sábado, 3 de março de 2018

Brincar com a Morte (Simon Scarrow e Lee Francis)

A Agente Especial Rose Blake enfrentou um perigoso assassino em série e escapou com vida, mas a operação falhou. Koenig conseguiu fugir e continua à solta, pronto a voltar à acção assim que tiver oportunidade. Isto é algo que nem o passar dos meses conseguiu apagar da mente de Rose, por isso, quando é chamada ao local do que parece ser um mero (ainda que bizarro) incêndio doméstico, Rose agradece a distracção. Só que o que encontra está longe de ser um simples acidente e Rose não tardará a descobrir que há todo um mundo que desconhece nos meandros da internet e da inteligência artificial. Um mundo capaz de trazer também de volta o grande fantasma do seu passado.
Sendo Simon Scarrow um autor principalmente conhecido pelos seus romances históricos, uma das primeiras coisas a cativar para este livro é a muito agradável surpresa de o ver aventurar-se não só num registo diferente, mas também num cenário que se projecta um pouco para o futuro. As possibilidades sombrias da internet e o desenvolvimento de inteligências artificiais são um elemento crucial nesta história e a naturalidade com que estes aspectos são desenvolvidos atesta claramente a mestria da escrita dos autores. 
E, se este é já um ponto de partida promissor, as surpresas não ficam por aí e a verdade é que as qualidades deste livro são vastas. O enredo, que acompanha as perspectivas de várias personagens e, a espaços, um ou outro vislumbre do passado, tem uma intensidade irresistível em que mistérios dão lugar a novos mistérios e há sempre uma surpresa à espera ao virar da página. O perigo é uma constante e vem de onde menos se espera. O caso mistura-se com a história passada e com as dificuldades da vida pessoal num equilíbrio delicado que só contribui para tornar a leitura ainda mais viciante. E quanto ao desenvolvimento das personagens... bem, é basicamente perfeito.
Porque, sendo certo que a história vale por si mesma, com todas as reviravoltas e momentos de perigo e de tensão, é o desenvolvimento das personagens que eleva tudo a um outro nível. Rose, a agente determinada e de uma grande solidez moral que se vê confrontada com o seu fantasma e obrigada a tomar decisões difíceis. Koenig, o assassino em série implacável cujas marcas passadas conferem a tudo uma perspectiva mais complexa. Jeff, com a ambiguidade moral de uma vida familiar ensombrada por segredos. E Diva... bem, Diva é o enigma no coração do enredo.
É que este livro é mais do que a história de um crime e da perseguição do culpado. Há muitas questões relevantes - sobre segurança na era digital, sobre as possibilidades e perigos da inteligência artificial, mas também sobre os segredos que guardamos e a forma como traumas passados moldam a vida futura - ao longo da narrativa e isto faz também parte do que torna a leitura tão marcante. Ao perigo e à acção junta-se algo de mais profundo. E o melhor é que tudo indica que a história de Rose Blake não ficará por aqui. 
Mistério, intriga e uma poderosa mistura de eficiência e vulnerabilidade fazem, portanto, deste Brincar com a Morte um livro que fascina desde os primeiros capítulos e não deixa de impressionar até ao fim. Intenso, surpreendente e brilhantemente construído, uma leitura imperdível. E simplesmente genial. 

Autores: Simon Scarrow e Lee Francis
Origem: Recebido para crítica

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