sexta-feira, 16 de junho de 2017

A Rapariga Mais Sortuda do Mundo (Jessica Knoll)

Ani FaNelli tem tudo o que sempre quis: um bom emprego, um noivo rico e uma vida cheia dos pequenos luxos a que sempre aspirou. Mas também tem um passado sombrio. E, agora que o casamento se aproxima, aproxima-se também a altura de revisitar o passado. Quando era adolescente e frequentava uma prestigiada escola privada, algo aconteceu que a assombraria para sempre, moldando todas as suas decisões. E agora há quem queira contar a sua versão dos factos - aquela que as vozes dos outros sempre fizeram calar. A história do que aconteceu em Bradley será finalmente contada. Mas isso trar-lhe-á paz ou apenas um novo caos?
Um dos aspectos mais curiosos neste livro - e, ao mesmo tempo, uma das suas forças e o principal ponto fraco - é a forma como, sem que nenhuma das personagens seja propriamente do género que desperta empatia, a história consegue, ainda assim, tocar todos os pontos relevantes. Não há ninguém de entre as personagens mais relevantes sobre quem se possa dizer que é "boa pessoa" e, contudo, aquilo que vivem, as experiências e provações por que passam e a forma como o passado se estende para lá do tempo não deixam, ainda assim, de realçar a relevância das questões abordadas. Daí ser uma força e uma fraqueza. Fraqueza, porque, ao não se simpatizar com nenhuma das personagens, fica uma inevitável sensação de distância. Força, porque realça o impacto de acontecimentos que abalam, independentemente de se gostar ou não da pessoa que os vive. 
Ora, não é fácil entender Ani FaNelli, com as suas aspirações sociais e a estranha predilecção pelo ter (ter a imagem perfeita, ter o que de melhor há no mercado, preencher todos os requisitos do que se entende como a vida ideal), mas, à medida que o seu passado é revelado, fica-se com uma opinião um pouco diferente da sua pessoa. Não, não atenua o efeito dos seus traços de personalidade. Mas, até certo ponto, justifica-os. E isto confere ao enredo uma nova intensidade, pois o que parecia ser a história de uma vida perfeita assume-se, gradualmente, como um retrato bastante mais negro de uma vida que não é, afinal, tão simples como aparentava ser.
Aos poucos, tudo começa a ganhar um novo sentido, e, numa história onde não há vidas perfeitas, e muito menos personagens perfeitas, as questões realmente relevantes começam a vir à superfície. E acaba por ser isso, acima de tudo, o que fica na memória: as experiências do passado da protagonista e a forma como lhe marcaram o presente, bem como a influência que isso viria a ter nas suas escolhas e relações com pessoas que não estavam preparadas para lidar com os factos. 
Não, não é fácil gostar das personagens. Mas, numa história como esta, em que há questões tão complexas na raiz do que parecia ser uma vida simples, não deixa de fazer sentido que as marcas do sucedido tenham moldado uma protagonista menos que perfeita. E isto, associado a um enredo surpreendente e a uma escrita que, a pouco e pouco, parece ajustar-se na perfeição à voz da protagonista, acaba por ser mais que o suficiente para fazer deste A Rapariga Mais Sortuda do Mundo uma história muito interessante. E uma boa leitura, claro. 

Autora: Jessica Knoll
Origem: Recebido para crítica

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