quarta-feira, 14 de março de 2018

O Homem de Giz (C.J. Tudor)

Eram pouco mais que crianças quando tudo aconteceu e, passados trinta anos, Eddie Adams está convencido de que o passado ficou para trás e os segredos também. Mas, quando Mickey, em tempos um dos seus amigos mais chegados, volta a aparecer, com a ideia de escrever um livro sobre o que aconteceu naquele ano, tudo volta a surgir com a mesma nitidez. O acidente com o carrossel, a estranha presença do senhor Halloran, a comunicação com os amigos através de bonecos de giz... e depois as mortes inexplicáveis. As recordações são tão nítidas como sempre foram e continuam a assombrar-lhe os sonhos. Mas nem tudo são sonhos e o passado às vezes volta para desvendar, enfim, a verdade que antes ficou por revelar...
Surpreendente seria uma boa palavra para descrever este livro, que, alternando entre dois momentos diferentes e acompanhando o percurso de Eddie através de um amplo conjunto de segredos, consegue deixar um impacto a cada nova reviravolta do enredo. Mas, sendo como é uma história cheia de surpresas, não é só isso o que torna o livro surpreendente, pois também o próprio ambiente, misterioso, cheio de segredos, mas apresentado num tom de quase leveza, cria um contraste marcante entre a crueldade dos factos e a relativa inocência dos seus protagonistas.
Ora, tendo em conta que a história vive de mistérios e de revelações, é difícil falar das personagens e do que as caracteriza sem revelar demasiado, pois a percepção de quem são e do que os motiva vai-se alterando a cada revelação. Mas talvez baste isto para salientar a sua força: as possibilidades de adaptação, a forma como tudo ganha uma nova perspectiva a cada novo segredo revelado e a capacidade de ser alguém diferente consoante as circunstâncias em que se encontram. Para não falar, é claro, das grandes revelações finais, que acrescentam ainda uma nova perspectiva a tudo o que aconteceu anteriormente.
Há na forma como a história está construída uma fluidez viciante, em parte devido à tal impressão de leveza resultante de ver a história de um olhar aparentemente inocente e também devido ao facto de a contextualização ser feita mais por actos do que por palavras. E há também dois elementos suplementares a acrescentar um pouco mais de força a este enredo: primeiro, a forma como a autora entrelaça questões emocionais e, quiçá, éticas no meio de um enredo que é, afinal, essencialmente sobre mortes. E depois a escolha de um caminho alternativo à habitual convergência de pistas para uma resposta única. As respostas estão lá? Com certeza. Mas nem são as mais expectáveis, nem o caminho que a elas conduz é previsível.
Intenso, cativante, com uma fluidez notável e um enredo cheio de reviravoltas inesperadas, bastam algumas páginas para se ficar preso na leitura e as surpresas não deixam de chegar até ao fim. A impressão que fica é, portanto, a de uma excelente surpresa. E um livro que não posso deixar de recomendar. 

Título: O Homem de Giz
Autora: C.J. Tudor
Origem: Recebido para crítica

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