe desperta a curiosidade: uma mulher que parece ter uma vida perfeita e que, porém, é intensamente infeliz. Sente-se atraído pelo que julga ter em comum com ela. Mas não sabe que será essa mulher o seu ponto de viragem, rumo a uma verdade impossível de ignorar.
Não é muito fácil falar sobre este livro sem revelar demasiado da história, até porque o final lança uma nova luz sobre todos os acontecimentos anteriores. Mas o impacto desta revelação final já diz muito sobre o livro: uma história com bastante de estranheza e o que parecem ser algumas pequenas incongruências, que ganham um novo sentido com o desvendar da verdade. História de um homem que se sente diferente, que se sabe diferente, e que, através dessa mesma diferença, lança todo um novo olhar sobre a normalidade.
Narrado na primeira pessoa e centrado no que distancia o protagonista do resto do mundo, é um livro em que domina a introspecção. Mas é interessante notar que, apesar deste mergulho nas profundezas do pensamento do protagonista (com o qual é fácil, por vezes, concordar, e noutras discordar), o ritmo da narrativa nunca se torna demasiado denso. Há um mistério em torno do protagonista, bem como da mulher que ele tanto observa. E esse mistério mantém sempre viva a vontade de saber mais, de descobrir a verdade, de questionar as verdadeiras raízes da diferença. E essas, quando reveladas, mas também quando apenas insinuadas, despertam sentimentos bastante impressionantes.
Com pouco mais de 140 páginas, é um livro bastante breve. Mas, se tivermos em conta a história e a forma como tudo se desenrola, entrelaçando em medidas iguais pensamentos e acontecimentos, a verdade é que tudo parece ter a medida certa. E este equilíbrio torna-se ainda mais importante se se tiver em conta que grande parte do enredo se tece na fina linha que separa a realidade da alucinação.
A soma de tudo isto é, claro, uma muito boa surpresa. Um livro que se lê rapidamente, mas que se entranha na memória bem depois de terminada a leitura, e que, no seu olhar sobre a diferença, questiona o próprio conceito da normalidade que rege (ou não) a vida de cada um. Muito interessante, muito bonito... e muito bom. 

Título: Todos Iguais, Poucos Diferentes
Autora: Morais de Carvalho
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os Espiões do Papa (Mark Riebling)

Ficou para a história como "o papa de Hitler" pelo seu silêncio prolongado relativamente às atrocidades cometidas pelo regime nazi. Mas a história nunca é assim tão linear e se, na sua vida pública, Pio XII manteve, de facto, o silêncio durante a guerra, com excepção de alguns vagos protestos, já a acção clandestina foi bastante mais ampla. Em contacto com elementos da resistência alemã, terá desempenhado o papel de mediador para a paz, estando inclusive a par de várias tentativas de eliminar Hitler. E é desses contactos e das conspirações subjacentes que trata este livro.
Debruçando-se sobre um tema complexo e explorando-o através da história dos seus vários intervenientes, este é um livro que é também, inevitavelmente, complexo e, assim sendo, exige tempo e concentração intensa para assimilar todos os pormenores apresentados. Mas é também uma leitura cativantes, pois, acompanhando o percurso dos diversos intervenientes, adquire quase que a estrutura de um romance (ainda que de um romance particularmente descritivo). Claro que a vasta teia de intrigas que é traçada neste livro, bem como a complexidade do próprio contexto, exigem um amplo conjunto de nomes, datas e informações que requerem bastante atenção para assimilar. Ainda assim, a leitura nunca se torna demasiado pesada, o que, num livro como este, é sempre, à partida, um ponto forte.
Outro aspecto que pode despertar sentimentos ambíguos é o facto de o foco estar essencialmente sobre o Vaticano e a resistência Alemã, deixando para segundo plano (ainda que o essencial seja, de facto referido) as movimentações dos Aliados e também dos outros países do Eixo. Sobre estes, fica por isso a impressão de que mais haveria a dizer. Por outro lado, também é certo que muitas outras obras há sobre este tema e que, ao centrar-se, acima de tudo, nas relações entre Pio XII e a chamada Alemanha Decente, torna-se mais fácil a percepção do secretismo destas ligações e da importância do que estava em jogo.
Ainda um outro ponto que importa referir, e provavelmente o mais impressionante neste livro, é a capacidade do autor de apresentar tanta informação pertinente, tantos pormenores, ao mesmo tempo que nos conta uma história que, por vezes, quase se torna pessoal. A figura de Müller, com o seu tão importante papel na conjura, torna-se tão fascinante à luz daquilo que sobre ele é dito que quase se sente a tensão, o perigo, a agonia das suas circunstâncias. 
É isso, no fim, que fica na memória: a capacidade do autor de lembrar a quem o lê que estes factos são mais do que estatísticas no relato de uma guerra. São vidas, são pessoas, com princípios e valores. E a forma como o autor descreve tudo isto, realçando a humanidade dos intervenientes e o valor da causa sem perder de vista a realidade pura e dura é mais do que suficiente para fazer com que este livro valha a pena.
Esclarecedor, bem estruturado e muitíssimo interessante, trata-se, pois, de um livro com muito para revelar. Não, não é uma leitura compulsiva. Mas vale cada momento que lhe seja dedicado. 

Autor: Mark Riebling
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Os Espiões do Papa, clique aqui.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

No Reino de Gorjuss - Seis Histórias de Encantar (Santoro)

Aproximam-se dias de frio e chuva, com o Inverno a aproximar-se, e nada sabe tão bem como ficar em casa a ler uma boa história.E há histórias que perduraram através dos tempos, em múltiplas versões, mas com um ponto em comum: fizeram sonhar gerações de leitores. Branca de Neve, a Pequena Sereia, Polegarzinha... histórias de encantar que continuam a encantar. E é dessas histórias que é feito este livro.
Deixem-me começar por dizer isto: antes deste livro me vir parar as mãos, não fazia a mínima ideia da existência da Gorjuss. E importa dizer isto porque a verdade é que este desconhecimento não me impediu de ficar encantada com este livro. Visualmente falando, é uma pequena maravilha. Cheio de cor, com imagens lindas, muito dourado e um equilíbrio perfeito entre o texto e as imagens, este livro é todo um objecto de beleza. Basta um olhar para chamar a atenção e despertar a curiosidade para explorar o interior. E se é verdade que as histórias que contém são mais que conhecidas, também o é que nunca deixa de ser um prazer voltar a estes contos de encantar. 
Mas falemos das histórias. Nenhuma delas é propriamente nova e todas passaram por várias versões diferentes. Mas o facto é que são sobejamente conhecidas. E, neste livro, contadas de forma simples, mas cativante, e complementadas por um conjunto de imagens muito bonitas, proporcionam o regresso perfeito ao tempo em que as ouvimos ou lemos pela primeira vez. Além disso, para quem conhecer várias versões destes contos de fadas, há sempre aquela vontade adicional de saber qual delas vamos encontrar aqui.
Não há muito mais que se possa dizer sobre este livro sem lhe estragar a magia da descoberta. Por isso, fica, acima de tudo, esta ideia: a de um livro lindo por fora e por dentro, capaz de despertar toda a ternura de um regresso à inocência... e de encantar, sempre. Vale, pois, muito a pena conhecer esta pequena e adorável maravilha. Que recomendo, naturalmente. 

Título: No Reino de Gorjuss - Seis Histórias de Encantar
Autores: Santoro
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Evangelho de Sangue (James Rollins e Rebecca Cantrell)

Massada. Um terramoto liberta uma estranha nuvem de fumo que mata dezenas de pessoas, deixando um único sobrevivente e revelando um túmulo nas profundezas da montanha. Para o explorar, uma arqueóloga é arrancada à sua escavação, uma equipa de soldados americanos é chamada à pressa e um enigmático padre chega ao local em representação do Vaticano. Há história para descobrir naquele local, isso é certo. Mas o que nenhum deles sabe é que, na base dessa história, há um segredo muito antigo. Naquele túmulo, foi em tempos selado um evangelho, escrito pelo punho do próprio Cristo e capaz de conferir poder a quem o encontrar. E há forças poderosas há sua procura - nem todas humanas. O que começa por ser apenas uma investigação algo invulgar cedo se transforma numa questão de vida ou morte. Caberá ao padre Korza, ao sargento Stone e à professora Granger encontrar um caminho para a esperança no meio do caos.
Imaginem uma fusão entre o Código Da Vinci e A Rainha dos Malditos. Difícil, não é? À primeira vista, são livros de géneros completamente diferentes. Mas um dos grandes pontos fortes deste livro é precisamente a forma como estas duas facetas tão distintas parecem conjugar-se na perfeição. Sim, é um thriller histórico, com ordens secretas e artefactos antigos - e, sim, também é um livro de vampiros. E a verdade é que estes dois aspectos se complementam num equilíbrio tão delicado como fascinante. 
Um dos aspectos mais intrigantes na construção desta história tem a ver com o mistério em torno dos strigoi e da Ordem dos Sanguinistas. Por um lado, o factor religioso cria uma aura sobrenatural bastante diferente da que espera, à partida, dos vampiros. Por outro, é possível reconhecer nas características dos sanguinistas (e de Rhun Korza em particular) algumas influências dos livros de Anne Rice: a personalidade atormentada, a forma de lidar com o peso dos séculos, as alterações sofridas pelos sanguinistas com o passar do tempo. Tudo isto é cativante, acrescentando uma nova aura de mistério ao enredo. Além disso, o contraste entre factos históricos e elementos sobrenaturais torna-se particularmente forte tendo em conta as posições da professora Granger.
Num enredo que, apesar de bastante extenso, decorre no espaço de poucos dias, é inevitável que haja sempre algo a acontecer e, apesar das necessárias descrições que tornam o ritmo mais pausado, a história nunca perde a envolvência. Mas é da natureza das personagens, ainda assim, que surgem os melhores momentos - e as maiores vulnerabilidades. Dos segredos de Rhun Korza, e da sua sempre fascinante natureza atormentada e misteriosa. De Erin Granger, com a sua luta entre lógica e fé. E de Jordan Stone, cujo instinto protector se eleva, por vezes, acima de tudo o resto. Cativantes nos melhores momentos, não deixam, ainda assim, de revelar as suas falhas e, por isso, nem sempre é fácil sentir empatia. Mas se, por um lado, Jordan sobressai pelo carisma, revelando depois a faceta ligeiramente irritante que cria uma certa distância, já Korza, com o seu tormento interior, cresce em força e fascínio a cada nova revelação.
Ficam, é claro, perguntas em aberto, ou não fosse este o primeiro volume de uma trilogia. Mas, com a sua teia de mistérios, as suas personagens intrigantes e o inesperado, mas muitíssimo interessante, cruzamento entre histórico e sobrenatural, a impressão que fica deste O Evangelho de Sangue não poderia ser outra que não a de um início bastante promissor. E que cria grandes expectativas para os volumes seguintes.

Título: O Evangelho de Sangue
Autores: James Rollins e Rebecca Cantrell
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Aprenda Alemão em 7 Dias (Ramón Campayo)

Aprender um idioma em apenas 7 dias, ou melhor, 7 horas de estudo divididas no espaço de uma semana: é esta a premissa deste livro. O método assenta na memorização de vocabulário através de associações de ideias, assimilando as palavras e as regras gramaticais de uma forma gradual e natural. Mas 7 dias apenas: será possível?
Uma das coisas que importa dizer antes de mais nada é que, nesta primeira leitura, não segui o método à risca. Como o próprio autor diz, é preciso conhecer o método antes de o aplicar e foi precisamente para isso que serviu esta leitura inicial. Ainda assim, ler o livro de ponta a ponta basta para fixar ideias base e inclusive algumas palavras. O que é, desde logo, um bom ponto de partida para a exequibilidade do método.
Mas falemos do método, que é, afinal, o que importa. Assente na ideia da memorização através de associações mais ou menos peculiares, exige, à partida, uma memória razoável. Será possível memorizar tantos vocábulos e regras gramaticais em apenas sete dias? Talvez, se se tiver uma memória muito boa. Mas e se não forem sete, mas um pouco mais? Ou se se usarem esses sete dias para reter o mais importante, guardando o resto para uma segunda volta ao manual ou para outros meios de aprendizagem complementares? Bem, aí torna-se mais fácil. E, assim sendo, a ideia que fica é, acima de tudo, a de um bom ponto de partida para a aprendizagem. E isso basta para ficar com a sensação de um objectivo cumprido.
Ainda um outro ponto que importa referir é a forma como o livro está organizado. Para quem praticamente não sabe uma palavra de alemão (como é o meu caso) importa seguir o método do início ao fim, mas, caso se pretenda relembrar ou reforçar uma parte em específico, o livro é muito fácil de consultar. Seria interessante, no caso das tabelas de vocabulário, uma organização mais específica (por ordem alfabética, talvez). Ainda assim, a divisão por substantivos, verbos, adjectivos, etc., funciona bem tendo em conta a estrutura do método em si. 
Se fiquei a saber falar alemão depois desta primeira leitura? Não propriamente. Se retive alguma coisa? Sim. E é precisamente por isso que a ideia que fica é a de que, seguindo o método de ponta a ponta, é possível aprender bastante com este livro. E, se não for em sete dias, que sejam mais. 

Título: Aprenda Alemão em 7 Dias
Autor: Ramón Campayo
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Presença

Stephenie Meyer
Colecção: Grandes Narrativas no 647
Tema: Ficção e Literatura
Título Original: The Chemist
Tradução: Maria de Almeida, Cristina Carvalho e Fátima Andrade
PVP s/ IVA: 20,66 € PVP c/ IVA: 21,90 €
ISBN: 978-972-23-5923-8 
Páginas: 544

Neste thriller empolgante, uma ex-funcionária perseguida pela agência governamental para a qual trabalhava tem de executar uma última missão para limpar o seu nome e salvar a sua vida.
Ela trabalhava para o governo dos EUA, mas poucos sabiam disso. Considerada uma especialista, era um dos elementos mais ocultos de uma agência tão secreta que nem sequer tem nome. Quando entenderam que a sua ex-funcionária os punha em perigo, tomaram de imediato a decisão de a perseguir.
Agora, ela tem de mudar constantemente de lugar e de identidade. Os seus perseguidores mataram a única pessoa em quem confiava, mas as informações secretas que guarda são uma ameaça. Querem eliminá-la, o mais rapidamente possível.
Quando o seu antigo supervisor lhe propõe uma alternativa para sair desta situação, ela crê estar perante a única oportunidade de escapar. Para tal, terá de aceitar uma última missão para a agência. Infelizmente, cedo compreende que as informações que lhe foram transmitidas a colocam numa situação ainda mais perigosa.
Decidida a lutar, prepara-se para o confronto mais difícil da sua vida, mas dá por si apaixonada por um homem que apenas complica as suas possibilidades de sobrevivência. À medida que essas possibilidades escasseiam , vê -se obrigada a usar os seus talentos únicos de formas que nunca imaginou.
Neste romance de tensão permanente, Stephenie Meyer criou uma nova heroína determinada, fascinante e com talentos únicos, demonstrando mais uma vez o que a leva a ser uma das autoras mais admiradas da actualidade.

Stephenie Meyer licenciou-se em Literatura Inglesa pela Brigham Young University. A série internacionalmente aclamada Twilight - Crepúsculo, de que é autora, já vendeu mais de 155 milhões de exemplares em todo o mundo. Em 2008 publicou Nómada, o seu primeiro romance de ficção para adultos, que chegou desde logo ao primeiro lugar da lista de bestsellers do New York Times e do Wall Street Journal, tendo sido adaptado ao cinema em 2013. Stephenie Meyer vive no Arizona com o marido e os três filhos. 

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Água do Meu Coração (Charles Martin)

Charlie nunca teve uma vida fácil e, apesar de, por entre as dificuldades, ter conseguido licenciar-se em Harvard e conseguir um lugar numa grande empresa, as reviravoltas da vida acabaram com ele no papel de traficante de droga. Envolvido em negócios duvidosos, nunca teve grandes escrúpulos, porque sempre se sentiu como uma torre isolada. Mas, numa noite, tudo muda, quando a filha do seu sócio é atacada e o irmão dela, responsável pelo sucedido, foge para parte incerta. Charlie sabe que também tem culpas, ainda que indirectamente, e por isso, o mínimo que pode fazer é ir à procura de Zaul. O que não sabe é que a sua viagem o levará direitinho ao passado - e à descoberta de que, para lá da indiferença, reside o amor... e a redenção.
Traço central na história deste livro e, sem dúvida alguma, a maior das suas forças, é na história de Charlie rumo à redenção que está a verdadeira alma deste livro. Charlie, que, nos primeiros capítulos, surge como um espertalhão sem escrúpulos, mas em que, desde logo, as sombras que o perseguem despertam alguma simpatia. E que cresce, que evolui, que se redime - pois é esta à palavra-chave - com o desenrolar dos acontecimentos. Sim, Charlie é um homem imperfeito. Sim, é difícil justificar parte das suas acções. Mas é humano, é vulnerável, tem um fundo bom... e isso, a capacidade de construir uma personagem que está longe de ser admirável, mas que, ainda assim, desperta sentimentos fortes, é o que de mais fantástico à neste livro.
Claro que nem só de Charlie vive a história, ainda que o seu percurso - e o desvendar dos seus verdadeiros sentimentos - sejam o que esta tem de mais marcante. Há as outras personagens, algumas igualmente carismáticas, e a forma como os seus caminhos se cruzam. E há o cenário, claro, todo feito de contrastes entre pobreza e privilégio, entre ambição e necessidade... e, de certa forma, entre o que se tem e o que se é. Tudo isto é relevante. Tudo isto torna a história mais intensa. Tudo isto comove e faz pensar.
E depois há a escrita. Descritiva quanto baste, confere ao enredo um ritmo relativamente pausado, mas que vai crescendo em intensidade a cada nova revelação. Além disso, ao narrar a história de Charlie na primeira pessoa, o autor cria uma maior proximidade, pois, nos sentimentos e pensamentos do protagonista, a natureza dos seus demónios interiores torna-se mais nítida e mais próxima. Também isso é parte do que impressiona nesta história.
O que fica, pois, deste Água do Meu Coração? Ficam emoções fortes, numa narrativa intensa, com um protagonista complexo e carismático e uma muito marcante história de redenção. Tudo isto num equilíbrio quase perfeito, sempre cativante e com momentos comoventes. Somando tudo isto, o resultado não podia ser outra coisa, senão muito bom.

Autor: Charles Martin
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Poptropica 2 - A Expedição Perdida (Mitch Krpata e Kory Merritt)

Por causa do maléfico Octavian, Mya, Oliver e Jorge foram parar a Poptropica, um mistério arquipélago onde é possível viajar não só no espaço, mas também no tempo. Agora, precisam de descobrir o caminho para casa e a única ferramenta que têm à disposição é um mapa que não sabem muito bem como funciona. Entretanto, e como se não bastasse terem Octavian atrás deles para recuperar o mapa, parece haver uma espécie de sociedade secreta que também lhes quer deitar as mãos. Encontrar o caminho de volta parece cada vez mais difícil - principalmente quando os três amigos começam a sentir a tentação de explorar.
Dando continuidade à história iniciada em O Mistério do Mapa, história essa que não termina por aqui, este segundo volume tem muito em comum com o anterior. Em termos visuais, é muito semelhante, como seria de esperar, e também a própria história tem as mesmas características: simples, directo, sem grandes explicações e centrado no que as personagens andam a fazer.
Há, ainda assim, uma ideia de evolução neste segundo volume. Evolução na história, naturalmente, pois as personagens vivem agora novas aventuras, mas também no que parece ser um contexto geral. Há novas pistas sobre Octavian e o que procura, sobre a tal sociedade secreta que parece estar na base de tudo e, em consequência, também sobre qual poderá ser a natureza de Poptropica. Tudo isto é interessante e cativante, despertando muita curiosidade para o que poderá vir a seguir.
Mais uma vez, ficam perguntas em aberto. Aliás, o próprio final é uma grande pergunta em aberto. Mas, tendo em conta que a série não fica por aqui, faz todo o sentido que assim seja. E a grande ponta solta que é a forma como tudo termina deixa muita curiosidade em saber o que se segue.
A impressão que fica é, pois, em tudo semelhante à do primeiro livro. Um livro leve, envolvente, com momentos divertidos e uma história que, mesmo não sendo propriamente elaborada, nunca deixa de cativar. Uma boa leitura, portanto. 

Título: Poptropica 2 - A Expedição Perdida
Autores: Mitch Krpata e Kory Merritt
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Divulgação: Terceira Solidão, de Marta Cruz Machado

UM OLHAR SOBRE A SOLIDÃO NA TERCEIRA IDADE
Este livro fala-nos de uma realidade incontornável, a Terceira Idade.
A solidão e a tristeza, tantas vezes inerentes a esta faixa etária, são aqui substituídas pelo diálogo e pela partilha.
Para um idoso, ter alguém que lhe dê atenção tem muitas vezes um efeito terapêutico.
Conversar e partilhar são um bálsamo para quem está só.
Um livro intimista, com um desfecho muito emotivo, que nos leva à reflexão.

Marta Cruz Machado, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa, trabalha na Direcção Jurídica da Portugal Telecom.
Leccionou Língua Portuguesa durante dois anos e, por imposição do sistema vigente e consequente dificuldade de colocação, viu-se obrigada a deixar para trás o ensino.
Coordenou ao longo de 17 anos um projecto de cariz social que visa o acompanhamento de crianças carenciadas de bairros degradados. Após ter sido mãe pela segunda vez, ausentou-se do projecto para dar apoio à família.

Maratona de Halloween - balanço final


Pois é, acabou. Passou mais depressa do que esperava e o tempo acabou por não ser tanto quanto gostaria, o que significa que acabei por ler mais livros pequenos e não tanto os que tinha em mente inicialmente. Ainda assim, o resultado acabaram por ser 9 livros e 14 pontos, o que não foi assim tão mau. 

Fica a lista de leituras:

1. A Célebre Rã Saltadora do Condado de Calaveras /Rikki-Tikki-Tavi (Mark Twain/Rudyard Kipling) - 1 ponto
2. Como Vento Selvagem (Sveva Casati Modignani) - 1 ponto
3. A Seta do Tempo (Martin Amis) - 2 pontos (livro com a cor vermelha na capa)
4. Masha e o Urso: Vem aí o lobo!(O. Kuzovkov) - 1 ponto
5. Suspiro (Cleverson Garrett) - 1 ponto
6. Nujeen (Nujeen Mustafa e Christina Lamb) - 1 ponto
7. Ouro Preto (Sérgio Luís de Carvalho) - 3 pontos (livro de autor português)
8. Morre, Alex Cross (James Patterson) - 3 pontos(thriller/policial)
9. Cântico dos Cânticos/Manual de Civilidade para Meninas (Salomão/Pierre-Félix Louÿs) - 1 ponto

Como disse, não foi assim tão mau. Mas o mais importante é que foi uma experiência interessante - e que as leituras foram todas boas! :)

sábado, 5 de novembro de 2016

Cântico dos Cânticos / Manual de Civilidade para Meninas (Salomão / Pierre-Félix Louÿs)

Amor sagrado e amor obsceno, espiritual e carnal. Duas facetas do amor completamente opostas - mas talvez também complementares. E que melhor exemplo desse contraste que as duas obras que se conjugam neste Livro Amarelo? O Cântico dos Cânticos, mil vezes reinterpretado para servir a metáfora mais conveniente e, porém, explicitamente feito de amor - espiritual e carnal. E o Manual de Civilidade para Meninas, profano, blasfemo, por vezes incrivelmente obsceno... e, porém, analisando da forma mais crua a hipocrisia da sociedade da moral e dos bons costumes. Não podiam ser mais diferentes, provavelmente. E, contudo, o conjunto cria uma estranha harmonia...
Uma das características mais interessantes destes Livros Amarelos é a forma como, conjugando duas obras contrastantes, e associando-lhes depois alguns ensaios e notas bibliográficas, se constrói um todo que é mais que a soma das partes. Sim, cada obra é completa em si mesma, mas associando-lhe os textos complementares (neste caso, de Eugénia de Vasconcellos - responsável também por esta versão do Cântico dos Cânticos - e Manuel S. Fonseca) cria-se uma percepção mais vasta, mais completa do todo. Algo que, neste livro, se torna particularmente interessante, tendo em conta que há, para ambas as obras, interpretações possíveis para além do que o texto diz.
Mas passando às obras. O Cântico dos Cânticos dispensa apresentações. Poema de amor sagrado entre o amado e a amada, expressa esse amor em todas as suas facetas. Não é uma história, e contudo há algo a acontecer entre as suas figuras centrais. Não é (por mais interpretações nesse sentido que se lhe tenham dado) propriamente um texto de fé, e contudo há algo de sagrado nas suas palavras. É, sim, e acima de tudo, um texto de amor e na expressão desse amor há muita beleza e harmonia.
Quanto ao Manual de Civilidade para Meninas, é mais complexo de digerir. Conjunto de aforismos obscenos e, principalmente, irónicos, se se interpretar à letra, pouco mais parece do que um conjunto de estranhas blasfémias (principalmente se se tiver em conta a época em que foi escrito). Mas aqui importa ter em conta a interpretação referida por Manuel S. Fonseca: é que há mais no texto do que aquilo que se lê. Considerando a sociedade dos bons costumes, as estritas regras da etiqueta social e a necessidade de evitar o escândalo a todo o custo, pode ver-se cada um destes conselhos como uma estocada irónica na hipocrisia das tais regras sociais. Se isso torna a leitura mais fácil? Não propriamente. Ainda assim, tendo a concordar com esta interpretação.
E, mais uma vez, importa ainda realçar as peculiaridades da edição, que fazem deste novo Livro Amarelo uma pequena beleza em termos visuais. Invulgar em todos os aspectos, é um livro que cativa ao primeiro olhar, pois, com todas as suas peculiaridades visuais, rapidamente desperta curiosidade para o conteúdo. E este é também um dos pontos fortes deste livro - ou, melhor dizendo, da colecção de que faz parte.
O que chamar, então, a este livro senão um livro de contrastes? Contraste entre o sagrado e o obsceno, como já disse, o espiritual e o carnal. E, porque nunca é demais repetir, contraste - mas também complementaridade, formando um equilíbrio delicado. Equilíbrio que é o mais fascina - e faz com que valha a pena descobrir este livro. 

Título: Cântico dos Cânticos / Manual de Civilidade para Meninas
Autores: Salomão / Pierre-Félix Louÿs
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Morre, Alex Cross (James Patterson)

Tudo começa com o desaparecimento dos filhos do presidente. Acontece tudo muito depressa e, por mais rápida que seja a reacção de polícia e Serviços Secretos, quando dão pela falta de Zoe e Ethan, já é tarde demais para impedir o rapto. Em simultâneo, uma nova organização terrorista parece ter planos em grande para a destruição da América - planos de consequências mortais. Se as duas situações estão ligadas ou não, ninguém sabe ao certo. Mas há membros de todas as agências envolvidos no caso. E um deles é o detective Alex Cross, que, por mais indesejado que possa ser, não consegue ficar de lado num caso em que sente que a sua experiência pode ajudar. Mas não poderá essa mesma experiência - e a reputação que lhe conquistou - fazer dele um alvo a abater?
Chega-se a um ponto quando se leram vários livros do mesmo autor - e principalmente quando vários deles são da mesma série - onde não há muito de novo que se possa dizer sem estragar as surpresas da história. E, assim sendo, as características que importa destacar acabam por ser essencialmente as mesmas de sempre. A escrita directa, em capítulos curtos, doseando a informação na medida em que ela vai sendo necessária, confere ao enredo o habitual ritmo compulsivo, potenciando também o impacto das surpresas proporcionadas por cada nova revelação. E o próprio enredo, em que há sempre algo a acontecer, faz com que seja muito difícil largar a leitura.
Há, ainda assim, dois elementos que, não sendo propriamente exclusivos deste livro, importa, ainda assim, destacar. O primeiro é a conjugação de situações possivelmente pessoais (como as reacções de Alex à questão do rapto) com a vasta medida de caos associada aos actos de uma organização terrorista. Estes dois elementos conjugam-se, confundem-se, por vezes, levantando novas perguntas e possibilidades à medida novas pistas vão sendo reveladas. Além disso, a mudança de pontos de vista, passando da perspectiva pessoal de Alex para a visão de outros intervenientes (de ambos os lados do mistério) permite uma visão mais ampla do que está a acontecer. E isto é particularmente interessante se tivermos em conta que o melhor de Alex Cross se revela nas situações mais pessoais, mas que, ao conjugar as duas possibilidades, o protagonista acaba por estar sempre no seu máximo.
O que me leva ao outro ponto. Apesar de tudo o que passou em casos anteriores e contrariamente a muitas outras personagens do género, Alex não tem nada de disfuncional. Funciona, aliás, como um pilar de estabilidade no meio do caos, conseguindo manter um delicado equilíbrio entre a sua (um tanto invulgar) vida familiar e os casos de altíssima importância que sempre tem nas mãos. Sólido, seguro, com a cabeça e o coração no sítio certo - mas não infalível. E é precisamente isso, essa solidez em contraste com os momentos de vulnerabilidade, que o torna uma personagem tão fascinante.
Intenso, viciante, com uns leves toques de humor a acrescentar leveza à tensão crescente e um enredo cheio de reviravoltas do início ao fim, este é, pois, mais um livro que não desilude. E é por tudo isto (e mais que só lendo se descobre) que é sempre um prazer voltar à companhia do detective Alex Cross.

Título: Morre, Alex Cross
Autor: James Patterson
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Planeta

Dixon Mathews, um reputado psiquiatra de Nova Iorque, a duas semanas do casamento é traído pela noiva com o seu melhor amigo.
Para superar o desgosto sofrido, Dixon resolve não ter mais nenhuma relação séria e torna-se viciado em sexo. Assim pretende continuar, até que o destino lhe prega uma partida.
Duas mulheres cruzam-se no seu caminho. Juliet, deslumbrante, extrovertida, manipuladora e viciada em sexo. E Madison, inocente e frágil. A primeira atrai-o sexualmente. A segunda toca-lhe o coração. Dixon não é o melhor dos homens, e tem fraquezas, mas está confuso sobre quem deve escolher. Mas as escolhas óbvias nem sempre são as melhores.
Dixon vai descobrir o que de facto quer, mas os erros do passado, como sempre voltam para ensombrar o presente.

Francisco ao assumir a postura de uma nova filosofia do que deve ser a Igreja e o ser cristão, mudou no Vaticano paradigmas e antigos dogmas.
Este livro é a oportunidade de conhecer o seu pensamento e a doutrina que defende nesta quadra especial.
Calorosas e cativantes, aqui estão as palavras do Papa sobre o espírito e a importância da quadra natalícia. Nestas homilias e reflexões, Francisco convida os leitores a deterem-se diante de Jesus, a permitirem que o coração se transforme, a perderem o medo das lágrimas.
Para uma vivência plena da festa que celebra o nascimento de Cristo, o Sumo Pontífice exorta a que todos se deixem tocar por Deus, que penetra na alma humana com o toque do amor.
Porque este é o verdadeiro significado do Natal.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Divulgação: Novidade Porto Editora

Califórnia. Verão de 1969. Evie, uma adolescente insegura e solitária, avista um grupo de raparigas no parque e fica fascinada com a aura de abandono que as envolve: vestem-se de forma descuidada, andam descalças e parecem levar uma existência feliz à margem das convenções. Dias depois, Suzanne, uma das raparigas, convida Evie a acompanhá-la até às montanhas, ao rancho isolado onde vive numa comunidade organizada em torno de Russell, músico frustrado e líder carismático. Desesperada por ser aceite, Evie mergulha numa espiral de drogas e amor livre. Porém, à medida que se vai afastando da mãe e das rotinas da vida, e à medida que a sua obsessão por Suzanne se intensifica, Evie não se apercebe de que está a um passo de uma violência inimaginável, a caminho daquele momento na vida de uma rapariga em que uma simples escolha pode determinar o futuro. Um retrato excepcional da fragilidade adolescente, uma reflexão sobre as decisões que nos marcarão toda a vida e uma evocação daqueles anos de paz e amor em que germinava um lado obscuro...

Emma Cline nasceu em Sonoma, na Califórnia, em 1989. Trabalhou como leitora para o The New Yorker e tem publicado textos de ficção em revistas como Tin House ou a The Paris Review, que em 2014 a galardoou com o Plimpton Prize. As Raparigas, o seu primeiro romance, tem recebido uma grande aceitação internacional, tendo os direitos de tradução sido negociados já para 25 países, prevendo-se também uma adaptação cinematográfica pela mão do produtor Scott Rudin.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Divulgação: Novidades Livros do Brasil

Em 1959, a revista Life encarregou Ernest Hemingway de fazer a cobertura de um acontecimento extraordinário que ia ter lugar em Espanha, durante esse verão. Com efeito, estava previsto que aí se defrontassem, na arena, dois dos mais célebres toureiros de todos os tempos, Antonio Ordóñez e Luis Miguel Dominguín. Durante meses, Hemingway viveu junto destes carismáticos matadores, acompanhou os seus esplendorosos triunfos e as suas derrotas dolorosas. O livro que nasceu dessa encomenda, Verão Perigoso, é uma das obras de referência sobre a arte do toureio, mas é também o testemunho melancólico de um homem que, aos sessenta anos, sabe que se aproxima da morte e regressa a um palco que tanto o havia cativado na sua juventude.

Quando no rescaldo de um jantar de antigos alunos de Harvard o grupo se vê ensombrado por duas mortes e um desaparecimento, todos os olhos se viram para Paul Chapin, sujeito controverso, amigo das três vítimas, que fora nesses tempos de universidade seu companheiro na chamada Liga da Expiação – e que às suas mãos ficara severa e irreversivelmente magoado após uma partida infeliz.
Estará Chapin por fim a procurar vingança? Os membros da agora Liga dos Homens Assustados pedem a ajuda de Nero Wolfe, mas à medida que as mortes se sucedem o carismático detective intui que o rancor de Chapin está longe de ser a única ameaça que o grupo tem de enfrentar.

Divulgação: Convite


terça-feira, 1 de novembro de 2016

Ouro Preto (Sérgio Luís de Carvalho)

Vivem-se tempos de fausto. Graças ao ouro do Brasil, D. João V pode lançar-se em obras, ambições e sonhos de grandes relações religiosas... enquanto que outros permanecem na pobreza, cuidadosamente escondida pelo esplendor dos grandes momentos. É nesses tempos de glória, mas também de alguma insatisfação, que surge Pedro de Rates Henequim. No Brasil, ganhou conhecimentos que só ele consegue alcançar e acredita que a única coisa de que precisa para devolver às terras do Brasil o seu estatuto de paraíso terreno é, talvez, de um rei melhor. Mas, se querer roubar território ao rei é traição, as profecias de Pedro de Rates aproximam-se de heresia. E, quando se fazem inimigos em todos os lados, é difícil escapar as dificuldades...
Percorrendo três pontos de vista diferentes - o de Pedro de Rates Henequim, o de Alexandre de Gusmão e ainda as notícias da Gazeta de Lisboa - este é um livro que é tanto a história das suas personagens como o retrato da época em que se move. Por Pedro de Rates, preso nos Estaus e à espera da misericórdia do inquisidor-mor, ficamos a conhecer o percurso da sua vida e as suas ideias, mas também o modo de vida no Brasil do seu tempo. Por Alexandre de Gusmão, as ambições do rei, as intrigas de corte e as diferentes opiniões no seio desta. E pela Gazeta de Lisboa revelam-se pequenas coisas - sendo, contudo, mais o que não é dito, realçando-se assim a diferença entre o que o povo sabe e o que realmente acontece.
Ora, se estas três linhas da narrativa parecem, de início, não ter muito em comum, a teia da história vai-as aproximando. E é esta convergência gradual que, num livro que, graças à vasta descrição, não é propriamente de leitura compulsiva, confere à narrativa uma intensidade cada vez maior, que culmina num final não propriamente inesperado, mas, ainda assim, bastante impressionante. 
Ainda um outro aspecto que importa referir quanto a este livro (e é também um toque delicioso) é que, apesar de centrado nas cartas dos dois protagonistas, grande parte do enredo é narrado na terceira pessoa por um narrador não identificado. Narrador esse que não se coíbe de, nos momentos certos, fazer uns quantos comentários certeiros que não só conferem às coisas uma nova perspectiva como lhe dão o fino toque de ironia de quem, observando de longe, tem, ainda assim, opiniões muito claras sobre o que vê.
Mas voltando à descrição. Há, de facto, muito contexto histórico a assimilar ao longo deste livro, o que confere à narrativa um ritmo pausado. Mas é curioso que este ritmo mais lento não diminui em nada a envolvência da leitura. Porquê? Primeiro, pela tal voz cativante e inesperada que vai contando grande parte da história. E depois porque esse vasto contexto histórico é complementado pelos momentos de aproximação pessoal (principalmente nas cartas e acima de tudo nas de Pedro de Rates) em que há laivos de emoção a vir ao de cima. 
Interessante, envolvente e, nos momentos certos, surpreendente, trata-se, portanto, de um livro em que factos históricos e vivências individuais se conjugam num intrigante equilíbrio. E que, mesmo pedindo algum tempo para assimilar todos os pequenos pormenores, vale cada segundo do tempo nele empregue. Recomendo. 

Título: Ouro Preto
Autor: Sérgio Luís de Carvalho
Origem: Recebido para crítica