quinta-feira, 3 de maio de 2018

Jogos Cruéis (Angela Marsons)

Kim Stone acaba de resolver um caso que lhe mexeu particularmente com as emoções e não está plenamente convencida de que as coisas estejam tão claras como parecem. O que se segue, no entanto, parece ser bastante simples: o cadáver de um violador encontrado numa viela e a vítima que confessa o crime. Mas, mais uma vez, é tudo demasiado simples e, quando outras relações e possibilidades começam a surgir, o instinto de Kim começa também a manifestar-se. Nem o caso que todos julgavam encerrado tem já todas as respostas, nem o cadáver na viela é uma simples vingança. E, deste último caso, há nas sombras um adversário muito mais perigoso - principalmente para alguém com o passado de Kim Stone.
Uma das principais qualidades deste livro - e diga-se desde já que qualidades não lhe faltam - é a facilidade com que consegue transportar o leitor para dentro do enredo. Os capítulos curtos, a forma directa e precisa como acompanha as acções e motivações das diferentes personagens e o equilíbrio eficaz entre as várias facetas do enredo aliam-se a um núcleo de personagens fortes e cativantes para criar uma leitura simplesmente irresistível.
Num livro em que tudo converge para um equilíbrio perfeito, há, ainda assim, várias facetas a destacar. E a primeira é, naturalmente, a própria Kim Stone. Se já no livro anterior o carisma e a força das personagens era um ponto crucial para o impacto da história, este segundo livro da série eleva isso a todo um outro nível. Ao aprofundar mais o passado de Kim, revela vulnerabilidades e marcas que tornam mais fácil compreender o que a faz mover. Ao explorar as suas relações pessoais, além das profissionais, retrata uma personagem mais completa - e mais complexa - do que a simples figura de alguém que investiga um crime. E ao expandir também o universo das personagens que a rodeiam, misturando facetas pessoais e profissionais, relações de trabalho, de amizade e até... bem, mais delicadas do que isso, também o mundo por onde Kim se move se torna mais nítido e marcante.
E, sim, as personagens são a alma do livro, e isto não se aplica só a Kim, mas também (e especialmente) a Bryant, com o seu delicioso sentido de humor. Mas estas características sobressaem ainda mais por se manifestar num enredo cheio de intrigas e segredos e reviravoltas. Ambos os casos são marcantes à sua maneira. Ambos chocam. Ambos perturbam. E ambos assentam num muito eficaz crescendo de intensidade que resulta num final avassalador. Além, é claro, de abrirem uma janela para algumas das facetas mais sombrias da condição humana - o que não deixa de ser, ao mesmo tempo, fascinante e assustador.
Com um núcleo de personagens brilhantemente construídas e um enredo cheio de surpresas e de mistérios, trata-se, pois, de um livro que intriga desde as primeiras páginas e não deixa de surpreender até ao fim. Viciante, intenso, repleto de momentos marcantes e de personagens memoráveis, um livro impossível de largar. Brilhante.

Título: Jogos Cruéis
Autora: Angela Marsons
Origem: Recebido para crítica

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